O Brasil se consolida como um dos principais destinos globais para investimentos na transição energética, segundo aponta o Brazil Transition Factbook 2025, elaborado pela BloombergNEF em parceria com a Bloomberg Philanthropies.
O relatório antecipa os temas que devem dominar a agenda da COP30, prevista para ocorrer no país em 2025, e destaca o potencial nacional para liderar setores-chave da descarbonização global.
Em 2024, o país recebeu US$ 37 bilhões em investimentos voltados à transição energética — o segundo maior volume entre mercados emergentes, atrás apenas da China. A maior parte dos recursos foi destinada à energia solar em pequena escala, seguida pelos segmentos de redes elétricas e transporte eletrificado.
De acordo com o estudo, a matriz elétrica brasileira já é a mais limpa entre os países do G-20, com 88% de geração proveniente de fontes renováveis. No entanto, a eletrificação de setores como transporte, indústria e edificações será fundamental para que o país atinja suas metas de neutralidade de carbono até 2050, já que ainda há uma alta dependência de combustíveis fósseis.
“A transição energética no Brasil representa uma oportunidade econômica de US$ 6 trilhões até 2050. O país possui a geração de eletricidade mais limpa entre os países do G20. Nos últimos anos, houve um aumento significativo na geração eólica e solar, e espera-se que o armazenamento de energia ganhe escala em breve. No entanto, a demanda primária de energia no Brasil ainda depende significativamente de combustíveis fósseis.”, afirma o relatório.
Armazenamento de energia avança diante de novos desafios da rede
Nesse contexto, a BloombergNEF destaca que o armazenamento de energia deve se tornar um dos principais vetores de expansão nos próximos anos. A crescente limitação da rede elétrica — que tem dificultado o despacho pleno de fontes renováveis — aliada à redução dos custos das baterias, cria um cenário favorável à consolidação dessa tecnologia no país.
A expectativa é que, até 2035, o custo de sistemas de armazenamento com duração de quatro horas caia entre 45% e 57% em relação aos valores atuais. Essa projeção considera os chamados sistemas turnkey, que englobam todos os equipamentos necessários para o projeto, com exceção das etapas de engenharia, suprimentos, construção (EPC) e conexão à rede elétrica.
Os valores analisados levam em conta a capacidade utilizável dos sistemas e, nos dados mais recentes (2023 e 2024), refletem uma média ponderada por volume e região para diferentes durações. Já os preços históricos, entre 2017 e 2022, se referem exclusivamente a sistemas com duração de quatro horas.
Entretanto, o Brasil ainda depende fortemente de importações, sobretudo da China, responsável por cerca de 75% da produção global de baterias. Para reverter esse cenário, o relatório recomenda incentivos à produção local ou isenção de impostos de importação, além de destacar o potencial do país em recursos minerais estratégicos — que, embora abundantes, ainda não são explorados em escala industrial.
Caminhos para a descarbonização
O relatório da BNEF traz dois cenários para a descarbonização da economia brasileira: o Cenário de Transição Econômica (ETS), mais conservador, e o Cenário de Emissões Net-Zero (NZS), que prevê a neutralidade até 2050. Para atingir a meta mais ambiciosa, será necessário reduzir em 70% as emissões de energia até 2040.
Entre as tecnologias consideradas críticas para o avanço estão: veículos elétricos, armazenamento de energia, hidrogênio verde e biocombustíveis sustentáveis (SAF). No setor de transportes, por exemplo, as vendas de veículos elétricos no Brasil mais que dobraram em 2024, atingindo 6% do total de automóveis vendidos.
O papel da indústria e das finanças sustentáveis
A indústria brasileira também tem dado passos na descarbonização. O país já investiu US$ 1,5 bilhão em projetos de indústria limpa desde 2018, com destaque para o setor de aço verde, impulsionado pelo uso de biomassa. O relatório aponta o Brasil como o país com menor custo de produção de aço de baixo carbono até 2030, à frente de potências como Alemanha, Japão e EUA.
“Até 2030, o aço de baixa emissão poderá competir com as formas mais caras de produção tradicional em quase todos os mercados analisados”, avalia o relatório.
No campo das finanças sustentáveis, o Brasil se destaca pelo desenvolvimento de uma taxonomia verde nacional, prevista para ser finalizada em julho de 2025. A expectativa é que ela ajude a direcionar investimentos para projetos com impacto ambiental positivo e amplie a transparência do mercado.
Agricultura, biodiversidade e mercados de carbono
Além da energia, o relatório enfatiza o protagonismo do Brasil em soluções baseadas na natureza. O país lidera o mercado global de créditos de carbono florestais (REDD+) e possui o maior potencial mundial para práticas agrícolas regenerativas.
“A BNEF estima que cerca de 75% da redução de emissões no Brasil até 2050 poderá vir de projetos REDD+, seguidos por reflorestamento (23%) e práticas agrícolas sustentáveis (2%)”, diz o relatório.
No entanto, alerta para os riscos crescentes à biodiversidade devido ao avanço do desmatamento e mudanças no uso da terra.
Com a realização da COP30 no Brasil, o país terá a oportunidade de influenciar diretamente as regras do mercado global de carbono — especialmente os mecanismos do Artigo 6 do Acordo de Paris, ainda em negociação.
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