O aumento da temperatura média, a intensificação de eventos extremos e a maior frequência de ventos fortes, chuvas intensas e queimadas podem comprometer a eficiência dos módulos fotovoltaicos e causar danos estruturais às usinas.
No caso da GD (geração distribuída), que compreende também instalações em telhados residenciais, a vulnerabilidade é ainda maior, devido à menor robustez das estruturas frente a ventos severos, granizo e inundações.
Esses são alguns dos principais destaques de estudo realizado pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética) que avaliou em detalhes os impactos que vêm sendo causados pelas mudanças climáticas sobre os ativos da fonte solar.
Os riscos são crescentes, segundo aponta EPE, que acaba de publicar um “fact sheet” dedicado ao tema, juntamente com outros três exemplares, que tratam, respectivamente, de geração eólica, geração hidrelétrica e de sistemas de transmissão. Os conteúdos foram extraídos de estudos aprofundados.
As descrições em relação à fonte solar se baseiam em casos reais. Ventos acima de 100 km/h em Tocantins provocaram a indisponibilidade de 36 unidades geradoras, enquanto enchentes no Rio Grande do Sul e queimadas em áreas do Norte e Centro-Oeste reduziram a produção solar pela obstrução da radiação.
O aumento da nebulosidade, associado a mudanças nos regimes de precipitação, também ameaça reduzir a irradiação solar em determinadas regiões, prejudicando a previsibilidade da geração.
As projeções climáticas indicam tendências preocupantes: elevação da temperatura média em todo o país, aumento de chuvas extremas no Sudeste, Sul e Norte, e intensificação de ventos severos em quase todas as regiões.
Embora haja expectativa de maior irradiação na superfície no Norte, Nordeste e parte do Centro-Oeste, esse ganho pode ser neutralizado por maiores riscos de incêndios e secas prolongadas.
A vulnerabilidade estrutural da geração solar no Brasil está ligada à dependência direta da irradiação e ao dimensionamento dos equipamentos para condições climáticas que já não refletem a realidade futura, segundo a EPE.
O avanço da modalidade — que cresceu 131% ao ano entre 2016 e 2024 e hoje responde por quase 10% da geração nacional — exige adaptações urgentes para garantir resiliência.
Nesse contexto, a EPE tem focado na identificação de meios para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. No curto prazo, defende medidas como reforço de infraestruturas, adoção de equipamentos mais resistentes e elaboração de planos de emergência para eventos extremos.
No médio e longo prazo, aposta no aprimoramento dos modelos climáticos, na inclusão dos impactos do aquecimento global nos estudos de planejamento e no fortalecimento da regulação, com certificações e padrões técnicos para micro e minigeração distribuída.
O tema já está incorporado ao Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2034) e ao Plano Nacional de Energia (PNE 2050 e 2055), que tratam da segurança de abastecimento em cenários extremos.
Também está em andamento, com apoio de órgãos como INPE e ANA, um estudo específico para avaliar a resiliência da matriz elétrica, com foco nos efeitos das mudanças climáticas sobre fontes renováveis.
A EPE destaca ainda a necessidade de ampliar pesquisa, inovação e comunicação, disseminando boas práticas junto a investidores, gestores e comunidades locais. Para a estatal, o grande desafio será equilibrar os custos de adaptação e de manutenção mais frequente com a preservação da modicidade tarifária.
Se por um lado o futuro reserva oportunidades, como o aumento da irradiação em algumas regiões, por outro exige respostas rápidas e coordenadas. Sem adaptação, a energia solar corre o risco de perder parte de seu protagonismo na matriz elétrica brasileira — justamente no momento em que se consolida como peça-chave da transição energética, avisa a EPE.
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