O verão 2025/2026 começa oficialmente em 21 de dezembro sob a influência do fenômeno La Niña, que, em condições típicas, favorece o aumento das chuvas no Centro-Norte do país e contribui para a recuperação das vazões dos rios e dos reservatórios do SIN (Sistema Interligado Nacional).
Neste ciclo, porém, o comportamento climático tem sido marcado por irregularidades, segundo análise divulgada pela Nottus, empresa de inteligência de dados e consultoria meteorológica para negócios.
A companhia aponta alternância entre períodos mais úmidos e intervalos secos, especialmente na porção central do país. Ainda assim, a expectativa é de volumes mais elevados de chuva nas bacias do Sudeste/Centro-Oeste, Norte e Nordeste ao longo das próximas semanas – o que pode ajudar a consolidar o período úmido após um início instável da estação .
“O La Niña favorece a formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul, responsável por episódios de chuva volumosa e persistente. Esse padrão costuma elevar significativamente a vazão dos rios e os níveis dos reservatórios, mas é preciso que haja persistência do locacional desta chuva”, disse Alexandre Nascimento, sócio-diretor e meteorologista da Nottus.
Impactos no setor elétrico
Para o setor elétrico, o cenário traz sinais positivos, mas também exige cautela. A apresentação da Nottus indica que, apesar do aumento recente das chuvas, as vazões ainda seguem abaixo da média histórica em importantes bacias hidrográficas, o que reduz a margem de segurança para uma recuperação plena dos reservatórios ao longo do verão.
Nascimento destaca que a intensidade fraca e a curta duração esperadas para este episódio de La Niña reduzem o risco de estiagens severas no Sul do país, região que historicamente sofre com secas durante o fenômeno.
“Anos sob influência do La Niña tendem a registrar menos ondas de calor, o que deve manter temperaturas mais amenas em grande parte do país durante o verão”, destaca ele.
Por outro lado, o aumento da frequência de chuvas no Centro-Norte eleva o risco de eventos extremos que impactam diretamente a operação do sistema elétrico. Enchentes, deslizamentos, quedas de barreiras e ventos fortes podem provocar interrupções pontuais nos sistemas de transmissão e distribuição.
“A mesma chuva que ajuda a recuperar o armazenamento hidrelétrico pode comprometer a infraestrutura do setor. É um equilíbrio delicado entre benefício e impacto operacional”, observa o meteorologista.
Conclusões do estudo
A apresentação da Nottus reforça ainda que o verão deve ser marcado por menor incidência de ondas de calor prolongadas, o que tende a aliviar picos de demanda por energia elétrica.
Em contrapartida, a geração eólica e solar costumam apresentar redução sazonal neste período, comportamento considerado normal para a época do ano, o que aumenta a relevância da gestão hidrológica e do despacho térmico no planejamento do sistema .
Os eventos recentes ilustram esse cenário de maior exposição. Nos últimos dois meses, já sob influência do La Niña, o país registrou tornados no Paraná e em Santa Catarina, uma tempestade de granizo que devastou Erechim (RS) e, em 10 de dezembro, a passagem de um ciclone extratropical que provocou enchentes e vendavais no Sul, Sudeste e Mato Grosso do Sul, deixando quase 2 milhões de consumidores sem energia na Região Metropolitana de São Paulo.
“É uma série de ocorrências que demonstra o grau de exposição do sistema elétrico. Até fenômenos típicos têm se manifestado com maior intensidade e frequência”, completa Nascimento.
Apesar dos desafios, a Nottus avalia que não há risco de corte antecipado do período chuvoso neste verão. Pelo contrário, a tendência é de manutenção de bons volumes de precipitação nas principais bacias do país, o que pode favorecer a regularização gradual das vazões e dar maior previsibilidade à operação do SIN nos próximos meses.
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