A crescente demanda por combustíveis sustentáveis para a aviação (SAF, na sigla em inglês) até 2030 é um dos principais desafios para o setor aéreo, segundo um estudo divulgado pela consultoria Kearney, em parceria com o Fórum Econômico Mundial.
A análise, que projeta a evolução da produção de SAF, revela as oportunidades e obstáculos enfrentados pelas companhias aéreas e pela indústria para atingir as metas globais de descarbonização.
De acordo com o estudo, a eletrificação dos aviões de grande porte não é uma solução viável a curto prazo para descarbonizar a aviação. A boa notícia, no entanto, é que a tecnologia para reduzir as emissões da aviação já está disponível: o SAF.
O combustível sustentável, que pode ser produzido a partir de fontes renováveis como a biomassa e o hidrogênio verde, se tornou uma das principais apostas das companhias aéreas para reduzir sua pegada de carbono, na avaliação da companhia.
Descarbonização da aviação: como o SAF pode reduzir as emissões do setor?
A demanda global por SAF até 2030
O estudo da Kearney projeta que a demanda global por SAF atingirá 17 milhões de toneladas anuais até 2030, o que representará entre 4% e 5% do consumo total de combustível para aviação.
Esse aumento significativo está atrelado a metas governamentais e compromissos voluntários de companhias aéreas, como o programa CORSIA, que visa reduzir as emissões de carbono no setor.
No entanto, o estudo aponta que, embora as metas de demanda sejam claras, a oferta de SAF ainda está distante de alcançar os níveis necessários para 2030. A previsão era de que, até o final de 2024, a capacidade instalada global de SAF chegasse a 4,4 toneladas.
Contudo, a Kearney pondera que, para atingir a demanda de 17 milhões de toneladas anuais projetada até 2030, será necessário um aumento substancial na capacidade de produção, com uma expansão de 5,8 toneladas até 2026.
Desafios de produção e escalabilidade do SAF
O estudo destaca que as tecnologias de produção de SAF, como o HEFA (hidroprocessamento de ésteres e ácidos graxos), AtJ (Alcohol to Jet) e G-FT (gaseificação Fischer-Tropsch), enfrentam desafios financeiros, técnicos e logísticos.
Esses desafios incluem altos custos de produção e limitações na disponibilidade de matérias-primas, além da necessidade de infraestrutura adequada para a distribuição do combustível.
Além disso, a produção de SAF exige um investimento considerável: para atingir as metas de produção até 2030, a indústria precisará de um investimento entre US$ 19 bilhões e US$ 45 bilhões, dependendo da combinação de tecnologias utilizadas.
“Para apoiar esse crescimento, é essencial explorar uma série de modelos financeiros e parcerias estratégicas. O estudo sugere alternativas como garantias de empréstimos, acordos de longo prazo para compra de SAF, mix de investimentos privados e públicos, além de mecanismos de emissão de “green bonds” (títulos verdes)”, detalha Mark Essle, sócio da Kearney no Brasil.
Papel das políticas governamentais e infraestrutura
Essle também enfatiza a importância das políticas públicas para impulsionar a adoção de SAF. Segundo ele, políticas como o mandato SAF da União Europeia e o ReFuelEU Aviation são vistas como fundamentais para viabilizar a transição do setor.
Países como Estados Unidos, Brasil e Coreia do Sul também têm se comprometido com a produção e utilização de SAF. No entanto, o estudo alerta que o avanço depende de uma expansão significativa da infraestrutura, especialmente na Europa, que precisará aumentar sua capacidade de produção local.
Tecnologias promissoras e oportunidades de mercado
O estudo também destaca que, até 2030, o HEFA será inicialmente a tecnologia dominante na produção de SAF devido à sua maturidade tecnológica e menores requisitos de investimento.
Outras tecnologias, como o AtJ, que possui maior potencial de produção em países como o Brasil e Austrália, enfrentam desafios em mercados como o europeu.
Tecnologias promissoras como PtL (Power-to-Liquid), que utilizam energia renovável excedente, também apresentam grande potencial, mas ainda enfrentam barreiras de custo e escalabilidade.
Por fim, o relatório salienta que para o mundo alcançar as metas da SAF e apoiar uma aviação mais sustentável até 2030, a colaboração entre governos, empresas e investidores é fundamental.
Nesse sentido, a combinação de parcerias estratégicas, políticas consistentes e modelos financeiros inovadores será essencial para superar os obstáculos e garantir a viabilidade econômica e ambiental do combustível sustentável para a aviação.
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