A Conferência das Partes da ONU sobre mudanças climáticas, a COP30, realizada em Belém (PA), tornou-se palco de uma das discussões mais urgentes da atualidade: a transição energética. O evento busca consolidar um roadmap global para abandonar gradualmente os combustíveis fósseis e migrar para fontes limpas como solar, eólica e biocombustíveis.
O Brasil, anfitrião da conferência, propôs liderar esse movimento, com o vice-presidente Geraldo Alckmin defendendo a triplicação da energia renovável e a duplicação da eficiência energética até 2030.
Apesar da retórica ambiciosa, o país enfrenta contradições: enquanto propõe metas ousadas, continua investindo na exploração de petróleo, inclusive na Amazônia.
Ainda assim, o Brasil é reconhecido pela Agência Internacional de Energia como líder em energia limpa, graças ao seu histórico com biocombustíveis e matriz elétrica majoritariamente renovável.
Geração distribuída: energia perto de quem consome
No entanto, um tema essencial para a resiliência climática está ausente das discussões centrais da COP30: a geração distribuída. De forma didática, trata-se da produção de energia elétrica próxima ao local de consumo, como painéis solares em residências, pequenas turbinas eólicas ou sistemas de biomassa em comunidades. Diferente das grandes usinas centralizadas, essa geração ocorre “junto à carga”, ou seja, onde a energia é usada.
Essa abordagem é estratégica em cenários de eventos extremos, como enchentes ou tempestades, que podem danificar redes de transmissão e deixar milhões sem energia. Com a geração distribuída, a dependência de longas linhas de transmissão diminui, e a energia pode continuar sendo fornecida localmente, evitando o colapso de serviços essenciais e da economia.
Recursos energéticos distribuídos e redes inteligentes
A geração distribuída se apoia em REDs (recursos energéticos distribuídos) — tecnologias como painéis solares, baterias, turbinas e sistemas de armazenamento que operam de forma descentralizada. Quando integrados a microrredes, sensores e redes inteligentes, esses sistemas permitem uma gestão eficiente, segura e adaptável da energia.
Além disso, esse modelo favorece o empoderamento do consumidor, que pode gerar sua própria energia, armazená-la e até negociar excedentes com outros consumidores, criando um mercado mais democrático e dinâmico. É uma revolução silenciosa que transforma o consumidor em protagonista da transição energética.
Narrativas que protegem oligopólios e ignoram a resiliência
Infelizmente, no Brasil, há uma narrativa persistente — e equivocada — de que a geração distribuída prejudica os mais pobres. Essa retórica, muitas vezes promovida por setores que defendem oligopólios energéticos, ignora o potencial de inclusão e segurança que a geração distribuída oferece.
Ao invés de proteger interesses concentrados sob o pretexto da equidade, o país deveria investir na modernização das redes de distribuição, na capacitação técnica e em políticas públicas que tornem o acesso à geração distribuída viável para todos.
A transição energética é global, mas os desafios do Brasil são internos
A COP30 reforça que a transição energética é um esforço planetário. No entanto, o Brasil precisa enfrentar seus próprios dilemas: priorizar a resiliência e o bem-estar social acima dos interesses de investidores e governos.
A mudança do modelo energético não pode ser apenas uma vitrine internacional — ela deve ser uma transformação profunda, inclusiva e estratégica, capaz de proteger a sociedade diante das mudanças climáticas que já estão em curso.
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