10 mitos e verdades sobre projetos de minigeração fotovoltaica

O Canal Solar entrevistou especialistas que responderam afirmações sobre o tema
10 mitos e verdades sobre projetos de minigeração fotovoltaica
A convite do Canal Solar, especialistas responderam 10 afirmações sobre o tema

Você sabe tudo sobre projetos de minigeração fotovoltaica? A convite do Canal Solar, especialistas responderam 10 afirmações sobre o tema, e nos contaram: é verdade ou mito? Entenda o porquê.

1) Uma resistência de aterramento menor que 10 ohms me assegura que o projeto de aterramento é bom

Paulo Edmundo Freire, mestre em engenharia elétrica, doutor em geologia, relator da do projeto de norma brasileira de aterramento de parques solares e professor no Canal Solar, declarou que a afirmação é um mito.

“Cabe observar que baixas resistências de aterramento não garantem um projeto seguro, e que altas resistências de aterramento não significam, necessariamente, um projeto inseguro. Conforme estabelece a norma NBR-15751/2013 – item 10.1 Recomendações Gerais – o projeto de aterramento deve garantir níveis de corrente de curto-circuito fase-terra suficientes para permitir a atuação da proteção de retaguarda, assim como potenciais de passo e de toque suportáveis, o que pode ser obtido por uma geometria de malha de aterramento compatível com a resistividade de solo local, com a parcela da corrente de falta dissipada pela malha e com os tempos de atuação da proteção”.

2) Os custos de reforços e adequações na rede são sempre de responsabilidade do consumidor de energia (acessante)

Dirceu Ferreira, mestre em engenharia elétrica, com atuação de mais de 30 anos na distribuidora de energia CPFL avaliou esta afirmação como um mito, e explicou melhor sobre os custos de reforços e adequações na rede.

“Os custos de responsabilidade do consumidor, conhecido como PFC (Participação Financeira do Consumidor) depende da demanda a ser contratada, do custo proporcionalizado das obras de adequações no sistema (CP) e do ERD (Encargo de Responsabilidade da Distribuidora). Ou seja, PFC = CP – ERD. Se o ERD for maior ou igual ao Custo Proporcionalizado (CP), o consumidor não terá custo nenhum para as adequações, ficando tudo sob responsabilidade da distribuidora”.

3) Não é permitido vender a energia gerada pelo meu parque solar

Bernardo Marangon, mestre em engenharia elétrica e diretor da exata energia, confirmou que a afirmação é verdadeira e ainda explicou o porquê.

“Em regulatório é vedada a venda de energia no ambiente de contratação regulado, ou seja, onde a Geração Distribuída opera não existe transação de energia, o método utilizado é o Net Metering. Quando a unidade consumidora injeta energia na rede isto gera um crédito em kWh com a distribuidora de energia. Quando o consumidor consome energia da rede este crédito é compensado. Caso o consumidor gere mais do que consume, não pode vender, esta energia será computada como um crédito a ser utilizado no próximo mês”, afirmou Marangon. “No âmbito do ACL (Ambiente de Contratação Livre) esta afirmação seria falsa, pois neste ambiente podem ser realizadas transações de compra e venda de energia”, acrescentou o engenheiro.

4 ) Os custos de manutenção inviabilizam a utilização de trackers

Vitor Tavenari, engenheiro aeronáutico e presidente da Politec, confirmou que a afirmação é um mito e também explicou como funcionam estes custos. “O percentual de uma possível manutenção é muito baixo comparado aos possíveis ganhos de até 28% de geração de energia, que reduzem o custo da energia gerada. O custo de manutenção adicional é de 0,3% do Capex ao ano. Apenas comparando o custo da demanda, que reduz 20% em R$/MWh com tracker representa um ganho 10 vezes maior que o aumento do custo devido a possível manutenção do tracker”.

5 ) É possível enterrar os cabos diretamente em solo

Mateus Vinturini, engenheiro eletricista e consultor técnico do Canal Solar certificou a afirmação como verdadeira e ainda listou quais são os cuidados necessários para enterrar os cabos diretamente no solo.

