A situação da Enel São Paulo entrou em uma nova fase de tensão regulatória após o MME (Ministério de Minas e Energia) anunciar que solicitará à ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) a abertura do processo que pode levar à caducidade da concessão da distribuidora.
A medida, considerada a mais severa prevista em contrato, ocorre em meio a avaliações técnicas que apontam falhas reiteradas na prestação do serviço, dificuldades estruturais para responder a eventos climáticos extremos e uma sequência de decisões pendentes dentro da própria agência reguladora.
O anúncio do MME, divulgado na noite desta terça-feira (16), reforça recomendação antecipada recentemente pelo TCU (Tribunal de Contas da União) e é resultado de uma convergência de fatores.
Nas últimas semanas, a diretoria da ANEEL passou a debater, em regime de urgência, três processos interligados. Houve o pedido de renovação antecipada da concessão, a análise do processo de intimação que pode resultar em intervenção e, no limite, a análise da caducidade do contrato.
O diretor-geral da agência, Sandoval Feitosa, pediu que o tema seja inserido em caráter de urgência na pauta da reunião extraordinária da diretoria da agência prevista para acontecer amanhã, quinta-feira (18), mas não há certeza de que isso ocorra.
Ainda estão em andamento na autarquia procedimentos para aprofundar a análise sobre o desempenho da Enel SP diante das ocorrências registradas em 10 e 11 de dezembro, período em que novos temporais atingiram o estado.
A preocupação da ANEEL é verificar se as melhorias observadas após a emissão de um recente termo de intimação – ainda consideradas provisórias – se sustentam em situações reais de estresse da rede.
Providências emergenciais
Paralelamente, distribuidoras de São Paulo e do Rio de Janeiro foram notificadas pela Agência para reforçar seus planos de contingência, diante da previsão de novos eventos climáticos severos.
O alerta da área técnica inclui mobilização de equipes extras, revisão de protocolos de emergência e coordenação direta com autoridades locais. O descumprimento dessas medidas pode resultar em fiscalizações adicionais e até em recomendações formais de perda da concessão.
Ao mesmo tempo em que a ANEEL tenta avançar no processo regulatório, uma disputa judicial trava a análise sobre a renovação da concessão da Enel São Paulo. Uma liminar obtida pela Prefeitura da capital paulista suspendeu temporariamente a tramitação, sob o argumento de que a agência deve decidir primeiro se recomenda ou não a caducidade.
A ANEEL recorreu, mas ainda não houve decisão judicial definitiva. Esse impasse mantém a empresa sob incerteza, intensificando a pressão para que demonstre capacidade de recuperação operacional.
Estado e prefeitura pressionam
Enquanto o debate técnico se aprofunda, cresce também o peso político do tema. O Governo Federal, o governo paulista e a Prefeitura da capital vêm realizando reuniões conjuntas com o MME e a ANEEL, trocando informações sobre falhas recorrentes no atendimento e discutindo possíveis encaminhamentos.
A dimensão social das interrupções no fornecimento, especialmente em uma cidade altamente urbanizada e repetidamente atingida por temporais, tornou-se fator determinante para acelerar decisões.
O governador Tarcísio de Freitas afirmou que a situação chegou a um ponto “insustentável”, ressaltando que a distribuidora “não tem mais condição de prestar o serviço” e que falhas reiteradas justificam a análise da caducidade.
Já o prefeito Ricardo Nunes destacou que eventos climáticos recentes reforçaram a percepção de que a empresa não possui estrutura adequada para responder às exigências da maior metrópole do país. Ambos defenderam uma solução célere.
Em contrapartida, nesta terça-feira (17), durante reunião no Palácio dos Bandeirantes, houve momentos tensos, com o ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira criticando Nunes por não ter dado a atenção necessária ao corte de árvores condenadas, um dos principais problemas de interferência na rede elétrica metropolitana de São Paulo durante tempestades.
Silveira, ao final de encontro com Nunes e Freitas, reforçou, contudo, que Governo Federal, estado e município atuam de forma alinhada para conduzir um processo rigoroso.
Segundo ele, diante da urgência climática e do histórico recente da concessionária, a Enel São Paulo “perdeu as condições de continuar à frente do serviço de concessão em São Paulo”.
Se a ANEEL optará pela caducidade, pela intervenção ou pela renovação condicionada, ainda é incerto.
Especialistas veem intervenção da Enel São Paulo como improvável
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