O Brasil terá que produzir ao menos 1,1 bilhão de litros de combustível sustentável para aviação, até 2037, se quiser cumprir a meta de redução de 10% no SAF (Combustível de Aviação Sustentável).
A estimativa faz parte de um novo estudo elaborado pela Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), que foi lançado nesta quarta-feira (13), no Congresso Fenabio, durante a Fenasucro & Agrocana, principal feira mundial do setor sucroenergético, em Sertãozinho (SP).
O levantamento foi feito com base nas projeções da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) e leva metas estabelecidas na Lei nº 14.993/24, conhecida como “Lei do Combustível do Futuro”.
Segundo essa legislação, o SAF será progressivamente incorporado ao querosene tradicional de aviação, derivado do petróleo, a partir de 2027.
Apesar do potencial, o Brasil ainda não possui capacidade instalada para produzir SAF em escala. Atualmente, apenas seis projetos estão em andamento, majoritariamente usando óleos vegetais como matéria-prima.
Dentre esses, dois estão no Rio de Janeiro, sob liderança da Petrobras: um em Itaboraí, com a criação de um complexo de biorrefino, e outro na Refinaria de Duque de Caxias, onde já ocorrem testes com misturas de até 1% de conteúdo renovável.
Metas graduais e desafios
Em 2027 e 2028, espera-se uma redução de 1% nas emissões, o que demandará a produção de 83 milhões e 153 milhões de litros de SAF, respectivamente. A partir de 2029, essa exigência aumentará gradualmente até atingir 10% de redução em 2037.
O processo caminha em paralelo a compromissos internacionais assumidos pelo país no âmbito do CORSIA (Esquema de Compensação e Redução de Carbono para Aviação Internacional), programa coordenado pela OACI (Organização da Aviação Civil Internacional).
Na fase atual do CORSIA, as companhias aéreas que operam rotas internacionais a partir do Brasil devem monitorar, reportar e verificar suas emissões de CO₂. Essa etapa é fundamental para criar uma base de dados confiável e preparar o setor para as próximas fases do programa.
A partir de 2027, começa a fase obrigatória do CORSIA, quando as empresas terão que compensar qualquer emissão que ultrapasse a média registrada nos anos de 2019 e 2020, uma exigência já regulamentada no Brasil pela ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil).
Mesmo com metas iniciais relativamente baixas, os desafios são expressivos. Atualmente, o Brasil ainda não possui uma estrutura de produção consolidada para SAF, e a participação do biocombustível na matriz de aviação deverá ser de apenas 1,7% em 2027, conforme estimativas da Firjan, considerando os volumes atuais de consumo de querosene de aviação.
Esse índice pode variar, dependendo da eficiência das rotas de produção adotadas e da qualidade das matérias-primas utilizadas.
Além das metas progressivas, o setor também enfrenta o desafio de ampliar investimentos, desenvolver infraestrutura industrial e garantir o suprimento sustentável de matérias-primas renováveis.
A necessidade de atuação coordenada entre governo, empresas e centros de pesquisa é vista como essencial para evitar gargalos e consolidar o Brasil como protagonista na transição para uma aviação de baixo carbono.
Abaixo o percentual anual mínimo de redução das emissões e projeção de consumo de SAF:
Potencial e protagonismo do Brasil
Para a Firjan, o Brasil tem todas as condições para liderar esse novo mercado, graças à sua ampla experiência em biocombustíveis e à vasta oferta de matérias-primas renováveis.
Luiz Césio Caetano, presidente da entidade, destaca ainda o papel estratégico do estado do Rio de Janeiro como hub logístico e aeroportuário, o que o torna um ponto-chave na futura cadeia de produção e distribuição do SAF.
Embora, algumas iniciativas já apontam o caminho. Neste ano começou a operação de fornecimento do SAF importado do Aeroporto do Galeão no Rio de Janeiro (RJ).
A ação já é vista como um passo simbólico e prático rumo a descarbonização da aviação brasileira e reforça a possibilidade de o estado fluminense se tornar um polo de produção e distribuição de combustíveis sustentáveis.
Projetos encaminhados
1 – Complexo de Energias Boaventura – investimento em planta de biorrefino em Itaboraí, em área contígua onde já está estabelecida a operação do projeto integrado Rota 3, para produção de combustíveis sustentáveis;
2 – Expansão da REDUC – na refinaria de Duque de Caxias estão sendo conduzidos testes de coprocessamento de QAV (querosene de aviação) com 1% de conteúdo renovável, com previsão de introdução comercial em 2025.
3 – Zona Franca de Manaus (AM) – a BBF (Brasil BioFuels) está desenvolvendo uma biorrefinaria, com capacidade produtiva de 500 milhões de litros anuais de SAF e diesel verde (, a partir de óleos de palma, soja e milho como matérias-primas. O início da operação está previsto para 2026;
4 – Refinaria de Mataripe (BA) – A Acelen Renováveis planeja construir uma biorrefinaria anexa à Refinaria de Mataripe, com previsão de início das operações em 2028. O empreendimento prevê capacidade para produzir 1 bilhão de litros por ano de diesel verde e SAF. A empresa aposta na diversificação das matérias-primas usadas, com foco especial na macaúba, uma palmeira nativa do Brasil que pode ser uma alternativa sustentável ao óleo de soja;
5 – Refinaria Presidente Bernardes (SP) – a Petrobras estuda produzir SAF e diesel verde em uma nova unidade a ser instalada em Cubatão (SP). Com previsão para 2029, a planta terá uma capacidade de produção estimada em 350 milhões de litros de combustível sustentável por ano. A principal matéria-prima será uma mistura de 70% de óleo de soja e 30% de sebo bovino;
6 – Refinaria de Paulínia (SP) – a Petrobras prepara uma planta de SAF a partir do etanol, rota alcohol to jet com capacidade projetada de produzir 10 mil barris de SAF por dia, consumindo de 3 milhões a 4 milhões de litros de álcool por dia.
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