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Brasil pode liderar transição energética, mas precisará trilhar longo caminho 

Estudo do IEMA traz orientações e pontua desafios que o país enfrenta para incluir crescente volume de projetos renováveis
Brasil pode liderar transição energética, mas precisará trilhar longo caminho 
Fontes renováveis no Brasil têm registrado crescimento alinhado à meta da ONU. Foto: Freepik

O Brasil tem todo o potencial do mundo para se colocar como um dos principais países líderes da transição energética, mas, para isso, ainda precisará trilhar um longo caminho de aprimoramentos socioambientais, regulatórios, operacionais, de planejamento e de formação de preços.

É o que aponta o estudo “Integração de energias renováveis ao sistema elétrico brasileiro”, do IEMA (Instituto de Energia e Meio Ambiente), em parceria com a Coalizão Energia Limpa, divulgado nesta quinta-feira (15). 

O documento reconhece os desafios que o Brasil enfrenta para incluir o crescente volume de projetos de fontes renováveis, como solar, eólica e biomassa, no sistema elétrico nacional e traz orientações para que o país atinja esse objetivo. 

A participação de fontes renováveis está alinhada ao documento final da COP 28 (Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima), realizada no ano passado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, que indica a necessidade do planeta triplicar a produção de energias renováveis e dobrar a eficiência energética até o fim desta década.

O estudo aponta que as fontes renováveis no Brasil, excluindo as hidrelétricas, têm registrado um crescimento alinhado à meta proposta pela ONU (Organização das Nações Unidas), com as fontes eólica e solar saltando juntas de 35,4 GW para 66 GW de capacidade instalada, um crescimento de 89% entre janeiro de 2022 e 2024. 

Se incluídas as fontes hidrelétrica e biomassa, o crescimento das renováveis no período foi de 160,6 para 192,8 GW. A contribuição do Brasil, inclusive, é destaque no balanço de crescimento global de energias renováveis da IEA (Agência Internacional de Energia). 

Contudo, o documento chama atenção para o fato de que falta ao país colocar todo esse potencial de produção em prática de maneira mais eficiente. 

“Estamos em um momento de grandes mudanças na matriz elétrica brasileira e, para que sejamos capazes de acomodar o volume de fontes renováveis oferecidas pelo mercado e projetadas no texto da COP 28, são necessários ajustes para aprimorar o funcionamento do sistema”, descreve Ricardo Baitelo, gerente de projetos do IEMA e autor do estudo.

Ações necessárias

Para o instituto, as principais ações necessárias para uma melhor integração das fontes renováveis na matriz elétrica podem ser divididas nas áreas de regulação, planejamento, operação e critérios econômicos.

A primeira proposta apresentada pelo IEMA em seu estudo é a mudança no papel estratégico das hidrelétricas. 

“Para além da oferta de energia elétrica, com a qual contribuem maciçamente, a operação das usinas pode potencializar importantes serviços ao sistema para o armazenamento de energia de forma econômica e para o atendimento de potência em momentos críticos, equacionando a variabilidade das fontes eólica e solar, bem como incidentes de transmissão”. 

Um exemplo de proposta de adaptação de operação citada pelo estudo seria a hidrelétrica de Sobradinho, na Bahia, cuja localização estratégica permitiria parte do seu uso para a prestação de serviços de flexibilidade, ou seja, parte da energia da usina se prestaria a um atendimento específico de potência, o que envolveria a diminuição de sua garantia física. 

Usina hidrelétrica de Sobradinho, na Bahia. Foto: Marcello Casal/Agência Brasil 

Segundo o Instituto, a modernização de hidrelétricas para uso reversível, no qual a água dos reservatórios pode ser novamente bombeada e aproveitada, é outra alternativa que contribuiria com mais energia ao sistema e implicaria a implantação de uma remuneração apropriada pelo serviço prestado.

“A partir dessas propostas, as grandes hidrelétricas já existentes e a atual rede de transmissão continuariam dando segurança ao fornecimento de energia, complementando as fontes de energia solar e eólica”, destaca o estudo. 

Um outro ponto levantado diz respeito à transmissão de energia, uma vez que o Instituto avalia que é preciso ter planejamento superior a cinco anos para conciliar o ritmo de crescimento de fontes renováveis à expansão das redes. 

“Há mais de 70 GW de projetos solares em planejamento apenas em estados do Nordeste e serão necessárias mais linhas de transmissão para dar conta desse crescimento, como os exemplos da linha de Janaúba para reforçar o escoamento de energia ao Sudeste ou da expansão da rede entre o Maranhão e Goiás”.

Para o IEMA, equacionar o avanço da transmissão de eletricidade é uma tarefa complexa e que necessita de amplos estudos. “A extensão de linhas de transmissão do Brasil já está na casa de 180 mil km em 2022, permitindo, por um lado, maior capacidade de intercâmbio de energia entre todas as regiões e fontes de geração de energia”. 

O estudo, contudo, ressalta que, por outro lado, é necessário que se façam estudos e análises para otimizar a expansão da transmissão, evitando a existência de ociosidade de linhas já construídas. 

Em complementação ao aumento da capacidade de transmissão, o IEMA destaca ainda que outro aliado para potencializar a expansão de fontes renováveis intermitentes seriam os sistemas de armazenamento de energia.

“A instalação de bancos de bateria junto a sistemas renováveis poderia reduzir as flutuações de tensão e aumentar a adequação dessas fontes ao sistema. Estabiliza ainda a variação do fornecimento da geração renovável em determinados momentos, nivelando o suprimento e reduzindo seu desperdício”, destaca. 

Outra vantagem citada dos sistemas de armazenamento é a redução do custo de ampliação do sistema de transmissão, ao evitar ou postergar a construção de novas linhas de transmissão.

O estudo também cita a necessidade de mais parques híbridos, que conjugam energia solar e eólica, solar e hidrelétrica, entre outras opções. “A combinação de usinas solares e parques eólicos traz ganhos econômicos, ao aproveitar a mesma subestação e rede de transmissão, além de reduzir custos operacionais”.

Infelizmente, segundo o estudo, esse tipo de sistema ainda se concentra no estágio de projetos de pesquisa e desenvolvimento ou em pequenos parques nos sistemas isolados de eletricidade, como em Roraima. 

Por fim, outro destaque classificado como “igualmente importante” pelo estudo  é o crescente papel da GD (geração distribuída). “O consumidor residencial, comercial ou industrial tem cada vez mais produzido eletricidade e isso influenciará o fluxo e a demanda de acordo com períodos do dia”. 

De acordo com o IEMA, a curva de carga desses sistemas tem um suplemento concentrado no período diurno, que necessita ser reposto por outras fontes ao cair do sol. 

“Nesse caso, a potência despachável é fundamental para manter a segurança do sistema elétrico. Novas tecnologias e métodos de armazenamento de energia, centralizado ou distribuído, podem cumprir essa função e devem estar disponíveis no portfólio de opções do operador nacional, bem como dos operadores das redes de distribuição”, frisa o estudo, que pode ser acessado por meio deste link

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Henrique Hein
Atuou no Correio Popular e na Rádio Trianon. Possui experiência em produção de podcast, programas de rádio, entrevistas e elaboração de reportagens. Acompanha o setor solar desde 2020.

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