“Energia solar se tornou peça-chave na estratégia de descarbonização da Seara”

Canal Solar entrevistou Vamiré Luiz Sens Júnior, gerente-executivo de Sustentabilidade Agropecuária da empresa
“Energia solar se tornou uma peça-chave na estratégia de descarbonização da Seara”
Vamiré Luiz Sens Júnior, gerente-executivo de sustentabilidade agropecuária da Seara. Foto: LinkedIn/Reprodução

Em janeiro deste ano, o Canal Solar publicou uma reportagem mostrando que cerca de 70% dos produtores integrados de frango da Seara no Brasil já utilizam energia solar em suas granjas. O avanço é expressivo, considerando que há cinco anos esse número era de apenas 5%.

Somente no último ano, a geração fotovoltaica nas granjas dos produtores integrados à companhia atingiu 205.182.885,60 kWh – o suficiente para abastecer uma cidade com mais de 90 mil habitantes por um ano.

Com o objetivo de aprofundar o entendimento sobre essa iniciativa e inspirar outras empresas a adotarem soluções sustentáveis, o Canal Solar entrevistou Vamiré Luiz Sens Júnior, gerente-executivo de Sustentabilidade Agropecuária da Seara.

Durante a conversa, o executivo detalhou o desenvolvimento do projeto, os desafios enfrentados e a importância da energia solar para o agronegócio brasileiro. Ele também explicou a inspiração por trás da iniciativa e como a fonte solar tem se consolidado como um pilar essencial para a sustentabilidade da empresa.

Confira abaixo a entrevista completa: 

Granjas integradas a Seara somaram 205.182.885,60 kWh em um único ano. Foto: Seara/Divulgação

Como surgiu a iniciativa de incentivar o uso da energia solar entre os produtores integrados de frango da Seara?

Um dos nossos objetivos na Seara é incentivar práticas sustentáveis entre os nossos integrados como o uso de painéis fotovoltaicos. Essa é uma solução que, além de reduzir os custos de produção, ainda promove a utilização de energia renovável e de baixo impacto ambiental, o que contribui para a diminuição da pegada de carbono.

Por meio de um checklist, incentivamos os produtores integrados baseadas no cumprimento de metas relacionadas a bem-estar animal, manejo de resíduos e adoção de energias renováveis, como painéis solares ou biogás. Esse checklist recompensa quem adota soluções mais sustentáveis.

Quais foram os principais desafios enfrentados pela Seara e pelos produtores para atingir a marca de 70% de adesão?

Um dos principais desafios foi garantir que o investimento inicial fosse viável para todos os produtores, além da adaptação das tecnologias para a instalação dos painéis solares, que exigem um processo de capacitação e acompanhamento técnico constante, que demanda tempo e recursos.

Embora a redução de custos com energia elétrica seja evidente, outro desafio foi a conscientização sobre os benefícios a longo prazo. Por isso, oferecemos toda a estrutura de incentivo para tornar a adoção mais atraente e acessível aos produtores. No entanto, posso afirmar que, superados esses desafios, a adesão crescente à energia solar se consolidou como um marco e um case de sucesso no campo.

De que forma a empresa mensura o impacto positivo dessa transição para energia solar?

Mensuramos esse impacto positivo de forma estratégica: ao tornar a energia elétrica mais sustentável e barata. Com isso, o produtor ganha mais recursos para investir em tecnologias que aumentam a eficiência. Isso resulta em um ciclo virtuoso, pois a maior eficiência melhora a qualidade de vida do produtor e a qualidade do produto final. Esse processo também está alinhado com questões sociais e ambientais, criando um impacto positivo em várias frentes.

Qual foi o papel da Seara no apoio financeiro ou consultivo para a instalação dos painéis fotovoltaicos?

Buscamos oferecer uma verdadeira consultoria estratégica para os produtores na instalação de painéis fotovoltaicos. Com uma equipe técnica especializada, sanamos as dúvidas dos produtores integrados, além de orientá-los de forma clara sobre os investimentos mais viáveis e sustentáveis a longo prazo.

