BESS no Brasil: como o armazenamento pode revolucionar a matriz energética

Especialistas da Huawei discutem as oportunidades e desafios do segmento, abordando inovações e aplicações estratégicas
BESS no Brasil como o armazenamento pode revolucionar a matriz energética
Cerca de R$ 22,5 bilhões deverão ser investidos até 2030 no mercado brasileiro de baterias. Foto: Huawei/Reprodução

O armazenamento de energia tem se tornado um tema central no setor elétrico brasileiro, impulsionado pelo crescimento das fontes renováveis e pela necessidade de estabilidade na rede.

No último episódio do podcast Papo Solar, promovido pelo Canal Solar, especialistas da Huawei discutiram as oportunidades e desafios do mercado de BESS (Battery Energy Storage Systems) no Brasil.

O bate-papo contou com a participação do Dr. Roberto Valer, CTO da Huawei Digital Power Brasil, e André Foster, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa. Durante a conversa, os convidados abordaram como o BESS pode otimizar o consumo, reduzir desperdícios e garantir o fornecimento contínuo de eletricidade, mesmo em períodos de baixa geração.

Além disso, discutiram o tema do leilão de reserva de capacidade com armazenamento, as principais inovações em segurança e eficiência no setor e como essa tecnologia pode contribuir para mitigar desafios como o curtailment.

 

Oportunidades e desafios do mercado de BESS no Brasil

De acordo com Valer, o armazenamento já é uma realidade consolidada em diversos países e está começando a ganhar força no Brasil. Ele ressaltou que as baterias podem oferecer diversos serviços ao setor elétrico, como regulação de frequência, gerenciamento de carga e suporte para evitar cortes de energia.

“O BESS se tornou fundamental para garantir a estabilidade do sistema, principalmente com o aumento da geração solar e eólica. Estamos começando a ver os primeiros sinais da famosa ‘curva do pato’ no Brasil, algo que já se consolidou em outros países”, afirmou.

O especialista explicou que o aumento das fontes renováveis impõe desafios à estabilidade da rede elétrica. “Hoje, no Nordeste e no Norte de Minas Gerais, temos uma alta concentração de usinas solares e eólicas, e a falta de estabilidade na rede compromete o escoamento da energia gerada. O armazenamento pode ajudar a minimizar esse problema, proporcionando mais segurança ao sistema”.

Foster complementou, destacando que um dos principais desafios para a implementação do BESS no Brasil ainda é a definição de regulamentações claras. “Já tivemos duas consultas públicas importantes e diversas contribuições foram feitas para viabilizar o primeiro leilão de reserva de capacidade para baterias. Agora, aguardamos a portaria final do Ministério de Minas e Energia para que o setor possa avançar com mais segurança”.

Ademais, uma das principais dificuldades mencionadas por ele é a falta de conhecimento técnico sobre a tecnologia de armazenamento. “No início, havia um receio sobre como as baterias poderiam substituir as térmicas. Hoje, já entendemos que elas podem operar de forma complementar, garantindo a estabilidade do sistema em momentos críticos”.

Curtailment e o papel das baterias

Outro ponto abordado no Papo Solar foi o impacto do curtailment no setor elétrico. O fenômeno tem sido um desafio para usinas solares e eólicas. Segundo o CTO da Huawei, as baterias com tecnologia Grid Forming podem ser uma solução eficaz para mitigar esse problema. “O armazenamento pode evitar desperdícios e garantir a estabilidade da rede de modo que a energia gerada possa ser escoada”.

Já o gerente de P&D complementou, explicando que – em países como Chile e Austrália – o uso de baterias tem permitido um melhor aproveitamento da geração renovável. “No Brasil, ainda estamos no início desse processo, mas as perspectivas são muito positivas”, afirmou.

Segurança, eficiência e viabilidade econômica

Os convidados também discutiram as inovações em segurança e eficiência no setor de armazenamento. A Huawei, que tem forte atuação nesse mercado, desenvolveu soluções que aumentam a vida útil das baterias e aprimoram o gerenciamento térmico dos sistemas.

“A tecnologia Grid Forming, por exemplo, permite que as baterias emulem o funcionamento de geradores síncronos, trazendo mais estabilidade para a rede elétrica”, disse Roberto Valer.

André Foster acrescentou que, além da estabilidade da rede, os sistemas de armazenamento podem ser economicamente vantajosos para consumidores industriais. “A arbitragem de energia e a redução da demanda contratada são fatores que tornam o investimento em BESS cada vez mais atrativo. Dependendo da aplicação, o payback pode ser relativamente rápido”.

Aplicações do BESS

Com relação às aplicações do armazenamento de energia, os especialistas ressaltaram que tal tecnologia pode ser utilizada em diferentes setores, como agronegócio, data centers e consumidores comerciais e industriais. No setor agropecuário, por exemplo, a utilização de BESS pode reduzir drasticamente o uso de geradores a diesel em sistemas de irrigação.

“Hoje, um agricultor pode gastar milhares de reais com diesel para alimentar suas bombas de irrigação. Com um sistema fotovoltaico integrado ao armazenamento, ele pode reduzir esse custo significativamente e garantir mais previsibilidade no seu consumo de energia”, destacou Foster.

No segmento residencial e comercial, os sistemas de armazenamento podem proporcionar maior independência energética e evitar interrupções em momentos de falha na rede. “Seja para garantir energia em locais remotos ou para otimizar o consumo em horários de maior tarifa, os BESS são uma alternativa viável e sustentável”, frisou Valer.

Já para o setor de data centers, as baterias podem garantir a estabilidade do fornecimento de energia, evitando quedas e prejuízos operacionais. “O Brasil tem um potencial enorme para o mercado de data centers, e o armazenamento será fundamental para garantir a segurança energética dessas instalações”, pontuou.7

O futuro do armazenamento no Brasil

A expectativa é que, com a evolução da regulamentação e a queda nos custos das baterias, o mercado de armazenamento cresça de forma acelerada nos próximos anos. “Estamos acompanhando exemplos internacionais, como Chile, China e Inglaterra, onde o BESS já desempenha um papel crucial no sistema elétrico. No Brasil, temos um potencial enorme para seguir esse caminho e desenvolver um mercado sólido e competitivo”, concluiu Roberto Valer.

Com isso, o armazenamento de energia se consolida como um dos pilares da transição energética no Brasil, trazendo benefícios para consumidores, empresas e para a própria segurança do sistema elétrico nacional.

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Foto de Mateus Badra
Mateus Badra
Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como produtor, repórter e apresentador na TV Bandeirantes e no Metro Jornal. Acompanha o setor elétrico brasileiro desde 2020.

Uma resposta

  1. Não tenho a menor dúvida que há tempos víamos a armazenagem uma alternativa excelente. O famoso Grid Zero para evitar o fluxo reverso não é a melhor solução.. Vejam o enorme desperdício da capacidade de geração de um determinado local com a adoção dessa solução. As pesquisas e inovações na área das baterias são fantásticas e já possuem um volúpia sem retorno. Quanto a evitar os impactos no meio ambiente, basta adotar a famosa logística reversa. Engenheiro, professor, mestre em ciências de engenharia elétrica- sistema de potência-COPPE-Ufrj, projetista em eficiência energética, energia solar e estação de carregamento de veículo elétrico, inclusive com carpot para geração solar.

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