A COP30, realizada entre os dias 10 e 22 de novembro de 2025 em Belém (PA), chegou ao fim neste final de semana, deixando um saldo misto.
De um lado, avanços relevantes em financiamento climático e adaptação; do outro, frustração pela ausência de medidas robustas para reduzir combustíveis fósseis, além de episódios que expuseram desafios organizacionais.
O principal avanço foi o acordo para triplicar os recursos globais destinados à adaptação até 2035, além do endosso ao Roadmap Baku-to-Belém, que prevê a mobilização de até US$ 1,3 trilhão por ano em fundos públicos e privados de combate às ações climáticas.
Também houve progressos em temas como proteção de florestas tropicais e governança multilateral. Por outro lado, a conferência terminou sob críticas: o texto final não trouxe um compromisso claro de eliminação dos combustíveis fósseis e frustrou parte da comunidade científica.
Além disso, o incêndio que evacuou a área principal do evento e a presença recorde de lobistas do setor fóssil também foram pontos negativos que chamaram a atenção do mundo.
Veja o que marcou o evento e como fica a agenda climática após a COP30.
Avanços e pontos positivos
Triplicação dos recursos para adaptação
Um dos resultados mais celebrados da COP30 foi o acordo para triplicar o financiamento global destinado à adaptação até 2035, ampliando o apoio a países que já convivem com os efeitos mais severos da crise climática. A medida foi vista como um avanço essencial para proteger populações altamente vulneráveis a eventos extremos e que tendem a se intensificar nas próximas décadas.
Além do aumento no volume de recursos, o acordo estabelece regras mais claras de monitoramento e transparência, e recomenda que uma parcela significativa do financiamento seja direcionada a governos locais, comunidades tradicionais e pequenos produtores, que historicamente enfrentam mais barreiras para acessar fundos internacionais.

Reforço ao multilateralismo climático
Apesar das tensões geopolíticas globais, a COP30 conseguiu preservar o consenso multilateral e reforçou o papel do Brasil como articulador climático. O país anfitrião impulsionou debates sobre justiça climática, proteção das florestas tropicais e inclusão social.
A realização da Cúpula de Líderes, promovida cerca de uma semana antes da conferência e reunindo chefes de Estado de diferentes países, também foi considerada um ponto positivo por ajudar a criar um ambiente mais favorável para consensos entre as principais nações globais.
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Visibilidade inédita aos povos indígenas
Por ter sido realizada às portas da Amazônia, a COP30 deu um protagonismo inédito aos povos originários, colocando suas demandas e conhecimentos tradicionais no centro das discussões, com participação ampliada em painéis, reuniões ministeriais e espaços de negociação. O evento também reforçou a importância de garantir financiamento direto para povos indígenas e comunidades tradicionais.

Crises e pontos negativos
Nenhuma meta para eliminar combustíveis fósseis
A maior crítica do evento recai sobre o texto final, que não estabeleceu um roadmap para eliminar gradualmente a produção e o uso de combustíveis fósseis. Apesar das expectativas geradas antes da conferência, a formulação adotada acabou adotando termos genéricos, como “redução” e “transição energética”, sem referências explícitas à necessidade de eliminação ou redução acelerada dos combustíveis fosseis.

Incêndio em área do evento gerou evacuação
Um dos momentos mais tensos da COP30 ocorreu quando um incêndio atingiu a área “Zona Azul”, provocando a evacuação de delegações e jornalistas. Treze pessoas foram tratadas por inalação de fumaça. O episódio expôs falhas de infraestrutura e atrasou parte das negociações.

Presença recorde de lobistas do setor fóssil
A COP30 registrou a maior presença já registrada de representantes da indústria de petróleo e gás: mais de 1.600 lobistas credenciados. A participação massiva desses grupos acendeu um alerta sobre a possível influência corporativa na redação final dos textos, especialmente diante da ausência de metas claras de mitigação.
A situação gerou reação imediata de organizações da sociedade civil: ativistas protestaram dentro e fora do evento, exigindo a exclusão de grandes corporações fósseis das negociações climáticas e cobrando maior transparência no processo decisório.

O que foi aprovado na COP30
A COP30 encerrou com a aprovação de 29 textos oficiais, resultado de um consenso envolvendo 129 países. Entre os principais:
- Mutirão (CMA.6): reafirmou o compromisso com a transição global de baixas emissões e a aceleração das metas nacionais alinhadas ao limite de 1,5 °C.
- Programa de trabalho de transição justa: criação de um mecanismo para apoiar políticas que garantam empregos e inclusão durante a transição energética.
- Balanço Global (Global Stocktake): manutenção do processo de avaliação contínua das ações climáticas, com base nas recomendações da COP28.
- Artigo 2.1 (c): reforçou o alinhamento dos fluxos financeiros internacionais com economias de baixa emissão e maior resiliência.
- Medidas de resposta: estabeleceu um fórum dedicado aos impactos socioeconômicos da transição, com foco em emprego e competitividade.
- Fundo de perdas e danos: avançou na operacionalização do fundo, permitindo financiamento direto entre 2025 e 2026 sob as modalidades de Barbados.
- Fundo de adaptação: ampliou o teto de financiamento por país de US$ 10 milhões para US$ 25 milhões.
- Objetivo global de adaptação (GGA): aprovou a primeira estrutura global de indicadores para medir vulnerabilidades e ações de resiliência.
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