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Retomada do horário de verão será decidida em até 10 dias, diz ministro do MME

Silveira disse não estar convencido sobre a volta da medida e que é necessário mais estudos técnicos
Retomada do horário de verão será decidida em até 10 dias, diz ministro do MME
Ministro se reuniu-se com o CMSE antes da coletiva de imprensa. Foto: Tauan Alencar/MME

O ministro do MME (Ministério de Minas e Energia), Alexandre Silveira, afirmou que ainda não está convencido sobre a necessidade da decretação do horário de verão. A afirmação foi feita durante coletiva de imprensa no fim da tarde desta quinta-feira (19) na sede do ONS (Operador Nacional do Sistema), no Rio de Janeiro.

O encontro com os jornalistas aconteceu logo após a reunião extraordinária realizada pelo CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico), onde o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) apresentou as primeiras medidas do Plano de Contingência para Atendimento do Sistema Elétrico solicitado pelo MME.

Entre as medidas apresentadas pelo Operador está a adoção do horário de verão “nos estados das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul como medida para redução dos custos, garantia de suprimento e aumento da confiabilidade do Sistema Interligado Nacional no horário de demanda máxima (ponta) noturna, em prazo compatível com sua implementação”.

Aos jornalistas, Silveira disse que ainda é preciso realizar estudos técnicos antes que o Governo decida se o horário de verão retornará ou não.

“Eu ainda não me convenci da necessidade da decretação do horário de verão considerando a transversalidade desta medida. Demonstrou-se que ela tem um grau de economicidade e um aumento da nossa confiabilidade nos momentos da energia de ponta, que é entre 18h e 21h. Mas, considerando que não faltará energia no Brasil, graças ao planejamento que implementamos neste um ano e meio, eu ainda não estou convencido e quero buscar outros instrumentos de maior resistência ou de maior confiabilidade antes de decretar [o horário de verão]”, disse aos jornalistas .

Questionado sobre quais seriam os outros instrumentos, Silveira mencionou a utilização de mais água no horário de ponta da usina de Belo Monte e o uso maior do sistema de transmissão.

“O ONS trabalha com [a linha de transmissão] dentro de um padrão de segurança de segurança e confiabilidade normal. Mas ela [linha de transmissão] pode, em alguns momentos mais necessários de ser avaliados, trabalharem um pouco mais estressadas, com um pouco mais de vigor. É um estudo que o ONS tem que fazer para avaliar até onde é o limite dela”, explicou o ministro.

Silveira ainda disse que a volta do horário de verão traria uma economia de 2,5 GWh, segundo o ONS, o que equivale a R$ 400 milhões no horário de ponta. Porém, esse montante, na opinião dele, não seria relevante a ponto do retorno do horário de verão. Ele ainda pontuou que o Brasil não sofre risco de faltar energia, por conta do planejamento.

Questionando sobre os próximos passos, Silveira disse que junto a agentes do setor elétrico avaliará de forma técnica a retomada do horário de verão e que tal decisão será concluída em até dez dias.

Especialistas discutem retorno do horário de verão como estratégia para o setor elétrico

O Canal Solar conversou com especialistas para verificar qual seria o impacto da retomada do horário de verão no Brasil. Para José Wanderley Marangon Lima, diretor presidente da Marangon Consultoria & Engenharia, o horário de verão foi originalmente retirado devido ao deslocamento da ponta do sistema elétrico para o período da tarde, em torno das 14h. 

No entanto, ele aponta que, com o crescimento da GD (geração distribuída) solar, esse cenário está mudando. Segundo ele, “a ponta do sistema está se deslocando novamente para as 19h ou 20h, o que torna viável e interessante o retorno do horário de verão”. Marangon destaca ainda que a GD solar contribui para reduzir a demanda no período da tarde, o que justifica a reavaliação da medida.

“Com o aumento da temperatura média e uma maior eficientização da iluminação por conta das lâmpadas de LED, o pico de energia do SIN se deslocou das 19 e 20 horas para as 14 e 15 horas na última década, pois a carga de climatização e refrigeração tem crescido. Isto fez com que a utilização do horário de verão para deslocamento de ponta não tivesse mais sentido”, disse. 

“O ministro omitiu que a partir de 2018, o ONS acertadamente libera o governo e a sociedade para que tomasse a decisão quanto a continuação do horário de verão pois já não representava uma economia ao setor. Com a entrada gradual da GD solar próxima à carga nos últimos anos, esta ponta começou a diminuir melhorando as condições de operação da rede neste horário. Resolvido o problema da ponta da tarde pela GD, começa a se verificar uma volta da ponta às 19 horas e consequentemente a possibilidade de adoção  do horário de verão”, acrescentou Marangon.

Paulo Edmundo Fonseca Freire, proprietário da PAIOL Engenharia, também vê vantagens no retorno do horário de verão, sobretudo no que diz respeito à otimização do despacho das fontes renováveis. Ele argumenta que, mesmo com a capacidade de geração superando a demanda, o horário de verão permite um uso mais eficiente dos recursos. 

“As solares podem aproveitar melhor o período de maior luminosidade, complementadas pelas eólicas”, afirma Freire. Além disso, ele destaca que o ajuste no horário pode reduzir a necessidade de utilização das hidrelétricas, economizando água nos reservatórios, e diminuir o acionamento das termelétricas.

Freire ressalta que o deslocamento do horário de pico para momentos em que ainda há luminosidade natural é uma forma eficaz de reduzir o consumo simultâneo de energia no fim do expediente, otimizando o sistema como um todo.

“Pode ser observado também que com o agravamento do quadro climático nos últimos 10 anos, marcado por sucessivos recordes de temperatura e de eventos extremos, a reavaliação do retorno do horário de verão é uma necessidade”, conclui Freire.

Bernardo Marangon, diretor da Prime Energy, por sua vez, argumenta que a adoção do horário de verão poderia ajudar a mitigar a rampa de demanda no sistema elétrico, que ocorre quando as usinas solares começam a reduzir sua geração de energia, enquanto o consumo cresce no início da noite. 

Ele explica que o horário de verão faria com que as pessoas retornassem para casa mais cedo, adiantando o horário de pico do consumo, o que facilitaria o equilíbrio entre oferta e demanda. 

“O maior risco que o Brasil enfrenta não é a falta de energia, mas sim atender à demanda de potência no horário de pico, especialmente durante esse período de transição entre o dia e a noite”, alerta Bernardo. Dessa forma, ele acredita que o horário de verão seria uma boa medida para melhorar a eficiência do sistema, evitando o uso de usinas termelétricas, que são mais caras e poluentes.

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Ericka Araújo
Head de jornalismo do Canal Solar. Apresentadora do Papo Solar. Desde 2020, acompanha o mercado fotovoltaico. Possui experiência em produção de podcast, programas de entrevistas e elaboração de matérias jornalísticas. Em 2019, recebeu o Prêmio Jornalista Tropical 2019 pela SBMT e o Prêmio FEAC de Jornalismo.

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