Nos últimos meses, o Brasil foi palco de eventos climáticos extremos que expuseram de forma dramática a fragilidade da nossa infraestrutura elétrica. O vendaval histórico em São Paulo deixou milhões de pessoas sem luz e água, causou prejuízos bilionários e levou ao cancelamento de centenas de voos.
Em estados como Santa Catarina e Paraná, tempestades derrubaram redes, destruíram casas e resultaram em mortes e feridos. Esses episódios não são meros acidentes isolados: são sintomas das anomalias climáticas que a ciência vem alertando há décadas.
Rede de transmissão x rede de distribuição
Para compreender a vulnerabilidade, é preciso distinguir dois níveis da rede elétrica:
- Rede de transmissão: responsável por transportar grandes blocos de energia das usinas até os centros consumidores, em linhas de alta tensão que cruzam o país;
- Rede de distribuição: leva a energia até as residências, com postes, transformadores e cabos que atravessam ruas e bairros.
Os vendavais e tempestades atingem pontualmente a rede de distribuição, mais exposta e frágil. Mas quando eventos climáticos se intensificam, até a rede de transmissão pode ser comprometida, ampliando o risco de apagões em larga escala.
Consequências recentes
Em São Paulo, rajadas de vento acima de 98 km/h derrubaram árvores e postes, deixando mais de 2 milhões de imóveis sem energia simultaneamente.
O caos se estendeu: 400 voos cancelados, prejuízo superior a R$ 1,5 bilhão e serviços essenciais paralisados.
Em Santa Catarina e Paraná, enchentes e vendavais provocaram destruição, mortes e feridos, reforçando o alerta de que os extremos climáticos estão se tornando rotina.
Esses episódios mostram que não se trata apenas de conforto ou economia na conta de luz, mas de segurança energética e sobrevivência social.
A ciência já avisava
Desde os anos 1970, estudos científicos apontavam os riscos da emissão de gases de efeito estufa. O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) consolidou esse conhecimento, mostrando que a intensificação de eventos extremos é consequência direta da ação humana. A ciência merece respeito: não é opinião, é evidência.
Infelizmente, a desinformação tenta desviar o foco, espalhando teorias conspiratórias sobre “armas secretas” ou “manipulação climática”. Essa narrativa paralisa a sociedade e mina a ação coletiva. O caminho não é negar, mas enfrentar com políticas públicas e cooperação internacional.
Meu ativismo pela transição energética
Defendo que a sociedade tenha o direito de gerar sua própria energia, armazená-la e participar ativamente da modernização das redes. A geração distribuída e os recursos energéticos distribuídos (REDs) — como painéis solares, baterias e sistemas inteligentes — são pilares de uma nova matriz.
Mas há forças contrárias a essa democratização. Grandes interesses econômicos resistem à descentralização. Por isso afirmo: não haverá transição energética justa se ela não for descentralizada, descarbonizada, digitalizada e democratizada.
A transição não pode ser apenas tecnológica; precisa ser social. É um movimento pelo bem comum, pela soberania energética e pela justiça climática.
O alerta à sociedade
Estamos no final do ano e milhões de brasileiros estão sem energia apenas por causa de eventos climáticos. E não falamos ainda de crises hídricas ou falhas na transmissão. Os avisos foram dados, as tecnologias existem. Agora é hora de a sociedade despertar:
- Gerar e armazenar energia própria;
- Cobrar dos políticos, governantes e reguladores a modernização e abertura das redes locais;
- Exigir políticas públicas que garantam segurança energética diante da intensificação dos eventos extremos.
A distribuidora não pode reclamar que não consegue escoar a energia gerada pela população. O que precisa é se adaptar à nova realidade.
O futuro que precisamos
A transição energética exige eliminar combustíveis fósseis e adotar soluções limpas e sustentáveis. Mesmo quando conseguirmos reduzir as emissões, ainda sofreremos por décadas até que a atmosfera volte a padrões anteriores à era industrial. Mas cada passo dado hoje acelera esse processo.
O desafio é imenso, mas a esperança é maior. A transição energética não pode deixar ninguém para trás. Justiça climática significa que todas as camadas da população devem ter acesso às soluções, sem exclusão.
Se caminharmos juntos, com ciência, solidariedade e coragem, construiremos um futuro em que a energia seja não apenas luz nas casas, mas símbolo de dignidade, segurança e vida.
Finalizo afirmando que o Brasil precisa despertar para a transição energética. Não é apenas uma questão econômica, mas de sobrevivência e justiça. A energia do futuro será limpa, descentralizada e democrática — e só assim poderemos enfrentar os vendavais e demais eventos extremos que já estão batendo à nossa porta.
As opiniões e informações expressas são de exclusiva responsabilidade do autor e não obrigatoriamente representam a posição oficial do Canal Solar.