Desde 2021, a regulação brasileira permite a implantação de projetos de geração que combinam diferentes fontes em um mesmo local. Embora o nome técnico seja usinas associadas, o mercado consagrou o termo projetos híbridos.
Segundo Nelson Falcão, vice-presidente de Cadeia Produtiva da ABSOLAR e diretor de Desenvolvimento de Negócios da Nextracker, esse modelo contribui para a expansão da oferta de energia ao aproveitar sinergias importantes: redução de investimentos em infraestrutura, mitigação de riscos comerciais e até economia na aquisição de terrenos.
O tema foi destaque no segundo dia da Intersolar South America, na quarta-feira (27), quando especialistas compartilharam casos de sucesso e apontaram os desafios para viabilizar esse tipo de empreendimento.
Para Tauries Nakazawa, chefe de Projetos e Construção da Casa dos Ventos, a hibridização de usinas solares e eólicas permite alcançar um perfil de geração mais estável ao longo do dia. “As curvas se complementam: a solar gera durante as horas de sol e a eólica tem melhor desempenho à noite. Ainda assim, há momentos de sobreposição em que parte da produção precisa ser cortada. É justamente aí que o armazenamento se torna estratégico, permitindo carregar baterias e liberar energia em horários de maior demanda”, explicou.
Além da complementaridade, Nakazawa destacou outro ponto de competitividade: o aproveitamento da infraestrutura de conexão já existente em projetos eólicos. “O grande ganho é não precisar investir novamente em conexão. Mas, para maximizar a sinergia, é essencial planejar o cronograma desde o início. Se eu construo a subestação e só depois decido instalar a usina solar, o custo do projeto aumenta significativamente”, alertou.
Um exemplo é o Complexo Santa Eugênia, da Statkraft, que combina 518 MW de eólica, 198 MW de solar e 1 MW em sistema de armazenamento (BESS). De acordo com Guilherme Melo, diretor de Construção da companhia, a complementaridade das fontes no empreendimento chega a 90%. “Além da otimização do OPEX, conseguimos reduzir prazos de construção e ganhar agilidade no licenciamento ambiental”, afirmou.
Por outro lado, os projetos híbridos também enfrentam obstáculos. Questões de engenharia, como condições climáticas extremas ou características geológicas, podem dificultar a execução das obras.
No campo regulatório e comercial, surgem desafios como curtailment sistêmico, diferenças de preços entre submercados – comuns em projetos no Nordeste que atendem consumidores no Sudeste -, exigências de garantias financeiras para o CUST e a complexidade do processo de conexão. “São barreiras que certamente serão superadas, mas que hoje ainda freiam alguns investimentos”, avaliou Nakazawa.
Também participaram do painel Alexandre Oliveira, gerente executivo de Novos Negócios da Aurem Energia, que apresentou um projeto em desenvolvimento em Roraima que une uma usina térmica a gás natural com uma usina solar, e Alberto Coral, consultor técnico da DNV, que explicou que em determinadas situações a utilização do hidrogênio pode ser uma ótima solução para armazenar energia por longos período.
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