Combustível solar é usado pela primeira vez na aviação comercial

Tecnologia suíça promete reduzir em até 99% as emissões de CO₂ em comparação aos combustíveis fósseis
Combustível solar é usado pela primeira vez na aviação comercial
Foto: Synhelion/Divulgação

A empresa suíça Synhelion, referência mundial na produção de combustíveis solares sintéticos, entregou 190 litros de combustível solar ao Aeroporto de Hamburgo, na Alemanha, marcando a primeira utilização mundial de um combustível sintético quase neutro em CO₂ em operações de voo comercial.

A companhia aérea SWISS, parceira e investidora da Synhelion desde 2022, foi a primeira a utilizar o produto, que cobre cerca de 7% da energia necessária para um voo entre Hamburgo e Zurique.

A produção do combustível ocorreu em Jülich, no oeste da Alemanha, utilizando energia solar concentrada para alimentar um processo termoquímico inovador.

O petróleo cru sintético, chamado de syncrude, foi processado em uma refinaria no norte da Alemanha e posteriormente integrado ao sistema de abastecimento convencional do aeroporto, demonstrando que não é necessária nenhuma modificação na infraestrutura existente para a adoção dessa tecnologia.

Como funciona o combustível solar?

Diferentemente dos biocombustíveis convencionais, produzidos a partir de resíduos orgânicos , o combustível solar da Synhelion é gerado a partir de uma combinação de calor solar, dióxido de carbono capturado e hidrogênio.

O processo termoquímico utilizado pela empresa resulta em combustíveis líquidos, como querosene, gasolina e diesel, com emissões líquidas de CO₂ até 99% menores que os combustíveis fósseis.

A inovação mais significativa está na autossuficiência energética do processo: o calor solar é armazenado e permite que a produção aconteça 24 horas por dia, tornando o modelo escalável e menos dependente das variações climáticas.

O futuro dos voos solares

Apesar de a produção anual ainda ser modesta, o potencial de crescimento é enorme. A planta e demonstração DAWN, que entrou em operação no fim do verão de 2024, já produz quantidades limitadas de combustível e está sendo expandida.

Segundo a empresa, novas aquisições de combustível solar estão previstas para o próximo ano, em parceria com a SWISS e o Grupo Lufthansa.

A médio prazo, os custos ainda podem refletir no preço das passagens aéreas, mas a expectativa é de que esses valores caiam com o aumento da escala produtiva e o apoio de políticas públicas.

A Synhelion afirma que sua tecnologia é “drop-in”, ou seja, totalmente compatível com motores atuais e a infraestrutura logística já existente, o que facilita significativamente sua adoção.

Além da aviação, a empresa também planeja distribuir gasolina e diesel sustentáveis para veículos terrestres, navios e ônibus de passageiros nos aeroportos, como já está previsto para o Aeroporto de Zurique a partir de 2027.

Escalonamento e desafios

Apesar dos avanços, a expansão da produção em grande escala ainda enfrenta desafios. O maior deles é o alto custo de investimento para construir plantas capazes de abastecer o mercado global.

Um exemplo recente foi o cancelamento da planta que seria construída na Espanha, previsto para 2027, devido a dificuldades no licenciamento ambiental.

Em resposta, a Synhelion decidiu expandir sua instalação atual em Jülich, construindo uma planta cerca de dez vezes maior. O objetivo é alcançar, até 2030, a produção de 100 mil toneladas por ano com a futura planta SHINE, o primeiro complexo de produção solar verdadeiramente competitivo em escala industrial.

Compromissos com a sustentabilidade europeia

A iniciativa está alinhada com as metas da UE (União Europeia), que exige que, até 2050, 70% dos voos no continente utilizem combustíveis sustentáveis.

Desde 2024, todas as companhias aéreas que operam na UE devem garantir que ao menos 2% do combustível utilizado seja SAF (Sustainable Aviation Fuel), o que representa cerca de 1 milhão de toneladas por ano.

Para cumprir os requisitos da RED (Diretiva de Energias Renováveis) da UE, a produção da Synhelion passa por auditorias independentes e utiliza matéria-prima sustentável, rastreável e capaz de garantir uma redução mínima de 70% nas emissões de gases de efeito estufa ao longo do ciclo de vida.

Além disso, o processo de coprocessamento, que mistura matérias-primas renováveis com fósseis em refinarias existentes, permite uma transição gradual, rápida e econômica, sem a necessidade de infraestrutura nova, atendendo às normas técnicas de certificação como a ASTM D1655.

 

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Caique Amorim
Estudante de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Tenho experiência na produção de matérias jornalísticas.

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