Uma nova pesquisa global sobre a visão do setor empresarial em relação à transição energética aponta um forte apoio de empresários brasileiros ao avanço de fontes renováveis e ao abandono progressivo dos combustíveis fósseis.
O levantamento, conduzido pela consultoria Savanta e encomendado pelas empresas E3G, Beyond Fossil Fuels e We Mean Business Coalition, ouviu executivos de médias e grandes empresas (com receita superior a 1 milhão de dólares) em 15 países, sinalizando um ponto de inflexão global na percepção do setor privado sobre o futuro da energia.
No Brasil, cerca de 89% dos líderes empresariais querem que o país tenha um sistema elétrico majoritariamente baseado em energias renováveis até 2035.
A principal razão apontada é a segurança energética, considerada o maior benefício das fontes renováveis por quase dois terços (63%) dos entrevistados.
A sólida base hídrica brasileira — responsável por mais de 60% da geração de energia elétrica — vem sendo complementada por um crescimento acelerado da energia solar e eólica, com 147 novos parques solares inaugurados em 2024 e uma nova legislação que deve impulsionar a energia eólica offshore.
Três em cada quatro executivos brasileiros apoiam a substituição direta do carvão por fontes renováveis, sem passar por uma transição via gás fóssil. Entre os que defendem investimentos em energia limpa, mais de 90% querem o fim do carvão até 2035.
Essa visão tem respaldo no setor público: desde 2021, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) não financia novas usinas a carvão.
No entanto, segundo o estudo, a presença dos combustíveis fósseis na economia brasileira segue forte — sustentada tanto pelo uso do carvão em alguns estados do Sul quanto pela aposta nacional na exploração de petróleo em águas ultra profundas.
Além do Brasil, a pesquisa também ouviu executivos de empresas privadas da Austrália, Canadá, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Polônia, África do Sul, Coreia do Sul, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos.
Obstáculos
Embora os custos iniciais da transição ainda sejam apontados como um obstáculo importante por 41% dos entrevistados, muitos destacam que esse gargalo está menos ligado à tecnologia e mais a barreiras regulatórias e ao elevado custo de capital no Brasil.
Como caminho para superá-las, 45% defendem a realocação dos subsídios aos combustíveis fósseis para energias renováveis, passo considerado vital para cumprir a meta brasileira de cortar entre 59% e 67% das emissões até 2035.
O estudo destaca que a mensagem do setor privado é clara: até os empresários já enxergam nas renováveis a base para crescimento econômico, estabilidade e competitividade.
O levantamento também aponta que o momento é propício para que o Governo reforce sua liderança climática com medidas consistentes, à altura do papel que deseja exercer no cenário internacional.
Setor privado prevê mudanças em até cinco anos
Em relação aos seus próprios negócios, os resultados também mostram que os executivos corporativos de todo o mundo estão antecipando e planejando tanto uma transição em nível de rede dos combustíveis fósseis para as fontes renováveis, quanto a instalação de capacidade própria de geração de eletricidade renovável dentro da próxima década.
Cerca de 93% das organizações estão considerando investir em fontes renováveis locais para apoiar suas operações, sendo que 50% consideram fazer isso nos próximos cinco anos. No Brasil, esse mesmo cenário se repete: 47% das empresas.
Além disso, quatro em cada cinco organizações globais (83%) já possuem ou estão desenvolvendo planos para eliminar os combustíveis fósseis e fazer a transição para energia renovável. No caso das empresas brasileiras, o índice é de 85%.
Dentre essas, 43% planejam eliminar o carvão de suas operações até 2030, e 27% até 2035. Além disso, 66% pretendem deixar de usar gás até 2035.
“Em contraste com o discurso político, esta pesquisa mostra que a grande maioria dos executivos empresariais apoiam fortemente uma transição rápida para sistemas de energia renovável na próxima década”, disse Nick Mabey, CEO da E3G.
Segundo Maria Mendiluce, CEO da We Mean Business Coalition, a pesquisa evidencia também que o setor privado almeja políticas governamentais mais fortes para facilitar o processo de transição energética global.
“A mudança dos combustíveis fósseis deixou de ser um debate — é uma realidade econômica impulsionada por empresas que reconhecem a energia limpa como base da vantagem competitiva, da criação de empregos e da estabilidade nos preços de energia”, disse ela.
“Os líderes empresariais já estão investindo e querem fazer mais. Eles precisam que os governos acelerem o planejamento e removam os atrasos no licenciamento de projetos de energia renovável, armazenamento e redes”, complementou a executiva.
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