[gtranslate]

Brasil surge como potência em energias renováveis ​​do G20

Sucesso se deve à robusta base hidrelétrica e expansão da solar, destaca Ember
7 minuto(s) de leitura
Brasil surge como potência em energias renováveis ​​do G20
Solar já ultrapassou 44 GW de potência instalada no Brasil, com mais de R$ 208,2 bilhões em investimentos. Imagem: Freepik

O Brasil é líder em energia renovável dentro do G20. No total, 89% da eletricidade do país veio de fontes limpas ​​em 2023, de longe a mais alta entre as economias do G20 e três vezes maior do que a média global de 30%. Enquanto isso, quase metade do G20 ficou abaixo da média mundial.

Segundo Kostantsa Rangelova, analista global de Eletricidade da Ember, o sucesso do Brasil em atingir uma parcela tão alta de renováveis ​​se deve principalmente à sua robusta base hidrelétrica e à rápida expansão da energia solar e eólica nos últimos anos

“A parcela da hidrelétrica flutuou de ano para ano na última década em meio a condições climáticas variáveis, ficando em 60% da eletricidade do Brasil em 2023, em comparação com 63% em média desde 2013. Enquanto isso, a parcela da eólica e solar tem crescido rapidamente nos últimos anos, atingindo 21% em 2023, um aumento substancial de quatro pontos percentuais em relação aos 17% em 2022 e a apenas 5,8% em 2016”, relatou.

De acordo com ela, o Brasil registrou o segundo maior aumento anual do mundo em geração eólica e solar em 2023 (+36 TWh), atrás apenas da China. “O crescimento da geração fotovoltaica do país tem sido particularmente impressionante”.

Aumentou em 72% de 30 TWh em 2022 para 52 TWh em 2023, fornecendo 7,3% da eletricidade do Brasil no ano passado. Os últimos dados mensais mostram um forte crescimento contínuo este ano: a geração solar de janeiro a maio de 2024 foi 68% maior do que nos mesmos meses de 2023”, apontou a especialista. 

Como resultado desse rápido crescimento de geração, a participação solar do Brasil cresceu além da de outros países do G20. Durante os 12 meses de março de 2023 a abril de 2024, a fonte fotovoltaica gerou 9,1% da eletricidade do Brasil, notavelmente maior do que a média do G20 (6,4%).

Gráfico: Ember/Reprodução
Gráfico: Ember/Reprodução
Gráfico: Ember/Reprodução

Brasil e maioria das economias do G20 já passaram do pico da energia fóssil

As emissões do setor elétrico do Brasil atingiram o pico em 2014, com 114 milhões de toneladas de CO2 (MtCO2). Em 2023, nove anos após o pico, as emissões estavam 38% abaixo dos níveis de 2014, em 70 MtCO2. Isso representa um declínio médio de 6,7% ao ano.

A maioria das economias do G20 – Brasil mais 11 outros membros – estão há pelo menos cinco anos além do pico de emissões do setor de energia. Coletivamente, elas representam 41% da geração de eletricidade do G20 em 2023.

“Com quedas rápidas nas emissões em muitos países do G20 e desaceleração no crescimento das emissões para o G20 como um todo, o mundo está se aproximando de uma nova era de queda nas emissões do setor energético”, previu Kostantsa.

“No entanto, as emissões do G20 ainda estão aumentando. Em 2023, as emissões do setor de energia atingiram um novo recorde de 11.881 MtCO2, alta de 1,2% em relação aos 11.742 MtCO2 em 2022”, exemplificou. 

Gráfico: Ember/Reprodução

Economias maduras no G20 já estão vendo progresso na descarbonização de seus setores de energia. Os membros da UE do G20 viram as maiores quedas de emissões em 2023, com a França (-22%) e a Alemanha (-19%) liderando o caminho, graças ao forte crescimento na geração eólica e solar e à queda na demanda por eletricidade. 

“O Canadá foi uma exceção, embora o pequeno aumento nas emissões visto em 2023 tenha sido devido a condições temporárias. A queda acentuada na energia hidrelétrica no país criou um déficit que foi parcialmente atendido pela maior geração fóssil, levando a um aumento nas emissões (+2%)”, relatou a analista da Ember. 

