A transição da América do Sul em direção às energias renováveis tem o potencial de impulsionar o progresso sustentável e abrir novas oportunidades econômicas e sociais.
Essa é a principal conclusão do relatório “Perspectivas Regionais para a Transição Energética na América do Sul” (Regional Energy Transition Outlook: South America), divulgado nesta segunda-feira (10) pela Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA), na Conferência das Nações Unidas sobre o Clima, a COP30, em Belém.
Em comunicado, a IRENA alerta que a região atualmente não consegue atrair investimentos suficientes para essa transição vital.
Em 2024, a América do Sul recebeu US$58 bilhões, o que representa uma fatia de apenas 2,5% do total global de US$2,4 trilhões investidos.
Para que a região alcance ambiciosas metas de descarbonização é necessário que o investimento em projetos e os gastos em bens para aplicações de uso final atinjam uma média de US$500 bilhões por ano até 2050.
Acelerar este caminho de descarbonização traria benefícios sociais e econômicos líquidos que superariam substancialmente os custos iniciais.
Segundo a IRENA, a região poderia ter um aumento adicional no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,1% ao ano no período de 2023 a 2050, em comparação com os planos atuais. Além disso, a transição criaria mais de 12 milhões de empregos no setor de energia.
Potencial e desafios da eletrificação Sul-Americana
O setor energético sul-americano já demonstra uma mudança decisiva em direção às energias renováveis. A região possui o potencial para gerar até 98,5% de sua eletricidade a partir de fontes renováveis até 2050.
Para atingir esse nível no Cenário de Descarbonização de Energia (DES), será necessário adicionar cerca de 55 GW de capacidade renovável a cada ano, o que é mais que o dobro do ritmo de adição de capacidade atual. A energia solar e a eólica são as fontes que lideram essa expansão.
Francesco La Camera, diretor-geral da IRENA, destacou que, até 2050, as energias renováveis poderiam abastecer quase toda a América do Sul, mas isso só será possível com conexões de rede mais fortes e grandes investimentos para eletrificar residências, transportes e indústrias.
A América do Sul é atualmente uma das regiões mais competitivas do mundo em geração de energia renovável em termos de custo.
Entre 2010 e 2024, o custo nivelado de eletricidade (LCOE) da solar fotovoltaica caiu de US$0,417 por kWh para US$ 0,043/kWh, e o da eólica terrestre caiu de US$0,113/kWh para US$ 0,034/kWh. Em 2024, a região registrou LCOEs médios de US$0,054/kWh para solar PV e US$0,036/kWh para eólica terrestre.
Ações chave e metas de transição
Para aproveitar as vantagens comparativas do continente, a IRENA propõe ações regionais focadas em energia, incluindo: melhorar a interconexão da rede; Integrar os mercados de eletricidade; elaborar estratégias de cadeia de suprimentos para energia solar e eólica; desenvolver de forma coordenada o hidrogênio verde e os biocombustíveis sustentáveis, além de agilizar estratégias direcionadas para industrialização verde e eficiência energética.
A transição energética da América do Sul, aponta a Irena, se beneficiará de uma estratégia híbrida, combinando eletrificação e o uso de biocombustíveis nos setores de uso final, como transporte e indústria.
A participação de energia renovável no consumo final total de energia (TFEC) aumentaria de cerca de um terço hoje para 40% em 2030 e mais de 80% em 2050.
No setor de transportes, a previsão é que, em 2050, mais de 75% da frota total de veículos seja composta por veículos elétricos a bateria (BEVs), com a participação da eletricidade no consumo final do setor chegando a 45%. No mesmo período, a produção de biocombustíveis líquidos deve mais que dobrar, atingindo cerca de 97 bilhões de litros (L) até 2050.
Infraestrutura e financiamento Crítico
Para gerenciar a variabilidade das fontes renováveis e manter a confiabilidade do sistema, serão necessários investimentos substanciais em armazenamento, capacidade de reserva e nova infraestrutura de rede. No período de 2025 a 2050, a estimativa é de uma exigência de US$ 4,2 trilhões em investimentos acumulados no sistema.
A IRENA aponta que o planejamento coordenado, o investimento em interconexões transfronteiriças e mercados regionais de serviços auxiliares podem reduzir a pressão sobre os sistemas domésticos.
Estratégias isoladas ou descentralizadas, ao contrário, aumentam os custos, enfraquecem a eficiência e elevam o risco de prolongar o uso de combustíveis fósseis.
Com urgência, para financiar a transição (US$13 trilhões necessários de 2025-2050), a indicação é fortalecer as finanças e a governança.
O custo de capital é uma barreira, e os valores do Custo Médio Ponderado de Capital (WACC) para alguns países da América do Sul em 2024 variaram entre 8% e mais de 15%. Mecanismos financeiros regionais inovadores podem ajudar a acessar financiamento de menor custo.
Ao fortalecer as cadeias de suprimentos locais e a manufatura de tecnologias limpas, a América do Sul não só se torna um refúgio seguro para investimentos verdes, mas também se posiciona para a industrialização verde, um passo essencial para o crescimento e a segurança energética, aponta o relatório da IRENA
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