O acompanhamento técnico inclui a adaptação de tecnologias necessárias para as granjas, garantindo que a transição seja eficiente. Além disso, como líder no setor, a Seara incorporou a sustentabilidade em sua política de remuneração, reforçando a importância de boas práticas e incentivando os produtores a seguir o exemplo, alavancando o compromisso ambiental.

Como o uso de energia solar reflete na redução de custos de produção para os avicultores?

Além dos benefícios ambientais, as energias renováveis ajudam a reduzir custos com energia elétrica, que é a segunda maior despesa nas granjas. A instalação de painéis solares, por exemplo, pode se pagar em cerca de dois anos, considerada a economia gerada em comparação com o sistema convencional.

Com a energia solar, as granjas se tornam mais auto suficientes, gerando sua própria eletricidade e diminuindo a dependência da rede elétrica, o que também reduz o impacto de quedas de energia ou flutuações nos preços. Além disso, os sistemas solares exigem pouca manutenção, o que diminui custos adicionais. Com isso, as propriedades com infraestrutura sustentável têm mais valor no mercado.

Além da redução de custos, quais são os principais benefícios ambientais gerados pelo uso de energia solar nas granjas?

Além de reduzir significativamente os custos operacionais, que podem representar até 26% do custo de produção nas granjas, a energia solar traz benefícios ambientais expressivos. Ao diminuir a dependência de fontes convencionais, a energia fotovoltaica reduz a emissão de gases de efeito estufa, contribuindo para a descarbonização da produção.

Essa mudança não só melhora a sustentabilidade das operações, mas também transforma a economia gerada em margens mais vantajosas para os produtores. Dessa forma, a energia solar proporciona uma vantagem competitiva, além de fortalecer o compromisso com práticas ambientalmente responsáveis, tornando as granjas mais sustentáveis e eficientes.

O uso de energia solar faz parte de uma estratégia maior de sustentabilidade da Seara? Quais são os próximos passos?

Sim, o uso de energia solar se tornou uma peça-chave na estratégia de descarbonização da Seara, que visa promover uma produção com baixo impacto ambiental. A energia solar, por sua pegada reduzida de carbono, está totalmente alinhada com os nossos objetivos.

Os próximos passos dessa jornada incluem expandir ainda mais o uso de energia fotovoltaica, que já tem uma forte presença na agropecuária, mas sem perder de vista outras soluções inovadoras. 

A suinocultura, por exemplo, se apresenta como um campo fértil para o uso de biodigestores, que podem transformar resíduos em energia. Planejamos intensificar nossas ações nos próximos anos, explorando novas formas de geração de energia sustentável para fortalecer ainda mais nossa estratégia de descarbonização.

Sobre os aspectos técnicos e operacionais, como funciona o processo de integração dos painéis solares aos aviários, principalmente em relação à automação e ao controle dos ambientes internos?

A integração dos painéis solares nas granjas é um processo meticulosamente planejado, focado em garantir o conforto e bem-estar dos animais, com toda a ambiência e climatização necessárias desde os primeiros dias até a fase de produção ou recria. 

Para isso, contamos com uma equipe especializada que treina e acompanha os produtores, garantindo que os ambientes internos atendam às necessidades específicas de cada granja. Do ponto de vista operacional, o processo começa com a escolha de empresas capacitadas, que oferecem projetos personalizados de energia solar para cada situação. 

Nossa orientação do lado da Seara é para que o produtor busque pelo menos três orçamentos para comparar as melhores opções e, em seguida, compartilhe o projeto com um especialista, que ajudará na avaliação crítica e no refinamento da escolha. 

Após essa etapa, o produtor pode buscar recursos financeiros com bancos e parceiros para viabilizar o investimento. O retorno do investimento, com um payback de três a quatro anos, torna o projeto uma opção segura e lucrativa, transformando a energia solar em um aliado estratégico para a melhoria dos processos de integração no médio e longo prazo.

Que tipo de suporte técnico a Seara oferece aos produtores para garantir a eficiência dos sistemas solares? Existe algum plano de manutenção e acompanhamento da produtividade dos painéis fotovoltaicos?

