Um estudo da Volt Robotics, divulgado nesta segunda-feira (22), revelou que, entre janeiro e agosto de 2025, 17,6% da energia que poderia ser gerada por usinas eólicas e solares foi “cortada” pelo ONS (Operador Nacional do Sistema).
O principal motivo foi a falta de demanda para absorver a oferta de energia renovável. Esse índice de curtailment já supera em mais de três vezes o registrado ao longo de todo o ano de 2024.
Segundo a consultoria, considerando o valor dos contratos no mercado regulado, os cortes de geração representaram R$ 3,2 bilhões em prejuízos apenas nos primeiros sete meses de 2025. Desde outubro de 2021, quando o ONS passou a divulgar os dados, até agosto de 2025, as perdas acumuladas chegam a R$ 6 bilhões.
O curtailment é uma decisão técnica do ONS que determina a interrupção temporária da geração de energia, seja por falta de demanda, indisponibilidade de transmissão ou necessidade de preservar a confiabilidade do sistema.
Para os geradores remunerados pelo volume efetivamente produzido, como no caso dos contratos do Proinfa e dos leilões de reserva, o impacto é direto na receita.
Já os agentes do mercado livre, que precisam garantir a entrega contratual, são obrigados a comprar energia no mercado para honrar seus compromissos.
Dados do ONS, monitorados e analisados pela consultoria, indicam que, apenas no mês de agosto deste ano, as usinas solares sofreram cortes de 36% de seu potencial de geração: foram 1,3 mil GWh desperdiçados, gerando perdas equivalentes a R$ 240 milhões.
No caso das eólicas, os cortes chegaram a 21% em agosto, com quase 3 mil GWh cortados e prejuízo de R$ 641 milhões.
No total, segundo a Volt, cerca de 4,3 mil GWh deixaram de ser gerados no mês e o prejuízo dos geradores de renováveis somou R$ 881 milhões.
Os cortes se concentraram em Minas Gerais (37,8%), Ceará (33,5%), Rio Grande do Norte (30,3%) e Pernambuco (29,4%). Eles ocorrem principalmente entre 9h e 16h, com maior intensidade nos fins de semana.
Causas estruturais e crescimento acelerado dos cortes
Para a Volt Robotics, a atual crise é consequência de anos de forte incentivo à expansão renovável, impulsionada pela queda de custos e avanços tecnológicos em solar e eólica. Porém, sem infraestrutura de escoamento e flexibilidade do sistema, os cortes se intensificaram:
- 2022: 51 MWm cortados (jan-ago)
- 2023: 150 MWm (+195%)
- 2024: 987 MWm (+557%)
- 2025: 3.256 MWm (+230%)
A consultoria compara o cenário atual com crises hídricas anteriores. “O que se espera de todas as lideranças é um senso de urgência semelhante ao das crises de 2014, 2015 e 2021 – sem falar em 2001. Naquelas ocasiões, houve ampla mobilização para garantir o suprimento de energia. Agora, com o Brasil colocando em risco seu futuro como potência renovável, não deveríamos ter a mesma urgência?”, pontua a consultoria.
Oito propostas para enfrentar o curtailment
O estudo lista medidas emergenciais para reduzir cortes e mitigar prejuízos:
1. Acelerar obras de transmissão – expandir a capacidade de escoamento do Nordeste para o Sudeste.
2. Leilões de curtailment – criar mecanismos para estimular o consumo em horários de maior oferta, com preços mais baixos.
3. Ressarcimento dos geradores – regulamentar compensações financeiras pela energia não gerada por restrições do sistema.
4. Tarifas inteligentes – acelerar a instalação de medidores inteligentes e adotar preços diferenciados para incentivar o consumo em horários de sobra.
5. Maior flexibilidade da geração hidrelétrica – reduzir produção em horários de corte, liberando espaço para renováveis.
6. Gestão da MMGD – incentivar ajustes na geração distribuída, adoção de armazenamento e tarifas multipartes em novos projetos.
7. Flexibilização da geração térmica – renegociar contratos ou investir para reduzir a inflexibilidade das usinas.
8. Implantação do V2G (Vehicle-to-Grid) – permitir que veículos elétricos atuem como baterias, absorvendo ou injetando energia conforme sinais do sistema.
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