Solar é a principal protagonista da expansão da energia elétrica no Brasil

O mercado de energia elétrica do Brasil está num importante ponto de inflexão
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As grandes hidrelétricas, que nortearam o desenho de mercado e os rumos da expansão por décadas, agora passam a conviver com um leque de novas fontes. 

As hidrelétricas seguem como principal fonte de geração, mas o seu papel no sistema está mudando.  É o que vemos refletido no PDE 2030 (Plano Decenal de Expansão de Energia 2030).  Tais mudanças ocorrem em função do esgotamento do potencial para grandes hidrelétricas. São poucos os novos projetos que superam os 500 MW. Enquanto isso, as fontes solar, eólica e gás natural assumem o protagonismo na expansão da capacidade instalada. 

Em 2020, a geração distribuída solar adicionou 2,5 GW em capacidade ao sistema, a maior entre todas as demais fontes. A fonte fóssil, em segundo lugar, adicionou 1,9 GW, seguida pela eólica que adicionou 1,7 GW. Mesmo em meio à pandemia, a GD cresceu nada menos do que 60%, em relação a 2019. 

No PDE 2030, a demanda futura por energia elétrica será atendida, em larga medida, com a adição das novas fontes renováveis. A energia solar, no total, poderá alcançar 33 GW, em 2030. A GD deverá chegar entre 16,8 GW e 24,5 GW, em capacidade instalada, conforme o clima do cenário regulatório (cenário verão ou primavera). 

Analisando o PDE 2030, a taxa de crescimento anual composta (CAGR) em dez anos é de 19,3% ao ano para a GD, de 10,5% a.a. para a solar centralizada e 7,3% a.a. para a eólica. Com isso, a participação total das novas renováveis na matriz elétrica pode ultrapassar 25%, em 2030. 

Uma preocupação recorrente no planejamento elétrico no Brasil é o risco hidrológico. Nesse sentido, a energia solar tem um papel importante, ao lado da energia eólica, na recuperação dos níveis de água dos reservatórios. 

O PNE 2050 (Plano Nacional de Energia 2050) traz simulações que apontam “que, com a maior entrada de renováveis variáveis na matriz, o perfil sazonal de armazenamento dos reservatórios do SIN se achata, em relação ao que se observa atualmente”. 

Por seu lado, as hidrelétricas atendem ao requisito de flexibilidade do sistema, enquanto as novas renováveis contribuem para atender à demanda nos períodos secos, preservando o nível dos reservatórios. 

Importantes desafios se colocam para o sistema de transmissão, nessa trajetória de mudanças que inclui diversificação de fontes, ao lado do crescimento do mercado livre. Especialmente, quando os prazos para a expansão da capacidade estão diminuindo, enquanto os prazos para os projetos de transmissão continuam longos. 

Leia mais: Megatendências para 2030: um bom momento para olhar à frente

Para alcançar soluções sustentáveis é fundamental que a expansão e modernização do sistema de transmissão e distribuição ocorra em bases cada vez mais participativas e transparentes, de forma a acomodar as diferentes necessidades das fontes de geração. 

O crescimento da demanda por energia elétrica virá com a retomada do crescimento da economia, com a redução do desemprego, com o aumento da renda e do acesso a bens de consumo. Virá também das transformações da economia global em função do combate às mudanças climáticas. A redução das emissões de carbono passa pela eletrificação dos transportes. 

Esse movimento está apenas começando no Brasil, alcançando primeiro mercados específicos, como as frotas cativas e o transporte urbano nas grandes cidades, mas promete nas próximas décadas estender-se para o mercado consumidor, a exemplo do que já vem ocorrendo na Ásia, Europa e nos EUA.

O cenário para as próximas décadas aponta para a composição inteligente de diferentes fontes de geração, explorando o que há de melhor em cada uma.

Assim, o desenvolvimento do setor elétrico deve aproveitar nossa vocação em energias limpas, num contexto de transparência, liberdade econômica e sustentabilidade. No Brasil, e no mundo, o protagonismo das energias limpas e renováveis, em especial da energia solar, representa um futuro que já começou.

Imagem de Gustavo Tegon
Gustavo Tegon
Formado em Negócios Internacionais e com MBA em Gestão e Negócios pela Universidade Metodista de Piracicaba. Com grande experiência em geração distribuída, liderou os fabricantes BYD, Jinko e Canadian Solar no Brasil. Atualmente, é diretor Institucional da BelEnergy.

3 respostas

  1. Prezado Gustavo,
    O Brasil poderia estar muito mais avançado nas fontes de energias limpas, se não tivéssemos um “câncer” de corrupção aparelhado nas altas esferas.
    É necessário se valer de todos os meios legais para romper esse mal e fazer o Brasil assumir o posto que é nosso, o primeiro lugar, afinal, temos muito sol, muito vento à disposição!! Forte abraço e obrigado pelo texto.

  2. O caminho para o Brasil crescer no setor fotovoltaico é através de empresas sérias e éticas que contribuam com a sociedade gerando empregos e economia ao país. Parabéns pelo trabalho Tegon !

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