Uma nova pesquisa da Bain & Company, divulgada nesta semana, revelou uma mudança significativa de percepção entre executivos das principais empresas de energia e de recursos naturais. Segundo o levantamento, quase metade (44%) dos líderes do setor acredita que a neutralidade de carbono global só será alcançada após 2070.
Trata-se de uma projeção bem mais distante do que a meta estabelecida originalmente pelo Acordo de Paris, que previa o alcance dessa objetivo até 2050. O estudo indica uma inversão em relação ao cenário de 2024, quando apenas 31% dos executivos previam a neutralidade de carbono em uma prazo mais longo do que o previsto inicialmente.
No segmento de petróleo e gás, a previsão média dos executivos aponta para um pico no consumo global de petróleo em torno de 2038. O dado reforça que, ao menos no curto e médio prazo, os combustíveis fósseis continuarão suprindo fortemente a demanda energética.
Para Rodrigo Más, sócio da Bain & Company e líder das práticas de Industrials e Utilities na América do Sul, os resultados refletem o que ele chama de um desafio duplo: atender à crescente demanda por energia enquanto se avança na redução de emissões.
“A descarbonização continua sendo um objetivo, mas diante dos desafios para cumpri-lo, as empresas estão ajustando prioridades e prazos para equilibrar com outros objetivos estratégicos e financeiros”, afirmou o executivo.
Pressão financeira e cautela nos investimentos
A pesquisa — que ouviu mais de 700 executivos de setores como petróleo, gás, energia elétrica, mineração, químicos e agronegócio — aponta que a principal barreira para avançar com negócios sustentáveis é a dificuldade em encontrar clientes dispostos a pagar mais por produtos e soluções de baixo carbono.
Outros entraves citados incluem a ausência de políticas públicas estáveis e incentivadoras, além de limitações de capital próprio e de caixa. Mais de 75% dos entrevistados afirmaram ainda que os custos de seus projetos aumentaram ao menos 5% no último ano.
Tecnologia e IA ganham protagonismo
Apesar do cenário desafiador, as empresas têm apostado em tecnologias digitais para melhorar a execução de projetos e a eficiência operacional. Quase metade dos líderes pretende adotar soluções como inteligência artificial nos próximos anos.
O estudo mostra também que 72% enxergam benefícios concretos no uso dessas tecnologias entre cinco e dez anos, enquanto mais de 60% planejam atualizar seus sistemas de ERP (Planejamento de Recursos Empresariais) nos próximos três anos.
Impacto da inteligência artificial no consumo de energia
Outro ponto de atenção destacado pelos executivos é o aumento na demanda por energia puxado pelo crescimento da inteligência artificial e da construção de novos datacenters. Cerca de 43% dos entrevistados consideram esse desafio como prioritário dentro das discussões de planejamento energético.
A Bain & Company estima que o consumo anual de energia dos data centers pode mais que dobrar até 2027, representando 2,6% da eletricidade consumida globalmente — o que exigiria mais de US$ 2 trilhões em investimentos.
Para atender a essa nova demanda, as estratégias das empresas de energia incluem investir na geração de fontes renováveis, prolongar a vida útil de ativos existentes e expandir a capacidade de geração térmica a gás natural. Na América do Norte, cerca de 34% dos executivos afirmam que os investimentos em energia nuclear também devem ganhar espaço.
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