O Nordeste do Brasil apresenta elevado potencial para instalação de datacenters, principalmente devido à oferta abundante de energia renovável, em especial de origem solar fotovoltaica – fonte que hoje enfrenta gargalos locais.
Isso, seja para escoamento da geração, prejudicada pelos cortes por falta de demanda (curtailment) ou por restrições nos sistemas de transmissão.
Outra oportunidade não menos relevante que pode emergir desse potencial favorável para a recepção de datacenters é o da contratação de serviços voltados à otimização da eficiência energética nessas instalações.
A região Nordeste impõe um maior consumo de energia para refrigeração em datacenters, que pode ser entre 30% e 40% superior em comparação com o Sul do país, conforme aponta Victor Ribeiro, consultor estratégico da Thymos Energia.
A empresa produziu um amplo estudo recente a respeito da atratividade do Brasil para o desenvolvimento desse segmento de TI (Tecnologia da Informação).
Essa particularidade do Nordeste, conforme acrescenta Ribeiro, contrasta com a prática das big techs em outros países, que optam por construir datacenters em locais de climas mais amenos, como Noruega e Finlândia, por exemplo, a fim de minimizar gastos com resfriamento.
O Nordeste, no entanto, se vale de uma significativa vantagem em termos de conectividade e latência – tempo que um dado leva para ir de um ponto a outro em uma rede. Há também disponibilidade de cabos submarinos, que posicionam a região, notadamente o Ceará, como um hub estratégico para a internet no Brasil.
Tropicalização
A robusta expansão do uso de IA (Inteligência Artificial) – que exige de 10 a 100 vezes mais energia que uma busca convencional – reforça ainda mais a chance de abertura de uma frente de negócios para empresas especializadas em oferecer soluções para melhorar a eficiência energética em indústrias, comércios e infraestrutura pública, as chamadas ESCOs (Energy Service Companies).
Bruno Lima, presidente da Abesco (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia), enfatiza que os datacenters já consomem atualmente de 1% a 2% da energia global, com expectativa de chegar a 3% nos próximos anos.
Segundo ele, o principal foco de consumo é o trabalho de processamento executado pelos equipamentos. São tarefas que demandam cerca de 70% e 80% da energia em um data center bem calibrado.
Contudo, a necessidade de manter esses equipamentos em temperaturas de trabalho adequadas torna o resfriamento um processo que consome entre 20% e 30% da energia total da instalação, além daquela que é destinada para fins de segurança e iluminação.
“Nesse cenário, as ESCOs podem desempenhar um papel fundamental ao auxiliar na ‘tropicalização’ desses sistemas. Ou seja, muitos projetos de data centers chegam ao Brasil já consolidados do exterior, necessitando, no entanto, de adaptações às condições locais para reduzir os custos com climatização”, observa Lima.
Vantagem extra
Um outro ponto importante em termos de equilíbrio sistêmico da rede de transmissão é que as instalações de data centers, lembra Victor Ribeiro, da Thymos Energia, podem ser programadas para absorver o consumo excedente de energia renovável, contribuindo para evitar o curtailment.
Ainda de acordo com o estudo da Thymos Energia, dados do MME (Ministério de Minas e Energia), assinalam pedidos de conexão à rede básica da ordem de 9 GW de cargas de data centers nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia.
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