Recuperação judicial da Light pode prejudicar fornecimento de energia

Perdas e furtos de energia em meio à crise da distribuidora são alertas para possíveis impactos, analisam profissionais
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Recuperação judicial da Light pode prejudicar fornecimento de energia
Foto: Freepik

A notícia de que a Light entrou com um pedido de recuperação judicial poderá causar problemas no fornecimento de energia no Rio de Janeiro, segundo profissionais ouvidos pelo Canal Solar. Ao todo, a distribuidora atende 4,3 milhões de consumidores em 31 dos 92 municípios do Estado. 

Atualmente, a concessionária conta com uma dívida estimada de R$ 11 bilhões, que é o resultado dos desafios econômico-financeiros da companhia e suas subsidiárias, especialmente no segmento de distribuição de energia.

Ricardo David, sócio-diretor da Elev, explica que o principal ponto a se observar é que a situação estrutural e social dos municípios cariocas dificultam o fornecimento de energia em meio à crise financeira da Light. 

“Quando tratamos do fornecimento de energia para o Rio de Janeiro, enfrentamos mais do que problemas estruturais. Estamos falando de problemas sociais e de grande impacto para a vida dos cariocas, principalmente quando tratamos da região metropolitana. O pedido de recuperação judicial da Light evidencia uma grande dificuldade no fornecimento de energia na região”, declarou o executivo.

O profissional chamou atenção para outro aspecto: o da licitação. “Estamos próximos de uma renovação da concessão no Rio de Janeiro, e com a solicitação da Light, podemos ver o Estado encontrando dificuldades em definir como será o fornecimento nos próximos anos”, afirmou. 

Ainda de acordo com ele, a região de concessão da Light é uma das mais complicadas por causa do nível de perdas de energia, provocados, principalmente, pelo índice elevado de furtos, que são os populares “gatos”. 

Um estudo recente da FGV (Fundação Getúlio Vargas) aponta, por exemplo, que 10% do valor das contas de luz no Rio de Janeiro são destinados somente para o ressarcimento dessas perdas. 

“Para manter a operação da empresa, é fundamental renovar o contrato de concessão de energia da distribuidora, que expira em 2026. Sem a renovação garantida e com as finanças fragilizadas, a Light encontra dificuldades em obter crédito”, comentou o executivo. 

Taxa de juros

Para Charles Putz, membro do Conselho de Administração do IBEF-SP, um desafio adicional, que pode repercutir não só na Light, mas em outras empresas de diversos setores, advém da recente e acentuada elevação das taxas de juros. 

“A Light, já altamente endividada e com uma geração de caixa líquido insuficiente, enfrenta dificuldades não só para rolar ou pagar suas dívidas à medida que vencem, mas até mesmo para cumprir com os pagamentos dos juros da dívida”, avaliou. 

Para ele, a complexidade da situação é acentuada pela questão jurídica em torno do pedido de recuperação judicial. “É incerto se a holding pode estender o pedido de recuperação judicial à distribuidora, um ponto altamente controverso. Além disso, há uma incerteza significativa em relação à renovação das concessões da empresa”, pontuou. 

“Também estamos vendo mudanças significativas na estrutura acionária, com investidores conhecidos por assumirem posições em empresas em dificuldades adquirindo grandes participações na Light e iniciando conversas com credores. Notavelmente, as agências de rating parecem ter subestimado os riscos, atribuindo até recentemente notas de crédito elevadas à empresa”, finalizando.

Imagem de Henrique Hein
Henrique Hein
Atuou no Correio Popular e na Rádio Trianon. Possui experiência em produção de podcast, programas de rádio, entrevistas e elaboração de reportagens. Acompanha o setor solar desde 2020.

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