Linhão Manaus–Boa Vista inicia operação e conecta Roraima ao SIN

CCC deve ser reduzida em R$ 45 milhões mensais, mas custo final da obra extrapolou orçamento inicial
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Foto: YouTube/Divulgação

O Brasil está inteiramente conectado a partir desta quarta-feira (10), com energização da linha de transmissão que interliga Manaus (AM) a Boa Vista (RO). Roraima, único estado que ainda permanecia isolado, deixa de ficar dependente de usinas termelétricas movidas a combustíveis fósseis.

A cerimônia que marcou o acionamento oficial do empreendimento foi realizada na manhã desta quarta-feira, no Centro Regional Norte-Centro Oeste do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), situado em Brasília.

Com a medida, o Brasil se tornou um dos poucos países do mundo inteiramente interligado. Com a conclusão do linhão, o governo brasileiro projeta o país como um hub energético na América do Sul, capaz de liderar conexões futuras com vizinhos latino-americanos, além de fortalecer a integração nacional.

Segundo o MME (Ministério de Minas e Energia), a entrada em operação trará uma economia mensal da ordem de R$45 milhões à CCC (Conta de Consumo de Combustíveis), graças à desativação ou menor utilização de usinas térmicas. O impacto também é ambiental. Ao reduzir o uso de diesel, o linhão contribui para a descarbonização da matriz elétrica, reforçando o papel do Brasil como referência mundial em energia limpa.

Outro ponto destacado foi a capacidade excedente do linhão, que hoje transporta quatro vezes mais energia do que o consumo atual de Roraima.  Essa sobra dá condições para  impulsionar o desenvolvimento econômico do estado além de abrir oportunidades de comércio com países vizinhos e até com o Caribe.

Para o futuro, o MME citou ainda a possibilidade de o Brasil voltar a importar energia da Venezuela, por meio da hidrelétrica de Guri, caso as condições regionais se normalizem.

Trajetória complexa e custosa

O início de operação da Interligação Manaus-Boa Vista encerra um histórico tumultuado de quase quinze anos, marcado por impasses ambientais, jurídicos e contratuais. Ao final, passada uma década e meia, o empreendimento, orçado originalmente entre R$1,4 bilhão a R$1,6 bilhão, está saindo por cerca de R$3,3 bilhões, segundo informação do MME. Cálculos que circulam no mercado, porém, dão conta de um valor da ordem de R$2,6 bilhões.

O último estado brasileiro até então isolado, Roraima conviveu por décadas com apagões recorrentes e restrições elétricas, ora pela dependência de usinas termelétricas movidas a combustíveis fósseis — caras e poluentes —, ora pela operação precária e instável da linha de Guri, na Venezuela, que abasteceu a região de forma intermitente.

A obra representa um marco que encerra anos de vulnerabilidade energética ao mesmo tempo que abre caminho para maior segurança e sustentabilidade no suprimento de eletricidade ao estado. O projeto do  linhão foi leiloado em setembro de 2011 pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). A Transnorte Energia (TNE) – consórcio formado por Alupar (51%) e Eletronorte (49%) –  arrematou o lote, que tinha o ano de 2015 como previsão original de entrega.

Problemas no licenciamento ambiental, contudo, especialmente quanto a  travessia de cerca de 122 km por terras indígenas Waimiri-Atroari, impediram o avanço das obras.

Ante o longo impasse nas negociações com os povos originários locais, em 2019, o governo federal classificou o projeto como prioritário e de interesse de defesa nacional, por meio da Lei 14.182/2021, aprovada com base na MP 1031.

O dispositivo autorizou a retomada imediata do projeto e exigiu a finalização do Plano Básico Ambiental — Componente Indígena (PBA-CI) na língua originária, permitindo avançar apesar das pendências legais.

Após a homologação do acordo judicial com os Waimiri-Atroari, as obras foram retomadas oficialmente em outubro de 2022, momento celebrado em evento do MME. Em paralelo, a ANEEL abriu procedimento de arbitragem para reequilíbrio econômico-financeiro da concessão, elevando a RAP (Receita Anual Permitida) de R$ 257 milhões para R$ 275 milhões, valor que a concessionária contestou, alegando déficit maior.

Em março de 2023, com assinatura de um Termo Aditivo e de um Termo de Compromisso Arbitral, o processo foi encaminhado a um procedimento de arbitragem.

Em 2025, o projeto avançou mais efetivamente. No início do ano, o cronograma de obras chegou a 80% de conclusão. A Transnorte Energia recebeu reembolso de R$ 2,24 milhões, via Conta de Desenvolvimento da Amazônia (CDA), para compensar impactos socioambientais irreversíveis em área indígena.

A ANEEL intensificou inspeções de campo e em agosto realizou inspeção final, incluindo verificação de aterramentos, travessias em terras indígenas e instalações das subestações Lechuga (AM), Equador e Boa Vista.

Adicionalmente, foi fechado um acordo contratual entre a TNE e a ANEEL, com aditivo ao contrato, contemplando RAP de R$ 395,66 milhões por 27 anos (início 2024, término 2051), com a condição de a TNE assumir todos os custos da arbitragem.

Principais características:

  • Nome: Linhão de Tucuruí – Trecho Manaus (AM) a Boa Vista (RR);
  • Concessionária:  TNE -Transnorte Energia (Alupar 51% / Eletronorte 49%);
  • Extensão: ~725 km, dos quais 425 km em Roraima e 290 km no Amazonas;
  • Tensão: 500 kV;
  • Configuração: circuito duplo;
  • Subestações associadas: Eng. Lechuga (AM), Equador e Boa Vista (RR);
  • Obras civis: mais de 1.300 torres executadas;
  • Investimento estimado: R$ 3,3 bilhões;
  • Licenciamento ambiental: concedido pelo Ibama em 8 de setembro.

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Antonio Carlos Sil
Antonio Carlos Sil é jornalista formado pela FMU/FIAM. Atuou como repórter pela Brasil Energia, além de serviços prestados para Agência Estado, Exame e Canal Energia. Trabalhou em assessorias de comunicação da CPFL Energia, CESP e AES Tietê. Cobre setor elétrico desde 2000. Possui experiência na cobertura de eventos, como leilões de energia, convenções, palestras, feiras, congressos e seminários.

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