“Para enterrar, o cabo deve ser do tipo armado ou a instalação dele deve prover algum tipo de proteção mecânica acima do cabo, como uma leve camada de concreto ou outro material que o torne protegido contra movimentações de terra. Além disso, recomenda-se entrar em contato com o fabricante do cabo para saber se o mesmo confirma que aquele equipamento pode ser diretamente enterrado ou se há algum outro cabo melhor preparado para isso no portfólio dele”.

6) Quanto menor o custo por Wp melhor é a viabilidade do projeto

Felipe Santos, engenheiro de materiais e gerente de vendas na fabricante de módulos fotovoltaicos JA Solar, explicou que essa afirmação, geralmente, enquadra-se como mito, mas isso pode variar de acordo com o sistema.

“Quanto menor o Wp do módulo, ou dos equipamentos em geral, significa que são equipamentos de tecnologias mais obsoletas e de menor potência. Assim, você vai precisar de muito mais módulos para um mesmo tamanho de sistema, então, você vai economizar no módulo, mas vai gastar muito em outros componentes chamados de BOS (Balance of System). Sendo assim, vai levar a um maior custo total do sistema, ou seja, o compensado de um lado é gasto do outro. Nem sempre o menor Wp vai levar a um custo menor do sistema. O ideal é sempre calcular o LCOE, que é o custo do investimento, dividido pela quantidade de energia gerada no período. Módulos de mais alta tecnologia e mais alta potência vão conferir um menor BOS e LCOE. Entretanto, se for um sistema residencial pode ser um módulo mais barato, essa diferença é menos sensível em um sistema de telhado”.

7) O oversizing (sobrecarregamento) do meu inversor reduz a vida útil deste equipamento

Ricardo Alonso, engenheiro eletricista e diretor de engenharia da Sungrow esclarece o porquê da frase não passar de um mito. “Trata-se de um equívoco ou falta de conhecimento. Inversores não sofrem com sobrecarregamento. O importante é garantir que a máxima corrente e máxima tensão DC suportadas pelo inversor não sejam excedidas.

Com os módulos fotovoltaicos atuais, é possível chegar próximo da máxima tensão e próximo da máxima corrente do inversor, com um sobrecarregamento de 80% a 90%. Por exemplo, um inversor de 250 kWac poderia ter cerca de 460 kWp conectados em sua entrada e isso não causaria problema algum, porque o inversor é inteligente, ele nunca irá trabalhar em uma potência acima da sua nominal (neste caso 250 kW).

Quando o arranjo fotovoltaico possui uma capacidade de geração maior que a potência do inversor, ele comuta o ponto de operação na curva IV deste arranjo para um ponto de menor potência. Isso é feito pelo módulo de MPPT, que irá atuar fora do ponto de máxima potência dos módulos fotovoltaicos, ocorrendo o que a gente chama clipping, uma limitação de potência. Assim não há dissipação de calor, que é outro mito, o inversor simplesmente deixa de operar no ponto de máxima potência dos módulos, e não haverá perda de garantia ou redução de vida útil”, explica Alonso.

“É importante destacar que apesar de suportar esse elevado nível de sobrecarregamento, na maioria das vezes não é financeiramente viável trabalhar com altos sobrecarregamentos. Para identificar o sobrecarregamento ótimo, é recomendado fazer uma análise de LCOE. Quanto mais você aumentar a potência de painéis fotovoltaicos, mais a geração de energia aumenta, o fator de capacidade da usina aumenta. Só que também o custo do investimento se eleva. Você faz isso até que o seu LCOE seja o mais baixo possível. Faz sentido aumentar o overload até que o custo de energia seja o menor possível. Aqui no Brasil, na região Nordeste e norte de Minas Gerais, por exemplo, que possuem uma alta incidência solar, o fator de carregamento ótimo fica entre 36% e 42%. Já no Sul algo em torno de 45% e 50% , acrescenta Alonso.

8) EPC e EPCm é a mesma coisa

Kleber Alota, engenheiro mecânico e diretor técnico na AK Energia Solar, afirmou que os dois termos não são a mesma coisa e ainda explicou a diferença entre eles. “EPC siginifica Engineering, Procurement and Construction (Engenharia, Suprimentos e Construção). Já EPC-M significa Engineering, Procurement, Construction and Management (Engenharia, Suprimentos, Construção e Gerenciamento)”, esclarece Alota.

