Importância da qualidade das células FV no combate ao Fake Power

Gerente técnico da Amara traz um ponto de vista técnico sobre o tema
Importância da qualidade das células FV no combate ao Fake Power
O ditado que “o barato sai caro” continua extremamente pertinente. Foto: Freepik

Um problema que vem ocorrendo no mercado fotovoltaico, mas que ainda é de difícil identificação por parte dos clientes, chama-se Fake Power. Já conhece esse termo? Tratamos um módulo como Fake Power quando o mesmo possui uma potência nominal abaixo da estipulada no datasheet, em sua etiqueta de identificação.

Por exemplo, um painel que possui datasheet informado de 555 Wp, porém ao realizar testes no mesmo, ainda novo, atinge potências na ordem de 535Wp, 540Wp. Isso é feito por fabricantes de má índole na busca por supostos “menores preços” em um setor tão competitivo como o brasileiro.

O Canal Solar já publicou algumas matérias onde comentamos sobre este problema e os riscos que os envolvidos na cadeia de fornecimento de produtos falsos correm ao aceitar comercializar e instalar nos clientes esse tipo de equipamento.

Porém, nesta reportagem vamos abordar do ponto de vista técnico, como um módulo fotovoltaico com essas características é construído, principalmente no quesito qualidade das células fotovoltaicas utilizadas na fabricação.

Gradiente de células

De acordo com Thiago Mingareli, gerente técnico da Amara NZero Brasil, o primeiro ponto é com relação a qualidade das células utilizadas no painel solar. “Hipoteticamente, por mais que todo o processo de fabricação de um módulo seja perfeito, se for usado uma célula de má qualidade, o produto final continuará sendo ruim. Seria similar a se contratar a melhor construtora da cidade para reformar minha casa, mas eu comprar produtos de baixa qualidade”. 

“Não ficará bom, não será durável. E como muitas das vezes a má qualidade da célula não é perceptível a olho nu, elas são usadas por fabricantes de má fé (e aceita por alguns distribuidores, é importante frisar) na fabricação dos módulos sem receios de prejudicar o cliente final, que não consegue identificar essa má qualidade apenas com a documentação técnica enviada”, explicou.

Mas e como são definidas, classificadas as células de acordo com sua qualidade? Conforme Mingareli, o problema é que não há uma normativa internacional que regulamenta exatamente como deve ser feita essa classificação, mas há um certo consenso (ao menos entre os principais players) de quatro níveis de qualidade (que se desmembram em outros subníveis, a depender do fabricante):

  • Células Grade A: células perfeitas, sem qualquer problema de fabricação;
  • Células Grade B: células que possuem alguma imperfeição visual, mas que não afeta suas características elétricas e rendimento em um primeiro momento;
  • Células Grade C: células que possuem algum dano elétrico, mas não necessariamente imperfeição visual;
  • Células Grade D: células quebradas e/ou inutilizáveis.
Grade de células. Fonte: Sinovoltaics/Reprodução

“O grande problema, como citado anteriormente, é que não há uma regulamentação oficial a esse respeito. Alguns fabricantes dividem sua classificação em A+, A-, B+, B-, etc., e fica subjetivo essa análise. Uma célula A- não seria na verdade uma célula grade B?”, indagou.

Ao trabalhar com células grade B, por mais que inicialmente estejam eletricamente ok, existe a chance de, ao longo do tempo, vir a apresentar danos característicos de defeito em células como hotspots, entre outros. E células de grade C trarão módulos de menor potência/qualidade já no momento inicial.

“Ou seja, a não ser que o fabricante utilize células de alta qualidade, grade A, fatalmente a usina irá performar pior ao longo do tempo e, mais do que isso, trará também riscos à segurança dos envolvidos”, disse o especialista. 

Módulo “xadrez” de qualidade

Segundo o gerente técnico da Amara, o segundo ponto relativo à qualidade (ou falta dela) no processo de fabricação de um módulo fotovoltaico é novamente com relação à qualidade das células utilizadas. 

“O que citamos anteriormente referente ao gradiente de células também é verificado em outro teste, chamado de EL – Eletroluminescência. Basicamente – que consiste em realizar um ‘raio-X’ do painel para verificar eventuais danos invisíveis a olho nu, como microfissuras, células queimadas ou até mesmo diferença de qualidade de células (lembra que citamos anteriormente sobre os gradientes?)”, relatou.

Abaixo, temos um exemplo de um teste EL com células de mesma qualidade, sem imperfeições ou danos às mesmas. Isso representa um módulo com células de qualidade.

EL de um módulo fotovoltaico de alta qualidade de células. Imagem: Amara NZero Brasil/Divulgação

Já a próxima imagem, abaixo, indica um módulo que, apesar de não demonstrar nenhum dano visível ou microfissuras nas células, apresenta uma diferença de qualidade muito grande entre elas. 

“Nestes casos, não só há um problema de geração neste equipamento, mas podemos fazer uma correlação montando uma string de módulos em série e utilizando módulos de características elétricas diferentes – sabemos que isso não é permitido, o que causará um mismatch e, em casos mais graves, danos ao sistema. É exatamente isto que ocorrerá com um módulo como o da ilustração abaixo”, apontou Thiago Mingareli.

Da mesma forma em que foi citado quando abordado o tema de grades de células, aqui também não há uma normativa que regulamenta isto. Cada fabricante define, a seu critério, qual será a diferença aceitável de tonalidade entre elas. 10%? 30% 50%? Quanto mais uniforme a tonalidade entre as células, melhor o módulo fotovoltaico performará.

Exemplo: gradiente de tonalidade de células FV. Imagem: Amara NZero Brasil/Divulgação

“Como já devem imaginar, células de menor qualidade (grade B, C, etc.) possuem um preço menor comparado a uma célula grade A, de excelente qualidade. Em um mercado onde os principais players possuem preços muito próximos, um produto com preço abaixo da média fatalmente indicará que as células utilizadas na fabricação deste produto possuem uma qualidade inferior ao esperado, ainda que visualmente não vemos nada de errado com elas”, afirmou.

E como você pode se prevenir de cair nessa cilada? Confira, abaixo, algumas dicas elencadas pelo especialista:

  1. Escolha fabricantes que possuam as principais certificações internacionais do setor, atestado por grandes instituições, como Bloomberg (Tier1), PVEL, PVtech, RETC, PVBL, etc.);
  2. Busque por fabricantes e distribuidores com atuação global, não apenas local. Verifique se estes módulos possuem presença em mercados mais exigentes como EUA e Europa;
  3. Solicite o flashtest dos painéis que adquiriu ao seu fornecedor. É algo que todos possuem e, qualquer dificuldade no compartilhamento da informação, desconfie;
  4. Por fim, suspeite de preços muito abaixo da média do mercado. Como citado acima, muito provavelmente estão sendo utilizados produtos de baixa qualidade e que trarão responsabilizações a sua empresa.

“Não custa relembrar: o Código de Defesa do Consumidor é claro ao responsabilizar toda a cadeia de fornecimento (fabricante, distribuidor e integrador) em caso de informações errôneas ou falsas ao cliente final, cabendo multa, substituição do produto e até mesmo detenção caso comprovada a fraude. O ditado que ‘o barato sai caro’ continua extremamente pertinente neste caso”, concluiu. 

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Mateus Badra
Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como produtor, repórter e apresentador na TV Bandeirantes e no Metro Jornal. Acompanha o setor elétrico brasileiro desde 2020.

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