Nos últimos anos, as notícias sobre ataques cibernéticos a infraestruturas críticas, vazamentos de dados e instabilidade nas redes se tornaram cada vez mais frequentes.
Em um mundo cada vez mais digital e interconectado, a quantidade de dispositivos e pontos vulneráveis cresce exponencialmente.
Quando esses ataques atingem setores vitais como o de energia, as consequências podem ser desastrosas, não só em termos financeiros, mas também para a segurança de toda a população.
O setor elétrico, em particular, é uma das áreas mais sensíveis a ataques cibernéticos. Somente no primeiro semestre de 2025, a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) relatou ter neutralizado mais de 539 milhões de tentativas de ataques digitais.
Vulnerabilidade no setor elétrico
De acordo com Leonardo Gomes Tavares, pesquisador do Lactec (Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento), a digitalização e a interconexão de dispositivos críticos — como sensores, RTUs (unidades remotas) e IEDs (dispositivos eletrônicos inteligentes) — ampliaram a exposição das redes.
“Eu acredito que o principal desafio das distribuidoras está na vulnerabilidade de ativos legados que ainda compõem grande parte da infraestrutura”, disse ele.
Segundo o pesquisador, muitos equipamentos de campo foram projetados com foco em disponibilidade e confiabilidade, mas sem requisitos de cibersegurança.
“Além disso, a crescente inserção destes dispositivos (antigos ou modernos) na rede aumenta a chamada superfície de ataque, isto é, o conjunto de potenciais pontos suscetíveis à exploração por agentes maliciosos”, acentuou.
Tavares acrescenta que boa parte dessas tecnologias ainda utiliza protocolos legados, sem mecanismos de proteção contra ataques. Além disso, o desafio é realizar atualizações sem comprometer o fornecimento contínuo de energia, o que exige planejamento rigoroso e alto investimento.
O pesquisador explica que este processo exige um planejamento rigoroso e a consideração de custos, já que qualquer falha pode afetar diretamente a população e a economia.
Outro ponto crítico é a obsolescência dos protocolos antigos. Muitos equipamentos ainda operam com sistemas vulneráveis e sem substitutos diretos.
Isso implica na necessidade de atualizações abrangentes de hardware, software e plataformas de comunicação — todas de alto custo e complexidade. Além disso, a substituição desses dispositivos exige novos testes e homologações rigorosas para garantir que os novos sistemas sejam seguros e eficientes.
Tavares alerta para o desafio de equilibrar a inovação tecnológica e a manutenção da infraestrutura existente, o que exige um processo gradual, cuidadoso e de grande investimento para modernizar o setor elétrico sem comprometer sua operação.
“Geralmente os ataques buscam acesso a informações sigilosas. Nos ambientes operacionais, estes vazamentos afetam não só a privacidade, mas também estratégias comerciais e competitividade das empresas, chegando até a causar instabilidade em serviços essenciais, como energia, transporte ou saúde. É algo fundamental dar atenção a isso, pois pode-se colocar em risco a integridade de trabalhadores e da população em geral”, justificou.
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Desafio de equilibrar inovação tecnológica e infraestrutura exige processo gradual e cuidadoso. Foto: Canva
Smart grids
A modernização dos sistemas elétricos impõe novos desafios de segurança. As smart grids, redes elétricas inteligentes que conectam geração, consumo e armazenamento em tempo real, exigem protocolos robustos de autenticação e criptografia para evitar interceptações e alterações indevidas.
O pesquisador enfatiza que protocolos de comunicação com autenticação e criptografia são essenciais para garantir a integridade e a confidencialidade dos dados, protegendo as redes contra interceptações ou alterações indevidas, um risco considerável em ambientes digitais interconectados.
“Práticas como a segmentação das redes corporativas e operacionais, o uso de controles de acesso baseados em perfis e o monitoramento em tempo real de eventos de segurança são fundamentais. Por fim, a aplicação de atualizações periódicas de firmware e testes de segurança também contribuem para reforçar a proteção contra ciberameaças”, declarou.
O pesquisador destaca que a modernização da infraestrutura elétrica é inevitável, mas deve ocorrer de forma gradual e coordenada, equilibrando a inovação com a estabilidade operacional das redes.
Armazenamento com baterias
O avanço dos sistemas de armazenamento de energia adiciona uma nova camada de complexidade à segurança cibernética. Segundo Tavares, as baterias também podem ser alvo de ataques que alteram ciclos de carga e descarga, aceleram a degradação ou comprometem a estabilidade da rede.
Por isso, a segurança desses sistemas precisa ser tratada com a mesma prioridade das smart grids, já que um ataque pode afetar o desempenho de toda a infraestrutura elétrica.

Ele destaca que esses sistemas, ao serem integrados à infraestrutura inteligente, podem se tornar vulneráveis a acessos não autorizados, o que pode comprometer sua operação.
Especificamente, invasores poderiam explorar falhas de segurança para alterar os ciclos de carga e descarga, acelerando a degradação das baterias ou até afetar a estabilidade da rede elétrica.
Para o pesquisador, é essencial adotar protocolos de autenticação, criptografia e monitoramento contínuo nesses sistemas.
Essas medidas são fundamentais não apenas para proteger os sistemas de armazenamento de energia, mas também para fortalecer a segurança de toda a rede elétrica interconectada
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