Na América do Sul a disputa pela liderança na atração de data centers se concentra entre Brasil e Chile. Divulgado hoje, relatório do BTG Pactual mostra que os dois países reúnem condições privilegiadas para sediar grandes projetos, combinando energia renovável em abundância e conectividade internacional.
O Brasil, no entanto, desponta pela escala e pelo potencial de transformar excedentes de geração limpa em motor de desenvolvimento digital, enquanto o Chile aposta em um plano nacional ambicioso para triplicar a capacidade instalada até 2030.
O Brasil reúne ativos estratégicos, como energia abundante e renovável, com destaque para o Nordeste, onde até 20% da geração eólica e solar é desperdiçada por falta de demanda regional e transmissão. Conta também com rede elétrica mais estável e exigências regulatórias de qualidade mais rígida.
Essa combinação abre espaço para que investimentos de grande porte encontrem terreno favorável. O gargalo, segundo os analistas do banco, está no marco da MP 1.307.
A exigência de compra de energia de nova capacidade e o privilégio a zonas de exportação, são pontos enxergados como inadequados para atrair projetos de treinamento de IA, que priorizam energia disponível e barata.
A recomendação do BTG Pactual é para que o Brasil avance em regras de proteção de dados e também adote isenções tributárias amplas para equipamentos.
A conectividade, contudo, também é um diferencial importante. Fortaleza tornou-se o principal hub de cabos submarinos da América Latina, com 16 linhas internacionais responsáveis por 90% do tráfego de dados que entra e sai do país.
Hoje, o Brasil abriga cerca de 188 data centers, concentrados em São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará, com demanda energética estimada em 770 MW em 2025. A perspectiva é de expansão, já que a infraestrutura disponível pode reduzir restrições no setor elétrico e criar contratos de longo prazo, beneficiando companhias como Eletrobras, Engie, Copel, Cemig e Auren.
No panorama regional, o Chile também busca protagonismo com o lançamento do Plano Nacional de Data Centers (PDATA), que prevê triplicar a capacidade instalada até 2030 e atrair US$ 2,5 bilhões em investimentos. O país aposta em seus 62 mil km de rede de fibra, elevada penetração do 5G, e nos mais de 69 mil km de cabos submarinos que o conectam a diferentes continentes.
O desafio, porém, é aproveitar melhor a energia renovável excedente. Atualmente, 20% da geração solar e eólica é perdida por falta de demanda ou transmissão, o equivalente a manter desligada uma usina solar de 2 GW durante um ano inteiro. Ainda assim, gigantes como Google, Microsoft, AWS e Oracle já operam no mercado local, concentrado sobretudo em Santiago.
Tanto no Brasil quanto no Chile, a corrida global da IA abre uma janela de oportunidade rara. Segundo o relatório do BTG Pactual, se conseguirem ajustar seus marcos regulatórios e investir em transmissão e conectividade, os dois países poderão se consolidar como polos estratégicos para data centers na América do Sul — transformando excedentes de energia em motores de desenvolvimento digital.
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