Demanda crescente do Paraguai por energia de Itaipu afeta mercado brasileiro

País vizinho vem reduzindo a exportação ao Brasil para priorizar o consumo interno
Canal Solar - Demanda crescente do Paraguai por energia de Itaipu afeta mercado brasileiro
Usina hidrelétrica de Itaipu. Foto: Joedson Alves/Agência Brasil

A atividade elevada de empresas de mineração de bitcoin associada a um processo de industrialização impulsionado por tarifas elétricas atrativas, vem fazendo com que o Paraguai passe a valer-se de uma fatia mais significativa da geração de energia a que tem direito na produção da Itaipu Binacional.

É um movimento que tende a provocar efeitos nos preços de energia no Brasil. Isso porque, apesar da condição de sobreoferta estrutural e do bom nível dos reservatórios no país, como os modelos de formação de preço estão bastante sensíveis em função da parametrização do CVAR –  indicador estatístico de risco – e da nova matriz de CVU (Custo Variável Unitário) das usinas termelétricas, qualquer mudança nos dados de entrada provoca volatilidade. .

Exemplo disso aconteceu no último PMO (Programa Mensal da Operação), segundo analisa Franklin Miguel, CEO da comercializadora Electra Energy, em comentário exclusivo ao Canal Solar.  

Na época, segundo o executivo, se projetavam preços abaixo de R$ 100,00 por MWh para a média de julho, antes da declaração realizada pela Ande – empresa estatal de energia do Paraguai, que incrementou em cerca de 600 MW médios e 800 MW médios para os meses julho e agosto, respectivamente, representando 31% e 48% do que estava previsto.

Para se ter uma ideia, segundo dados da Itaipu Binacional, em 2024 o Paraguai consumiu 2.320 MW médios gerados pela hidrelétrica. Já o último Plano Maestro da Ande, projeta para 2025 uma demanda máxima de 5,5 GW a 7 GW e um consumo médio de 2.700 MW médios para o Paraguai.

Entre os anos de 2024 a 2027, há projeção de um crescimento de 6,9% a 9,4% ao ano, a depender do cenário. Em contraponto, para o período 2027/2028, projeta-se uma queda de 3,2% a 6,7%, em razão de contratos com consumo intensivo especial que terminam em 2027.

“O Paraguai está se consolidando como um grande polo de mineração de bitcoin, explorando sua energia hidrelétrica barata. Os mineradores pagam até três vezes mais do que o Paraguai recebe por exportar energia excedente ao Brasil (~US$15/MWh), tornando a atividade mais lucrativa”, observa Franklin Miguel.

Estima-se que existam, atualmente, cerca de 72 empresas legalmente registradas extraindo criptomoedas via contratos com a Ande, totalizando 391 MW contratados atualmente, com novas solicitações para mais 400 MW. Apenas a Hive Digital Technologies consome aproximadamente 300 MW, informa o CEO da Electra Energy. 

Outro ponto que leva o Paraguai a precisar de mais geração de Itaipu é a redução de consumo da energia da hidrelétrica Yaceretá, usina construída em parceria com a Argentina.

Decreto do presidente argentino Javier Milei elevou o preço da energia de Yacyretá de US$ 17,00 para US$ 28,00 por MWh para ambos os países. Ficou acertado que o Paraguai se compromete a retirar 425 MW médios de Yacyretá. Em troca, a Argentina poderá usar até 85% da capacidade disponível quando o Paraguai não utilizar sua cota.

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Foto de Antonio Carlos Sil
Antonio Carlos Sil
Antonio Carlos Sil é jornalista formado pela FMU/FIAM. Atuou como repórter pela Brasil Energia, além de serviços prestados para Agência Estado, Exame e Canal Energia. Trabalhou em assessorias de comunicação da CPFL Energia, CESP e AES Tietê. Cobre setor elétrico desde 2000. Possui experiência na cobertura de eventos, como leilões de energia, convenções, palestras, feiras, congressos e seminários.

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