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Como a energia solar deve se tornar um diferencial competitivo nas indústrias?

A história das organizações tem nos mostrado, através do tempo, o quão importante é a gestão de custos para que determinada empresa possa, além de sobreviver, mostrar-se competitiva e estabelecer

Autor: 29 de outubro de 2020abril 2nd, 2024Opinião
10 minutos de leitura
Como a energia solar deve se tornar um diferencial competitivo nas indústrias?

A história das organizações tem nos mostrado, através do tempo, o quão importante é a gestão de custos para que determinada empresa possa, além de sobreviver, mostrar-se competitiva e estabelecer diferenciais em relação aos seus concorrentes. Não importa se você é adepto de teorias mais clássicas de administração como as de Fayol ou Taylor, ou se está familiarizado e aplica o que há de mais novo na gestão, como as teorias de oceano azul e vermelho, organizações exponenciais e design thinking. Um ponto em comum de qualquer uma dessas teorias é: assim como as nossas unhas precisam ser cortadas constantemente, também são os custos e as despesas de nossas  empresas. Senão os apararmos e cuidarmos deles constantemente, isso pode nos trazer sérios problemas. Em linha com tudo isto, é inegável que para uma empresa realizar uma adequada gestão de custos, a energia elétrica deve ser pauta constante. Em pesquisa realizada em março de 2016 pela CNI (Confederação Nacional das Indústrias), em relatório publicado pelo Portal da Indústria, a energia elétrica é um insumo importante para a  indústria: quase 80% das empresas industriais a utilizam como principal fonte de energia. Ainda segundo este estudo, 93% das empresas que utilizam principalmente a energia elétrica no processo produtivo perceberam elevação do custo de energia, sendo que destas, 35% afirmaram que o impacto do aumento da tarifa de energia no custo total foi alto. Apesar de a esmagadora maioria perceber esses aumentos, apenas 52%, pouco mais da metade das empresas, tomaram alguma medida para lidar com o custo da energia. Aprofundando um pouco mais nos dados, é possível identificar que, dos 52% das empresas que realizaram  alguma ação para lidar com o problema, apenas 10% investiram em autogeração e 6% substituíram a fonte de energia. A maioria esmagadora (71%) implementou apenas ações ou programas de eficiência energética em maior, ou menor grau. Isto prova o potencial de mercado ainda a ser desenvolvido com a energia solar, promovendo tanto a autogeração quanto a substituição de fonte de energia, em especial na geração distribuída. Devido às mais diferentes formas de se produzir um bem, às complexas cadeias de produção atuais, bem como os mais diversos bens a serem produzidos, cada indústria tem o seu grau de dependência e uma representatividade da energia elétrica nos custos. Entretanto, corroboram com os dados acima e com a importância da energia elétrica no custo das empresas, em especial as indústrias. Os dados publicados pela EPE (Empresa de Pesquisa  Energética) em janeiro de 2017, consolidando os números de 2016 mostram que, dos 460.380 GWh consumidos no país, a indústria sozinha representou 36% do total (a maior parcela, equivalente a 164.254 GWh), seguida pelas residências, com 29%  (132.893 GWh) e o setor comercial com 19% (88.185 GWh). As empresas (indústrias e comércios) representam quase a metade do consumo total, com 45% de participação.

gráfico 1Gráfico 1: Consumo por classe em 2016

Além da importância da energia elétrica nos custos das empresas, em especial das indústrias, porém sem esquecer daquelas de atividade mercantil, é necessário analisar como este custo varia ao longo do tempo, bem como  avaliar como a energia solar pode ajudar os empresários a se proteger. Além da inflação, comum a qualquer mercado, mas especialmente sensível no Brasil, é necessário pontuar que a matriz energética no país é sabidamente é composta, em sua grande maioria, por fontes hídricas.