Oferecemos suporte técnico completo para garantir que os sistemas solares operem com máxima eficiência nas granjas. Para isso, cada projeto é acompanhado de uma especificação técnica que inclui um plano de manutenção periódica, com foco na limpeza e higienização das placas solares. 

O técnico responsável pelo projeto orienta os produtores sobre os materiais adequados e as melhores práticas para manter as superfícies das placas sempre em boas condições, preservando seu rendimento ao longo do tempo.

Também trabalhamos para garantir que os produtores integrados recebam todas as instruções necessárias para monitorar a eficiência do sistema, assegurando que a produtividade dos painéis solares se mantenha elevada e consistente.

Em relação às políticas e relacionamento com os produtores, quais critérios estão contemplados no checklist de boas práticas de produção que incentivam a adoção de painéis solares? Como tem sido o feedback dos produtores que já adotaram a energia solar?

O feedback dos produtores tem sido extremamente positivo. A eficiência crescente dos painéis fotovoltaicos se reflete diretamente em um aumento na operação e em margens de lucro mais vantajosas. 

Com a evolução das tecnologias e a maior competitividade no mercado, o custo do investimento tem diminuído, tornando a energia solar cada vez mais acessível e com um retorno financeiro ainda mais atrativo. Além de critérios de adequação estrutural e de procedimentos, no checklist também são contemplados itens de sustentabilidade. 

Entre os critérios ESG, além da instalação de fontes de energia renováveis nas granjas, como placas fotovoltaicas, também constam a implementação de programa para identificação, separação e destinação correta de resíduos sólidos e a adequação das granjas às normas de bem-estar animal. As propriedades que se engajam nas três frentes passam a ter direito à bonificação.

Isso não só favorece o ambiente, mas também traz uma vantagem adicional aos produtores, ao reconhecer e recompensar práticas que geram mais eficiência. Esse apoio tem sido crucial para impulsionar o engajamento dos produtores e aumentar a adesão à energia solar no campo, criando um ciclo de benefícios tanto econômicos como sustentáveis.

Sobre planos futuros, a Seara tem alguma meta interna de chegar a 100% de produtores com energia solar ou outro índice futuro? Existem parcerias com instituições financeiras ou programas governamentais para facilitar a expansão da energia solar entre os produtores?

Temos uma meta ambiciosa, mas realista de aumentar progressivamente o número de produtores com energia solar, ano após ano. Embora o objetivo de alcançar 100% seja desafiador, estamos comprometidos em expandir a adoção dessa tecnologia, sempre atentos às inovações que podem surgir, superando até mesmo a energia fotovoltaica.

Para facilitar essa transição, temos parcerias com instituições financeiras, que ajudam os produtores a obter os recursos necessários para investir em projetos de energia renovável. Essa colaboração fortalece o engajamento com as boas práticas sustentáveis e garante o crescimento contínuo dessa jornada.

Como a Seara avalia o papel da energia solar no contexto da transição energética no Brasil? De que forma essas iniciativas podem ser replicadas em outras cadeias produtivas do agronegócio brasileiro?

Observamos a energia solar como um pilar fundamental na transição energética do Brasil, especialmente em um cenário de escassez hídrica, em que o custo da energia convencional sobe devido à alta demanda e a baixa produção. 

Acreditamos que a energia fotovoltaica é uma solução eficiente, que não só torna a operação mais sustentável, mas também garante a viabilidade econômica a longo prazo. Afinal, a conta precisa ser equilibrada, sem ficar no vermelho. Além disso, enxergamos o potencial de replicar essas iniciativas em diversas cadeias produtivas do agronegócio brasileiro. 

O uso de painéis solares pode beneficiar a suinocultura, a produção de perus e até a bovinocultura de leite, onde o consumo de energia é alto, principalmente em ambientes de confinamento e climatização. Desta forma, a energia solar se mostra como uma solução estratégica e competitiva, que pode ser adaptada a diferentes contextos no agronegócio.

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Foto de Henrique Hein
Henrique Hein
Atuou no Correio Popular e na Rádio Trianon. Possui experiência em produção de podcast, programas de rádio, entrevistas e elaboração de reportagens. Acompanha o setor solar desde 2020.

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