Kits fotovoltaicos com preços abaixo do mercado

Há casos em que o preço chega a apresentar uma diferença de mais de 25%
Kits fotovoltaicos com preços abaixo do mercado entenda os riscos
Foto: Divulgação

O mercado de energia solar tem vivenciado uma queda significativa de preços, sobretudo em módulos fotovoltaicos, conforme já noticiado inúmeras vezes pelo Canal Solar.  

Contudo, uma ação que está se tornando comum é o fato de algumas distribuidoras comercializarem kits fotovoltaicos para integradores com preços muito mais baixos do que o praticado pelo mercado

A reportagem apurou que, atualmente, há casos em que o preço de módulo, inversor e outro equipamento praticado pelo mercado chega a apresentar uma diferença de mais de 25%

A prática de comprar equipamentos a preços abaixo do mercado pode até parecer vantajosa à primeira vista para muitos integradores. Porém, na verdade, o que acontece é que ela esconde uma série de riscos

Isso porque, conforme fontes ouvidas pelo Canal Solar, as distribuidoras de equipamentos solares frequentemente operam com margens de lucro estreitas, o que as impede de dar grandes descontos para seus clientes.  

Roberto Caurim, CEO da Bluesun, explica que uma distribuidora só vende equipamentos com preços abaixo do mercado em duas circunstâncias: quando está com problemas financeiros e precisa levantar caixa rapidamente ou os produtos são de qualidade duvidosa

De acordo com o profissional, quando uma empresa comercializa módulos, inversores e demais produtos com preços muito baixos é importantíssimo que o integrador ligue o “sinal amarelo”.

“Quando uma distribuidora tem preços muito menores do que o mercado como um todo pratica, desconfie! Isso acontece, muito provavelmente, porque a empresa está passando por problemas financeiros e precisa fazer caixa para pagar as suas dívidas”, garantiu. 

Além disso, Caurim destaca que esses equipamentos também podem estar com tolerância negativa junto ao Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial). Ou seja, não vão entregar aquilo que prometem para o cliente final.

“Não tem como, num mercado competitivo como o solar, uma distribuidora vender kits fotovoltaicos com preços 10% a 15% abaixo. A diferença de preço dos produtos entre as empresas não costuma passar de 5%”, ressaltou.

Leandro Martins, CEO da Ecori, destaca ainda que o setor já vem observando uma diferença significativa entre geradores fotovoltaicos de qualidade e aqueles de baixa qualidade ou até mesmo falsificados em relação à própria folha técnica apresentada do produto. 

Rodrigo Furlan, diretor da Serrana Solar, pontua que a prática de preços abaixo de mercado, infelizmente, ocorre em quase todos os segmentos, o que “facilita o entendimento e reforça a importância de uma análise criteriosa do Integrador no momento da compra do kit fotovoltaico na distribuidora para o seu cliente, uma vez que é a imagem do próprio integrador na sua região de atuação que está em risco”, disse ele.

“Para o nosso segmento, podemos citar inúmeros riscos: saúde financeira da distribuidora, qualidade do painel solar importado pela distribuidora (considerando que painel solar não é tudo igual), origem do painel solar ser de montadora e não de fabricante, fake power, falta de estoque da própria distribuidora para realizar compra e entrega futura com prazos de envio superiores a 30 dias, entre outros fatores que podem prejudicar a sua própria empresa e imagem como Integrador perante os seus clientes”, complementou Furlan.

Vitor Pedreira, superintendente de suprimentos da Amara NZero Brasil, ressalta ainda que no mercado de energia solar brasileiro existem muitos equipamentos sendo vendidos a um custo muito barato, mas que não cumprem o que é prometido no datasheet: módulos com potência abaixo da nominal, inversores com alta taxa de falha, entre outros problemas. 

“Ao comprar esses equipamentos, o integrador está não só prejudicando a geração de energia esperada pelo cliente final do sistema, mas também correndo o risco de ser coparticipante de uma violação prevista pelo código de defesa do consumidor (Direito à Informação – art. 6 , inciso III)”, destaca ele. 

Ainda sobre o tema, Martins destaca, por sua vez, que “frequentemente, quando recebemos orçamentos de concorrentes com o preço muito discrepante notamos que geralmente é um indicativo de que os módulos utilizados pelos concorrentes são de potência falsa e qualidade extremamente inferior aos módulos que trabalhamos”. 

Essa discrepância de preços, segundo o CEO da Ecori, muitas vezes aponta para a utilização de módulos de fake power, que além da potência falsa, utilizam materiais de baixíssima qualidade, desde o vidro, caixas de junção, conectores, até o próprio EVA utilizado e silicone de vedação. 

“Quando analisamos detalhadamente, em mais de 90% dos casos, os módulos mais baratos são de qualidade muito inferior. Atualmente, cerca de 70% dos módulos vendidos no Brasil possuem potência falsa. Isso não apenas prejudica o setor, mas também coloca em risco as instalações e a segurança das pessoas. É um problema sério que precisa ser abordado com urgência para garantir a integridade e a confiabilidade das instalações fotovoltaicas no país”, destacou.

Além da questão dos equipamentos, Pedreira também menciona que toda distribuidora possui custos operacionais, como suporte técnico, logística e estrutura administrativa, mas que algumas delas não realizam os investimentos adequados nesses setores.

“Por um lado reduz seus custos, mas por outro elas não vão conseguir apoiar o integrador justamente nos momentos mais críticos: quando ele precisar de algum apoio no pós-venda”, ressaltou o superintendente.  

Entre os assuntos que incluem o serviço de pós-venda, Caurim destaca a falta de garantia dos equipamentos para os consumidores finais. De acordo com ele, o integrador precisa entender que a distribuidora que apresenta problemas financeiros, certamente, não vai estar mais aqui a médio prazo para poder dar garantia para ele. 

“Como a maior parte dos fornecedores não estão no Brasil, quem fica responsável pela garantia dos equipamentos é a distribuidora. Sem a distribuidora, o integrador não vai ter garantia para passar para os seus clientes”, comentou. 

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Henrique Hein
Atuou no Correio Popular e na Rádio Trianon. Possui experiência em produção de podcast, programas de rádio, entrevistas e elaboração de reportagens. Acompanha o setor solar desde 2020.

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