Matriz energética brasileira

Para que possamos investigar de forma adequada da evolução das tarifas, é necessário entender a matriz energética no Brasil. De acordo com o relatório da Reunião da Câmara da Indústria de Energia da FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais), publicado pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) em 2016, 65% da capacidade instalada no Brasil é proveniente destas fontes. Quando há qualquer tipo de restrição na matéria prima desta energia, vista ao longo do tempo em diversas crises hídricas, surge a necessidade de colocar em operação outras fontes mais caras, como as termelétricas, que de acordo com o mesmo relatório representam 27% da capacidade de geração do país. Quando estas fontes são utilizadas, adiciona-se um custo de  operação, que se transforma em aumento de tarifa aos consumidores. Gráfico 2: Soma da tarifa média de fornecimento Analisamos os últimos 13 anos e, segundo dados da ANEEL, a soma da tarifa média de fornecimento aumentou 230% de 2003 a 2016. É interessante analisar que o IPC (Índice de preços no consumidor), calculado pela USP/FIPE (Universidade de São Paulo) – um dos índices mais utilizados e confiáveis para se medir a inflação no país – acumulou, no mesmo período, 80,01% de aumento. A tarifa de energia elétrica apresentou uma diferença de aproximadamente 150 pontos percentuais em relação à inflação acumulada no período analisado. Vale observar que, apesar da clara linha de tendência de aumento ao longo dos anos, observado pela linha vermelha do Gráfico 2, houve períodos de estabilidade (como pode ser observado entre 2006 e 2007, com uma variação de 0,08%), períodos de queda (por exemplo entre 2012 e 2013, que registrou uma queda aproximada de 19%), e períodos de alta  repentina (observada, entre outros, em 2014 e 2015, registrando-se cerca de 42% de aumentos). Esta falta de sincronismo e a dificuldade de previsão de tarifas ao longo dos anos são um fator crucial de preocupação nas projeções  dos empresários. Sabe-se que o preço da energia ao longo dos anos irá aumentar, mas não se sabe quanto ou quando. Igualmente importante na evolução das tarifas, além da dependência de chuvas, da certeza de aumentos e de falta de sincronismo nestes aumentos, está a grande parcela de impostos dentro destas tarifas. As atuais necessidades de readequações fiscais no país por parte do governo trazem mais um fator: não é possível ter qualquer tipo de previsão sobre o papel que estes impostos terão nas tarifas, bem como a atuação do governo no controle tarifário. Não seria inédito um controle ilusório de tarifas ou um cenário fiscal sem previsibilidade. O que se pode esperar do mercado, nos próximos anos (e que já pôde ser observado de maneira tímida em  2017), é uma recuperação da economia em geral, na qual se incluem as indústrias, que acumulam anos de queda. Esta melhora com certeza trará a necessidade de mais energia elétrica e, consequentemente pela lei da oferta e  da procura, possíveis aumentos de preços. Mas como a energia solar pode ajudar as indústrias a se proteger neste tão hostil cenário? Vale utilizar aqui a análise estratégica de Porter. Em 1979 Michael Porter publicou em forma de artigo na Harvard Business Review a concepção de cinco forças competitivas que moldam as estratégias: rivalidade entre concorrentes, poder de negociação dos clientes, poder de negociação dos fornecedores, ameaça de novos concorrentes e produtos substitutos. De maneira genérica, a teoria de Porter afirma que determinada companhia deve analisar,  para cada uma destas forças, se ela tem ou não vantagem competitiva. gráfico 2

Chamamos a atenção para a força onde a energia solar pode realmente trabalhar a favor do empresário: poder de negociação dos fornecedores. Em geral, o poder de negociação com fornecedores de energia elétrica é praticamente nulo para a maioria das empresas. Não é possível negociar a tarifa, trocar de concessionária ou barganhar condições em grande parte das empresas. Para aquelas que optam pela compra no mercado livre, ainda assim, não existe exatamente uma negociação como ocorreria em compra de insumos e serviços, por exemplo. O poder de negociação está quase que totalmente fora das mãos das empresas que consomem a energia elétrica. A energia solar no Brasil encontra-se em um momento de crescimento notável. As resoluções normativas 482 e, mais recentemente, a 687 de 2015, trazem ao empresário maior confiança em investir neste tipo de solução. Não iremos nem entrar aqui no mérito de todo o bem que este empresário também estará fazendo ao planeta e como, ao utilizar esta fonte, ele pode obter ganhos agregando valor aos seus produtos. Ao utilizar a energia solar, sendo a empresa responsável pela sua própria geração, é possível inverter o jogo, ficando praticamente imune a  aumentos de tarifas. Recorrendo novamente a Porter, quando uma determinada companhia investe em energia  solar, ficando imune a aumentos, e seus concorrentes não o fazem, ao ter um novo (e certo) aumento de energia elétrica, este que investiu tem uma importante vantagem estratégica competitiva frente ao mercado. Obviamente, existem barreiras a serem vencidas. Em um mercado crescente, porém novo no Brasil, em especial para clientes de alta tensão, discussões sobre horário de pico, demanda contratada e limites para geração, valor da tarifa e fontes de financiamento, entre outras coisas, são interrogações que devemos trabalhar para dirimir. Ainda assim, ao utilizar sistemas on-grid não é necessário investir em infraestrutura de baterias, o que diminui o capital necessário para a implantação, além da possibilidade de algumas tecnologias permitirem a implantação gradual das usinas. Para fins de proteção de aumento de custos, uma empresa que hoje está 100% descoberta em relação aos custos com energia elétrica pode, por exemplo, implementar 20% ou 50% de sua necessidade e, com o valor economizado, continuar gradualmente o processo de troca de fonte, até alcançar o índice desejado. Em geral, o tempo médio de payback de um sistema de energia solar para as empresas é de cinco a sete anos, podendo se estender para dez a 12 anos, dependendo o valor do kWh pago por determinada companhia. Ainda assim, mostra-se um negócio altamente viável, pois o sistema é desenhado para durar acima de 25 anos. Devido à cultura do imediatismo presente em nosso país, um investimento que se paga num prazo que varia de um quinto à metade do tempo de vida do sistema pode parecer muito, mas é nosso papel mostrar o caminho e continuar no desenvolvimento do mercado para que a energia solar se torne cada vez mais representativa no território nacional. A energia solar contribui para a matriz energética, melhora a eficiência na distribuição e ajuda os empresários a terem maior controle sobre os custos de tão importante fator que é a energia elétrica.

Arthur Santini

Arthur Santini

Diretor da Ecori Energia Solar. Diretor Regional do projeto QuiloWatt do Bem no Noroeste Paulista, professor certificado na Fundação Getulio Vargas e professor de MBA em outras instituições. Atuou em auditoria pela KPMG e teve outras funções de liderança e consultoria em São Paulo, Campinas e São José do Rio Preto. É autor na área de tecnologia, com livro publicado pela Editora LCM – Ciência Moderna, do Rio de Janeiro.

Um comentário

  • Aron Alvamar disse:

    Há um erro no gráfico 1, o somatório não é 100%. Há um erro também no parágrafo que antecede o gráfico, no que diz respeito aos números.

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