*Com colaboração de Camila Nascimento
O compromisso assumido por 47 países na COP 26 (26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), de realocar os investimentos de combustíveis fósseis na geração de energia, como carvão, petróleo e gás natural, para as fontes renováveis, como solar e eólica, por exemplo, é um sinal claro de que a transição energética ganha mais um novo reforço entre as economias mais desenvolvidas no mundo.
A declaração, assinada e publicada em 4 de novembro, na Conferência em Glasgow, Escócia, traz como signatários países como Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Reino Unido e Dinamarca.
Neste cenário, o Brasil tem uma grande oportunidade de assumir um forte protagonismo neste fluxo de investimento para a transição energética, sobretudo impulsionado pelo crescimento da fonte solar no país.
Segundo dados da ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), o Brasil acaba de ultrapassar a marca histórica de 12 GW de potência operacional da fonte solar fotovoltaica, em usinas de grande porte e em sistemas de pequeno e médio portes instalados em telhados, fachadas e terrenos.
De acordo com a entidade, a fonte solar já trouxe mais de R$ 60,6 bilhões em novos investimentos ao País, R$ 15,7 bilhões em arrecadação aos cofres públicos e gerou mais de 360 mil empregos acumulados desde 2012. Com isso, também evitou a emissão de 13,6 milhões de toneladas de CO2 na geração de eletricidade.
A notícia pode servir como alento aos brasileiros diante do atual cenário energético. O baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas fez ressuscitar o temido “fantasma” do apagão no Brasil, justamente pelo risco de racionamento de eletricidade que se avizinha.
Também trouxe novos aumentos na conta de luz dos brasileiros, com a chamada “bandeira de escassez hídrica”, resultado do uso intenso de termelétricas fósseis, mais caras e poluentes, e da importação de energia elétrica de países vizinhos.
A situação afeta diretamente o orçamento das famílias e a competitividade dos setores produtivos. Diante deste desafio, economistas e órgãos do governo tiveram que aumentar as projeções de inflação para 2021.
O monitoramento do ONS (Operador Nacional do Sistema) nos 161 reservatórios hídricos do território nacional revelou uma redução do índice de chuvas em todas as regiões brasileiras, sem exceção: é o pior momento dos últimos 91 anos, quando a série histórica teve início. Assim, a crise hídrica deixou de ser um problema localizado: virou uma preocupação nacional e crônica.
Diante desse cenário preocupante, a luz no fim do túnel vem de cima: a energia solar é parte estratégica da solução a curto, médio e longo prazos. A diversificação da matriz, com maior inserção das fontes limpas e renováveis, fortalece o abastecimento elétrico e traz mais segurança e competitividade para a economia regional e nacional, usando as fontes mais baratas do País.
As usinas solares de grande porte geram eletricidade a preços até dez vezes menores do que as termelétricas fósseis emergenciais ou que a energia elétrica importada de países vizinhos atualmente, duas das principais responsáveis pelo aumento tarifário sobre os consumidores.
No caso da geração própria de energia solar em telhados e pequenos terrenos de residências, comércios, indústrias, propriedades rurais e prédios públicos, há também benefícios no alívio de custos do setor elétrico, o que ajuda a reduzir a conta de luz de todos os brasileiros.
Além de preservar água das hidrelétricas, a geração própria de energia solar contribui para a redução de despesas que encarecem a conta de luz de todos os brasileiros, reduzindo custos com infraestrutura de geração, transmissão e distribuição.
Com ela, a eletricidade é gerada junto ou próximo do local de consumo, reduzindo perdas elétricas. Isso diminui ainda o uso de termelétricas fósseis, maiores responsáveis pelas bandeiras vermelha e de escassez hídrica, que encarecem a conta de luz, e pela emissão de poluentes e gases de efeito estufa no setor elétrico.
Graças à versatilidade e agilidade da tecnologia solar, basta um dia de instalação para transformar uma residência ou empresa em uma pequena usina geradora de eletricidade limpa, renovável e acessível.
Por isso, o avanço da energia solar no país, via grandes usinas e pela geração própria em residências, pequenos negócios, propriedades rurais e prédios públicos, é fundamental para o desenvolvimento social, econômico e ambiental do Brasil.
Ela ajuda a diversificar o suprimento de energia elétrica do País, reduzindo a pressão sobre os recursos hídricos e o risco de racionamento, bem como diminuindo a ocorrência de bandeiras tarifárias na conta de luz da população e protegendo a população e os setores produtivos contra os aumentos tarifários da energia elétrica.
*Camila Nascimento é coordenadora da ABSOLAR no Estado do Rio de Janeiro e diretora da Win Energias Renováveis
2 respostas
O pior é ver os políticos brasileiros preocupados em criar taxas e impostos para desacelerar o crescimento de algo tão benéfico para todo o planeta. É lamentável.
O incrível é que isso já era tão óbvio faz anos… Mas permanecemos na ideia da expansão das usinas hidrelétricas, mesmo sabendo dos enormes custos econômicos, sociais e ambientais, principalmente na região Amazônica. Agora, precisamos de políticas que tornem mais barato a instalação de equipamentos fotovoltaicos no Brasil. Já melhorou, mas ainda falta muito para utilizar todo nosso potencial nesta área.,