“Um fornecimento ou contratação EPC ocorre quando o cliente final delega totalmente a realização dos serviços e trabalhos necessários para a construção do parque solar a uma empresa terceira. Geralmente, trata-se de uma empresa muito grande, que tem no seu escopo a maior parte das cadeias de fornecimento e do que precisa ser entregue para a construção do parque solar. Caso a empresa EPCista não tenha a habilidade para todas as áreas e setores necessários, ela subcontrata e terceiriza serviços – o qual fica sob sua responsabilidade frente ao cliente final – para atender o todo, o escopo contratado pelo cliente. Este tipo de contratação costuma ser o mais caro, financeiramente falando, pois o EPCista assume toda a responsabilidade pela realização e construção do escopo contratado”, acrescenta.

“Já o EPC-M é quando o cliente contrata uma empresa EPCista para atender o fornecimento, de grande parte do escopo necessário, mas o próprio cliente assume parte da responsabilidade do escopo do projeto. Isso fará com que o valor da contratação do EPCistas diminua, já que parte do escopo será atendida pelo cliente ou um outro fornecedor sob sua gestão. Este tipo de fornecimento costuma ter um menor valor final para o cliente, além de ter  um gerenciamento muito mais eficaz, pois aparece a  figura do gerenciador, que é uma outra empresa e que não tem vínculo com a empresa EPCistas. O gerenciador ou empresa gerenciadora irá garantir que o escopo total, tanto de serviços quanto de equipamentos necessários para a construção do parque solar, ocorram dentro do cronograma, com a qualidade e orçamento previstos, atendendo todas as necessidades do cliente final”, conclui Alota.

9) O conteúdo harmônico gerado pelos meus inversores influi no projeto do parque fotovoltaico

Ricardo Alonso também desvendou esse mito. Segundo o ele, os inversores são severamente testados e devem sempre operar dentro de limites estabelecidos e esses sempre dentro das requisições de um parque solar. “Para que isso possa ser verdade o inversor deve ter algum problema ou a quantidade de inversores em paralelo gerar ressonância. Temos como calcular, e deveria ser obrigatório tal simulação de conteúdo harmônico no ponto de conexão”.

10) O cravamento das estacas no solo melhora a performance do sistema de aterramento do parque fotovoltaico.

Verdade. Quem afirmou foi o especialista Paulo Edmundo Freire. “As estacas cravadas no solo fazem parte das estruturas de suporte dos arranjos fotovoltaicos e, juntamente com a malha de aterramento, integram o sistema de aterramento da usina fotovoltaica. Mesmo que dentro de um revestimento de concreto, atuam como hastes de aterramento, propiciando caminhos para a terra para as descargas atmosféricas e contribuindo para o controle das tensões de passo e de toque na área da UFV”.

Imagem de Redação do Canal Solar
Redação do Canal Solar
Texto produzido pelos jornalistas do Canal Solar.

2 respostas

  1. Boa noite!

    Qual seria a recomendação dos especialistas em usinas solares (MWp) para a questão do cabos serem enterrados com conduites e caixa de passagem (Cabos CC) ou colocar os cabos dentro de eletrocalhas ventiladas com tampa? Existe alguma norma ou a construção/solução ficaria sob critério da Empresa?

    Antecipo meus agradecimentos

    1. Desde que sejam seguidos os métodos de instalação recomendamos por norma, o critério de escolha é da empresa/projetista. No caso das Instalações elétricas de arranjos fotovoltaicos, as normas de referência com os métodos de instalação são indicadas no item 6.2.5 da ABNT NBR 16690. Em resumo, o cabo das séries fotovoltaicas ou demais cabos expostos a radiação UV e a temperaturas elevadas próximos aos módulos FV devem seguir os métodos de instalação e capacidade de corrente conforme a ABNT NBR 16612. Demais cabos do arranjo devem seguir os métodos instalação e a capacidade de corrente conforme a ABNT NBR 5410.

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