O Canal Solar recebeu denúncias de que módulos fotovoltaicos estariam sendo comercializados no Brasil como se fossem HJT (heterojunção), embora, na prática, não estariam utilizando essa tecnologia.
A informação foi repassada por fontes ligadas à cadeia de importação de equipamentos que relataram a entrada no país de módulos classificados como HJT, mas que, tecnicamente, apresentariam características de outras tecnologias, como a TOPCon.
Segundo os relatos, o objetivo seria usufruir da isenção fiscal prevista pelo regime de ex-tarifários, que reduzem em 25% o imposto de importação para módulos fotovoltaicos sem produção equivalente no Brasil.
Como diferenciar TOPCon de HJT?
O Canal Solar ouviu especialistas do setor para esclarecer as diferenças técnicas entre as tecnologias e entender os desafios para identificar essas diferenças.
João Lucas de Souza Silva, doutor em Engenharia Elétrica pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), confirmou que pesquisadores da instituição também vêm recebendo relatos semelhantes.
No entanto, ele alerta que identificar com precisão se um módulo é HJT exige análises em laboratório. “Aspectos visuais, como o formato ou o corte das células, não são determinantes, pois podem variar conforme a linha de produção”, explicou.
Para aprofundar a análise, o Canal Solar ouviu também Vanderleia Ferraz, gerente de produtos da Risen Energy para a América Latina, empresa líder na fabricação de células e módulos HJT. A especialista destacou que a tecnologia HJT se diferencia de outras, como a TOPCon, em diversos aspectos técnicos — desde a topologia celular até o processo de fabricação.
Essas características exigem uma linha de produção dedicada, não sendo possível reutilizar estruturas de fabricação usadas para PERC ou TOPCon. Segundo ela, módulos HJT autênticos costumam apresentar:
- Tensão de Circuito Aberto (Voc): em torno de 50V (49,83–50,18V para módulos de 700–720 Wp);
- Degradação linear: 0,30% ao ano, mantendo 90,3% da potência após 30 anos;
- Coeficiente de temperatura de Pmax: -0,24%/ºC;
- Bifacialidade: 90% ± 5%.
Vanderleia explicou ainda que as células HJT possuem uma estrutura específica, com camadas de silício amorfo hidrogenado e um revestimento em ITO (óxido de índio-estanho) depositadas em ambos os lados da célula, o que a torna simétrica.
De acordo com Vanderleia, o processo de fabricação dos HJT também requer cuidados específicos. “Essas células são sensíveis a altas temperaturas e não toleram os métodos convencionais de corte a laser e soldagem. São necessárias técnicas específicas de interconexão e montagem”, alertou.
Como consequência das diferenças no processo de fabricação de células e módulos HJT, é possível notar diferenças visuais entre módulos HJT e TOPCon, sobretudo no formato dos cantos das células e na coloração da parte traseira dos módulos.
“As células HJT têm quatro cantos chanfrados a fim de evitar a exposição dessas células à alta temperatura do corte tradicional, o corte em formato de meia-célula é realizado diretamente no lingote, que recebe os chanfros nos cantos. Desta forma, as células são formadas sobre wafers half-cell com os quatro cantos chanfrados. Já as TOPCon apresentam cantos retos, por serem cortadas após a fabricação das células”, explicou Vanderleia.
A especialista complementa que, “quanto ao aspecto visual da parte traseira do módulo, existe grande diferença entre os módulos HJT e TOPCon. Para módulos HJT verdadeiros, a face traseira possui cor escura e uniforme como a face frontal”.
Ainda segundo Vanderleia, a cor escura e uniforme em ambas as faces das células HJT se deve a deposição do filme ITO de forma simétrica e uniforme, resultando em uma aparência uniforme tanto na face frontal como na traseira.
“Para as células TOPCon, o processo de deposição do filme de cobertura ocorre com as células em posição vertical, causando irregularidade na cor da face traseira das células. Por isso, a cor da parte traseira do módulo TOPCon apresenta-se diferente da face frontal e não possui uniformidade, sendo este o principal indício visual de que o módulo é um falso HJT”, complementou.
As explicações da Vanderleia corroboram com declarações feitas por uma fonte da indústria fotovoltaica que preferiu não se identificar. “A fabricação de módulos HJT exige insumos e processos específicos, diferentes dos utilizados em outras tecnologias. A stringer, a pasta metálica, a temperatura de soldagem e o encapsulamento precisam ser adaptados exclusivamente para o HJT. Não é possível usar a mesma linha que fabrica PERC ou TOPCon”, disse.
“A diferença visual se deve à presença de uma camada contínua de ITO na parte traseira das células HJT, que confere coloração escura e homogênea, enquanto no TOPCon a metalização pontual e o refletor traseiro conferem coloração azulada e mosaico visível”, acrescentou a fonte à reportagem do Canal Solar.
Além dos fatores de processos de fabricação, a fonte ainda comentou que hoje não há volume suficiente de células HJT disponíveis para atender à demanda brasileira.
“Não existe um grande volume de células HJT disponíveis no mercado. Isso porque existem poucos fabricantes de células HJT no mundo. Entre eles a Risen e a Huasun, que não possuem volume para a demanda do mercado brasileiro”, salientou.
“A demanda global por módulos HJT ainda é limitada, sendo o Brasil um dos poucos mercados com volume significativo de importações, impulsionado principalmente pela isenção fiscal prevista no regime de ex-tarifários”, acrescentou a fonte ouvida pela reportagem do Canal Solar.
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Respostas de 2
Como Um Brasil Hoje,Dentre os 10 Maiores Geradores FV do Mundo, Tá Puxando Carroça Pra Células HTJ, e Dificuldades de Fornecimento De Módulos Bifaciais Transparentes Vidro Vidro?? Simplesmente Não Há Como Entender e Aceitar Uma Piada Destas!!
Isso é CRIME GRAVE!!!!!! Sempre tem os espertinhos querendo levar vantagem e cometer ilegalidades. Infelizmente, como tudo no Brasil, não dará em nada. Ninguém fiscalizará, ninguém será punido a não ser o consumidor final, comprando um produto e recebendo outro.