Responsável pela operação da TrinaTracker em toda a América Latina e Caribe, Felipe Tukamoto acompanha de perto os desafios e oportunidades do setor fotovoltaico na região.
Em entrevista, o gerente de produto destaca o protagonismo do Brasil no mercado solar, mas reconhece que o cenário atual é marcado por instabilidade regulatória, tributária e operacional.
Ainda assim, Tukamoto ressalta a resiliência do mercado brasileiro e aponta para um futuro promissor, impulsionado por projetos de grande porte, avanços tecnológicos e novas soluções em armazenamento.
Nesta conversa, ele detalha as estratégias da TrinaTracker, o papel da fábrica em Salvador, o recém-inaugurado centro de inovação em Sorocaba e as expectativas para a Intersolar 2025.
Como você avalia o atual momento do mercado de energia solar no Brasil?
Felipe Tukamoto: Primeiro, obrigado pela oportunidade. Olhando para a região, eu sou responsável por toda a América Latina até o México e, sem dúvida, o Brasil é o principal motor desse mercado: maior volume de vendas, mais projetos e maior potencial.
Mas hoje o cenário está marcado por certa instabilidade.
Sentimos os efeitos de mudanças regulatórias, novos impostos sobre painéis, alto custo do capital, volatilidade cambial e até restrições de escoamento de energia – o famoso curtailment. Tudo isso tem levado alguns clientes a adiar investimentos.
Apesar disso, os projetos de grande porte, especialmente em geração centralizada, seguem sendo os grandes motores do setor. Uma única usina de utility-scale representa, em impacto, dezenas de projetos de geração distribuída. Ainda vemos espaço em GD, sobretudo em usinas de maior escala, mas o protagonismo está mesmo nos projetos utilitários.
E olhando para frente, quais as perspectivas para os próximos anos?
O Brasil é um mercado desafiador, mas muito resiliente. Apesar das dificuldades recentes, acreditamos que o setor tende a se regular e encontrar um caminho de crescimento. Vimos 2025 como um ano de ajustes, mas o potencial de expansão continua forte. Há otimismo, principalmente em relação a novos investimentos e à maturidade dos clientes.
A TrinaTracker mantém uma fábrica em Salvador. Como está a operação por lá?
Sim, nossa unidade em Salvador tem capacidade de 2,5 GW anuais e foi pensada principalmente para o mercado brasileiro, garantindo competitividade frente ao produto importado. Além de fabricação, ela funciona como centro de estoque de componentes pós-venda – isso nos permite responder mais rápido a qualquer necessidade de substituição e reduzir riscos de perda de geração para o cliente.
Outro ponto importante é que a produção local nos credencia junto ao BNDES, oferecendo mais uma alternativa de financiamento aos clientes. Hoje, a planta está em plena operação, sem capacidade ociosa.
O Brasil apresenta algum desafio específico para o uso de trackers?
Sim, e cada vez mais. Os melhores terrenos já foram ocupados, e agora lidamos com áreas mais complexas – solos irregulares, condições ambientais extremas, ventos fortes em algumas regiões. Isso exige soluções robustas e adaptadas.
Por isso, temos uma equipe local de engenharia que adapta cada projeto às condições da usina. Nosso objetivo é reduzir custos de movimentação de terra, quantidade de cabos, fundações e, sobretudo, diminuir o LCOE (custo nivelado de energia). Esse é o grande foco dos clientes hoje.
E no campo tecnológico, em que estágio estamos e quais os diferenciais da TrinaTracker?
A Trina tem uma vantagem única: atuamos tanto em módulos quanto em trackers. Isso garante compatibilidade, simplifica a integração e fortalece nosso pós-venda.
Em termos de inovação, destaco o nosso controlador TCU e o algoritmo SuperTrack, que ajusta o posicionamento dos painéis em tempo real para otimizar a geração – inclusive em dias nublados ou com radiação difusa. Isso garante mais energia e menos preocupação ao longo da vida útil da planta, que pode chegar a 30 anos.
Essa combinação de robustez, inovação e suporte explica nosso crescimento. Em quatro anos de operação, saímos da 15ª para a 3ª posição em market share na região, segundo dados da McKinsey.
Recentemente vocês inauguraram um centro de inovação em Sorocaba. Qual a proposta desse espaço?
Eu tive a oportunidade de liderar esse projeto. O objetivo é triplo: criar um espaço próximo de São Paulo para receber clientes e apresentar nossas soluções em módulos, trackers e, em breve, baterias; formar uma equipe dedicada à pesquisa e desenvolvimento para otimizar nossas tecnologias; e oferecer capacitação teórica e prática, formando profissionais mais qualificados para o setor fotovoltaico.
É um projeto que começou pequeno, mas com enorme potencial de expansão.
E na Intersolar deste ano, como será a participação da TrinaTracker?
Vamos levar toda a nossa linha de negócios: módulos, trackers e baterias. Teremos um mockup de tracker montado no estande, módulos em exposição e até um container em escala reduzida da nossa bateria.
Também faremos demonstrações de eletroluminescência nos painéis e teremos nossa equipe disponível para atender clientes e visitantes. A ideia é mostrar inovação, mas também abrir espaço para diálogo e troca de conhecimento.
Para encerrar: quais são os planos da Trina para consolidar sua presença no Brasil?
Hoje, o mercado está mais maduro. O desenvolvedor já não busca apenas preço, mas soluções que tragam retorno econômico real e impacto positivo no LCOE. Por isso, além do produto, oferecemos suporte técnico, estudos de value assessment e acompanhamento próximo com equipe local e estoque de peças.
Nosso objetivo é fortalecer esse vínculo de confiança com os clientes. Não fornecemos apenas trackers ou módulos – entregamos uma solução completa, com confiabilidade, suporte rápido e geração otimizada.
E, claro, as baterias terão um papel central nessa estratégia. Já temos projetos no Chile e acreditamos que o Brasil demandará muito em armazenamento nos próximos anos. É um caminho sem volta, e a Trina já está preparada para essa transição.
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