Como viabilizar o BESS no Brasil? Essa foi a pergunta que norteou o quarto painel da 5ª edição do Canal Conecta, realizado nesta segunda-feira (20), no CREA-SP, em São Paulo. O encontro reuniu representantes da indústria solar e de armazenamento de energia para discutir os avanços e os gargalos regulatórios e econômicos para o desenvolvimento do Battery Energy Storage System (BESS) no país.
Para Irene Sultanum, Sales Manager da Canadian Solar, a aplicação do BESS associada à carga é, hoje, a alternativa mais viável no Brasil. Ela destacou, no entanto, que o potencial das microrredes, especialmente no agronegócio, também é promissor. “As pessoas ganham dinheiro junto à carga, só que a tarifa de energia não é favorável em todos os lugares do Brasil”, observou.
Na avaliação de Leonardo Cyrino, CEO da Huawei Digital Tec (HDT), há casos concretos de retorno financeiro atrativo. Segundo ele, em pelo menos quatro áreas de concessão no país já é possível implementar projetos de armazenamento para atuação em ponta e fora de ponta com payback inferior a quatro anos, mesmo em cenários com contratação de dívida.
Cyrino também apontou oportunidades no uso de baterias para mobilidade elétrica pesada, como ônibus elétricos, e para melhoria da qualidade da rede elétrica – um fator crítico para a indústria.
“A Toyota em Sorocaba tem mais de R$ 8 milhões de perdas por paradas de fábrica porque o parque fornecimento de energia está em fim de rede. A rede é fraca comparada à qualidade de energia que a Toyota necessita”, exemplificou.
Para o executivo, as oportunidades ainda são bastante segmentadas. “Não existe um setor em que qualquer solução funcione, mas há fatores que podem reduzir o payback, como a diminuição da tributação sobre as baterias”, completou.
Harry Neto, diretor de Solar, BESS e Building da WEG, concorda que o armazenamento é mais competitivo em regiões onde a rede está saturada, embora também veja potencial nas microrredes que combinem solar, óleo diesel e baterias. “Esse mercado existe no Brasil, é pouco explorado, mas não é o maior mercado”, afirmou.
Segundo ele, o segmento de baterias Behind the Meter (BTM) começa a ganhar corpo. “Esse mercado está acontecendo, os integradores estão vendendo”, disse Neto, ao ressaltar que o segredo está no empilhamento de receitas. “Você precisa achar mais de uma função para o BESS. Essa é a chave”, enfatizou.
Cyrino acrescentou que a capacitação dos integradores é um ponto decisivo para o amadurecimento do mercado. “A gente só vai conseguir escalar quando tivermos integradores que saibam exatamente o que estão vendendo – em termos de remuneração, payback, segurança e pós-venda – e que consigam demonstrar esses aspectos com clareza”, avaliou.
O CEO da HDT também chamou atenção para o alto custo do financiamento de sistemas de baterias. “Existem muitos bancos e fundos oferecendo crédito para esse tipo de projeto, a própria HDT faz isso, mas estamos falando de dívidas de mercado acima de 2% ao mês, uma taxa muito alta”, ponderou.
O debate deixou evidente que a viabilização do BESS no Brasil depende não apenas de avanços tecnológicos, mas também de um ambiente de negócios mais competitivo, com redução de tributos, melhores condições de crédito e formação técnica especializada.
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