“Enquanto isso, economias emergentes – onde a demanda por eletricidade está crescendo rapidamente – ainda estão vendo emissões crescentes. Para esses países, a energia eólica e fotovoltaica oferecem uma oportunidade única de atender à sua crescente demanda, pois podem ser implementadas mais rapidamente do que qualquer outra fonte de eletricidade renovável e também são mais baratas do que combustíveis fósseis na maioria dos países, destacou. 

A China está perto de atingir o pico de suas emissões – graças ao rápido crescimento da energia eólica e fotovoltaica – o que seria uma virada de jogo, pois foi responsável por quase metade das emissões do G20 em 2023 e 39% das emissões globais.

O Brasil estabelece um exemplo convincente para outras economias emergentes. Apesar da demanda de eletricidade em rápido crescimento, o país conseguiu atender a esse aumento com fontes renováveis ​​– principalmente eólica e solar – na última década. 

“A hidrelétrica, que tem sido a espinha dorsal do setor de energia do Brasil, parou de crescer no início da década de 2010, levando a uma incursão de curta duração na energia a gás para atender ao crescimento da demanda por eletricidade. Isso levou a um aumento nas emissões do setor de energia. O recente boom eólico e solar tem revertido isso, consolidando a posição do Brasil como uma potência global em renováveis”, ressaltou Kostantsa Rangelova. 

Ao longo dos nove anos desde o pico de emissões do Brasil em 2014, a geração eólica e fotovoltaica aumentou em 135 TWh, 10% a mais do que a demanda total de eletricidade do país (+123 TWh), contribuindo assim para a queda da geração fóssil (-76 TWh). “O país possibilitou isso ao ser um dos primeiros a adotar a energia eólica e solar, com leilões para projetos começando em meados dos anos 2000 e introduzindo outras políticas de apoio, como a medição líquida”, afirmou. 

Conforme ela, o Brasil tem as menores emissões per capita no G20, título que detém há pelo menos duas décadas, exceto por ter sido brevemente tirado do primeiro lugar pela França em 2014. O crescimento das renováveis ​​no Brasil ajudou a reduzir rapidamente as emissões do seu setor de energia, do pico de 0,56 MtCO2 per capita em 2014 para 0,33 MtCO2 per capita em 2023. 

Gráfico: Ember/Reprodução

Países do G20 podem liderar o caminho

Na conferência climática COP 28 da ONU, em dezembro, os líderes mundiais concordaram em triplicar a capacidade global de energia renovável até 2030. Este acordo histórico é o passo mais significativo para reduzir pela metade as emissões globais nesta década e manter a meta de 1,5 °C ao nosso alcance.

Além disso, triplicar as renováveis ​​fornecerá energia mais estável e acessível em comparação aos combustíveis fósseis. As evidências mais recentes mostram um rápido crescimento das energias renováveis ​​globalmente, fornecendo maior confiança aos líderes globais de que metas mais ambiciosas são cada vez mais atingíveis. 

Segundo a especialista, atualizar as metas nas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) e implementar políticas mais eficazes são necessárias para corresponder à nova realidade global. 

“Os países do G20 estão melhor posicionados para liderar o caminho. Eles foram responsáveis ​​por 84% das emissões globais do setor de energia em 2023 e suas emissões combinadas continuam a crescer. No entanto, a maioria dos países do G20 está agora em uma nova era de declínio das emissões do setor de energia, mostrando o que é possível”, disse. 

“A história de sucesso do Brasil em reduzir rapidamente suas emissões do setor de energia, ao mesmo tempo em que atende à demanda crescente por eletricidade, ressalta o que funciona – fortes estruturas políticas e uso eficaz dos recursos naturais. Ao seguir o exemplo do Brasil, os países do G20 podem liderar a transição global para um futuro de energia sustentável”, concluiu a executiva.

Todo o conteúdo do Canal Solar é resguardado pela lei de direitos autorais, e fica expressamente proibida a reprodução parcial ou total deste site em qualquer meio. Caso tenha interesse em colaborar ou reutilizar parte do nosso material, solicitamos que entre em contato através do e-mail: [email protected].

Picture of Mateus Badra
Mateus Badra
Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como produtor, repórter e apresentador na TV Bandeirantes e no Metro Jornal. Acompanha o setor elétrico brasileiro desde 2020.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Receba as últimas notícias

Assine nosso boletim informativo semanal