A Comissão de Estudos da ABNT CEE 253 iniciou um novo projeto de norma técnica que encontra-se na fase de correções dedicado exclusivamente à inspeção por eletroluminescência (EL) de módulos fotovoltaicos.
O texto nasce após sucessivos relatos e estudos de falhas em células que passam nos ensaios tradicionais, mas ainda assim podem comprometem a geração em campo. O novo documento deverá servir de referência para fabricantes, importadores, laboratórios e órgãos de certificação.
“Precisamos olhar para a célula, não apenas para o módulo como um todo. A EL expõe microfissuras e variações de cinza que o Flash Test não enxerga”, destacou Lucas Monteiro, gerente de Produtos da DMEGC Solar LATAM, durante webinário promovido pelo Canal Solar.
Por que a EL entrou no radar da normalização?
Seguem, abaixo, os motivos elencados por Monteiro.
- Falhas ocultas: estudos apresentados no encontro mostraram que módulos aprovados no Flash Test, mas reprovados em EL, perderam até ‑3,2 % de potência após a estabilização MQT 19.1;
- Escala do problema: estimativas indicam que mais de 60 % dos módulos distribuídos em 2024 para geração distribuída exibiram ao menos um critério de EL fora do tolerável, o que representa algo perto de 5 GWp em operação com risco de degradação prematura;
- Vácuo regulatório: a Portaria 140/2022 do Inmetro já cobre a chamada “Fake Power”, mas não define parâmetros de EL. A proposta da CEE‑253 preenche essa lacuna com métricas objetivas.
Critérios harmonizados para o mercado nacional
O novo projeto de norma estabelece 18 critérios técnicos baseados em eletroluminescência, incluindo tolerância para diferenças de escala de cinza, microfissuras, pontos pretos, bordas escuras e outros defeitos estruturais nas células. O intuito é criar uma padronização mínima para aceitação dos módulos comercializados no país, garantindo maior confiabilidade e durabilidade dos sistemas.
Os testes foram aplicados em painéis de diferentes fabricantes, incluindo produtos classificados como Top Performer pelo PVEL, e todos os modelos com alta qualidade atenderam aos critérios sugeridos.
“Por outro lado, os módulos com células defeituosas, muitos deles sem histórico em ensaios internacionais, foram reprovados por critérios como: diferença de escala de cinza acima de 40%, presença de microfissuras em rede, pontos pretos maiores que 5% da célula e bordas pretas superiores a 16,67% do comprimento da célula. Essas falhas podem causar degradação acelerada, perdas de potência e até risco de incêndio”, explicou.
Impacto esperado
Entre os impactos, estão:
- Consumidor protegido: menos degradação acelerada e maior previsibilidade do retorno do investimento;
- Indústria alinhada: fabricantes terão de comprovar conformidade aos 18 itens já no controle de processo, reduzindo retrabalho na entrega;
- Regulação futura: o texto poderá ser adotado por Inmetro e ANEEL em resoluções complementares, assim como ocorreu com a NBR IEC 61215‑1:2024, publicada no ano passado.
Próximos passos
O projeto de norma está sendo construído de forma colaborativa com o setor e poderá ser incorporado futuramente aos regulamentos da ANEEL, INMETRO e demais órgãos responsáveis pela regulação técnica de equipamentos fotovoltaicos.
“Estamos diante de um momento decisivo para elevar o padrão da energia solar no Brasil. A eletroluminescência não é só uma ferramenta de inspeção, é uma garantia de que o que está sendo entregue ao consumidor corresponde àquilo que foi prometido”, ressaltou o gerente.
“A proposta de norma de inspeção por EL representa um passo decisivo para profissionalizar o controle de qualidade dos módulos fotovoltaicos no Brasil. Ao adotar parâmetros claros e mensuráveis, o setor ganha transparência, o consumidor é protegido e o país se alinha às práticas internacionais de avaliação de painéis de alta eficiência”, concluiu.
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