Por trás de um revestimento hidrofóbico desenvolvido para limpeza e durabilidade de painéis solares, há uma história que une propósito, ciência e persistência.
Tudo começou durante a pandemia, quando o engenheiro de energia Diego Jares, então estudante da UFPR (Universidade Federal do Paraná) Setor Palotina, cruzava as estradas do Estado como motorista de uma cooperativa que transportava pacientes com Covid-19.
Em uma dessas viagens, ele avistou uma usina solar coberta por poeira. “Achei que ainda estava em construção, porque só dava para ver os pilares dela”, conta ele. “Mas, quando fiz a curva (na rodovia), percebi que os módulos estavam ali, porém, muito sujo, da cor da terra marrom”.
A cena virou curiosidade, depois projeto — e, por fim, um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) que deu origem a um desenvolvimento de produto 100% nacional, capaz de reduzir a aderência de sujeira nos painéis e otimizar a geração de energia solar.
Início do projeto
Após se deparar com os painéis empoeirados na estrada, Diego passou a pesquisar se existiam produtos específicos no mercado para limpeza ou proteção de módulos solares. Ele realizou buscas na internet, mas encontrou apenas soluções genéricas, sem aplicação direta no setor fotovoltaico.
Para ampliar o levantamento, pediu a ajuda de um primo que morava nos Estados Unidos e de um amigo engenheiro químico residente na Austrália. Ambos encontraram, fora do país, duas startups que utilizavam nanotecnologia para a limpeza de painéis solares.

A partir dessa descoberta, e com a retomada das atividades da universidade de forma remota, Diego iniciou sua pesquisa de TCC com foco no desenvolvimento de um produto nacional voltado à proteção e otimização dos módulos fotovoltaicos.
Sob a orientação do Prof. Dr. Maurício Romani, atual coordenador do LABMATER (laboratório de materiais e Energias Renováveis) na UFPR, Diego começou a desenhar maneiras para testar e medir misturas de compostos importados em sua própria garagem e aplicou os primeiros protótipos em painéis usados em campo e em laboratório.
O objetivo era criar um revestimento hidrofóbico capaz de reduzir a aderência de sujeiras e facilitar a autolimpeza. O princípio é simples: ao entrar em contato com o painel tratado, a gota de água forma uma esfera e “rola” sobre o vidro, levando consigo a poeira, o barro e até dejetos de pássaros.
Teste em campo: usina de 40 kWp em Palotina (PR)
Após inúmeros testes, um estudo experimental da solução foi realizado em uma usina de 40,15 kWp, composta por três strings idênticas montadas ao solo, na cidade de Palotina (PR).
Uma das strings foi apenas limpa; outra recebeu a limpeza seguida da aplicação do revestimento hidrofóbico; e a terceira ficou sem intervenção. A geração de cada uma foi monitorada a cada seis minutos ao longo de dois meses.
Os resultados do TCC mostraram que a string tratada apresentou ganho de 1,04% a mais de energia em comparação à apenas limpa, e 5,17% acima da suja e ângulo de contato de 93°.
Do hidrofóbico ao super-hidrofóbico
Com o avanço das pesquisas e com aproximadamente R$ 700 mil em recursos investidos, incluindo aportes da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII) e do SEBRAE, Diego e sua equipe junto aos pesquisadores do Instituto SENAI de Inovação em Eletroquímica, do SENAI Paraná, desenvolveram a formula 100% nacional – mais robusta e de melhor aderência.
Nos ensaios de poeira simulada, o painel sem revestimento perdeu mais de 30% de geração; com o revestimento, as perdas ficaram abaixo de 4%. O novo revestimento atingiu ângulo de contato acima de 150°, entrando na categoria de super-hidrofóbico, a mais alta classificação para materiais hidrofóbicos.

O produto mostrou também efeitos secundários benéficos:
- Antirreflexo: melhora a penetração da luz solar no vidro;
- Anti eletrostática: reduz a adesão de partículas finas;
- Antitérmico: diminui a temperatura de superfície, minimizando perdas por aquecimento e hotspots.
Automação e próximos passos
Agora, Diego e seu sócio, Bruno Meyer lideram uma equipe de 12 engenheiros de energia na Energy Trade que trabalham na automação do processo de aplicação do Suntech a fim de mitigar falhas e reduzindo erros humanos.
“A ideia é criar um robô capaz de pulverizar o produto de forma uniforme, otimizando tempo. Nossa empresa é 100% alinhada à transição energética e gostamos de desenvolver tecnologias sempre procurando novas soluções para aplicação de mercado” ressaltou.
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