Brasil em alta voltagem: como a expansão da transmissão apoia a era das energias renováveis

O ONS alerta que a expansão da transmissão de energia não acompanhou o ritmo acelerado do crescimento da geração de energia renovável.
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Brasil em alta voltagem: como a expansão da transmissão apoia a era das energias renováveis
Foto: Freepik

A transição energética é um processo de mudança global em busca de fontes de energia mais sustentáveis e com baixas emissões de carbono. Trata-se de uma jornada gradual e inevitável. Atualmente, no Brasil, esse debate vai além dos objetivos climáticos internacionais, apresentando-se como um desafio estrutural para consolidar o país como protagonista na produção de energia limpa. Embora o Brasil tenha mais de 199,3 GW de capacidade instalada em energias renováveis, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o sucesso dessa transição depende da capacidade de transportar a energia gerada, especialmente no Nordeste, para os grandes centros de consumo.

A infraestrutura de transmissão é essencial para conectar a energia limpa aos consumidores, viabilizando a economia verde. Segundo a ANEEL, as energias renováveis representam atualmente 84% de toda a energia gerada no país, com destaque para a energia eólica e solar nas regiões Nordeste e Norte. No entanto, essas áreas produtoras enfrentam desafios na distribuição de energia para regiões de alta demanda, como o Sudeste e o Centro-Oeste.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) alerta que a expansão da transmissão de energia no Brasil não acompanhou o ritmo acelerado do crescimento da geração de energia renovável, criando um gargalo para o aproveitamento dessas fontes. Para reduzir essa lacuna, a ANEEL tem realizado leilões para ampliar a rede de transmissão. Entre junho de 2023 e abril de 2024, foram aprovados cerca de 17 mil quilômetros de novas linhas, com investimentos de 54,9 bilhões de reais e a geração de mais de 100 mil empregos. Em setembro de 2024, um novo leilão garantiu 3,35 bilhões de reais em investimentos e a construção de 780 km adicionais de linhas, beneficiando estados como Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Bahia.

Diante do déficit de infraestrutura que o Brasil enfrentará até 2030, o país começa a adotar inovações como o armazenamento em baterias para superar desafios estruturais e otimizar o uso da energia renovável. Recentemente, o Ministério de Minas e Energia propôs regulamentações que incentivam essa tecnologia, permitindo que a energia gerada em momentos de baixa demanda seja armazenada para uso nos horários de pico, aumentando a eficiência e apoiando o alcance da meta de emissões líquidas zero. Além disso, o armazenamento e a previsibilidade são essenciais para otimizar fontes de energia renovável intermitentes, reduzir desperdícios e maximizar a competitividade no mercado energético.

O futuro da infraestrutura renovável no Brasil

A implementação desses projetos seguirá um cronograma de longo prazo, com a expectativa de que as novas linhas entrem em operação até 2030. Durante esse período, o Brasil continuará avançando na expansão da infraestrutura para otimizar a geração e o aproveitamento da energia renovável. Em 2023, restrições na produção de energia solar e eólica causaram perdas estimadas em mais de 1 bilhão de reais, destacando a importância dos investimentos na rede de transmissão. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estima que serão necessários cerca de 249 bilhões de reais por ano para apoiar a transição energética do país e garantir um sistema cada vez mais robusto e sustentável.

O setor energético, responsável por mais de 70% das emissões globais de CO₂, impacta diretamente os objetivos de descarbonização, especialmente em países como o Brasil, que busca protagonismo na agenda climática. Para liderar a transição energética global, o Brasil precisará investir mais de 1,3 trilhão de dólares até 2050 em tecnologias de baixo carbono, sendo pelo menos 500 bilhões de dólares destinados a energias renováveis, segundo a BloombergNEF.

Com uma vasta extensão territorial e abundância de recursos naturais, o Brasil tem todos os atributos para liderar essa transformação. No entanto, isso exige um compromisso contínuo com a expansão da infraestrutura de transmissão e com a inovação tecnológica. Segundo a coalizão global de líderes Energy Transitions Commission, a meta de emissões líquidas zero até 2050 demandará investimentos anuais de 1,1 trilhão de dólares em redes de transmissão e distribuição em nível global, evidenciando a importância de um sistema elétrico resiliente e adaptável para sustentar a transição energética.

Com avanços na infraestrutura e na integração de tecnologias inovadoras, o Brasil está bem-posicionado para se tornar um líder global na transição energética. No entanto, para alcançar esse objetivo, é necessário manter um foco estratégico e coerente na expansão da rede de transmissão, na geração descentralizada e no armazenamento de energia. Se o país continuar impulsionando esses projetos e promovendo um ambiente regulatório favorável, não apenas otimizará o uso de seus recursos naturais, mas também garantirá um futuro mais sustentável para as próximas gerações. A oportunidade está ao alcance, e, com a visão certa, o Brasil pode se tornar o motor de uma transição energética exemplar na América Latina e no mundo.

As opiniões e informações expressas são de exclusiva responsabilidade do autor e não obrigatoriamente representam a posição oficial do Canal Solar.

Foto de Juan Collado
Juan Collado
Country Manager da Redinter no Brasil

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