Mercado fotovoltaico no Brasil: previsões para o final de 2023

Executivos apontam que a recuperação do setor será gradativa, exigindo de todos uma gestão mais qualificada e ágil
01-11-23-canal-solar-Mercado fotovoltaico no Brasil previsões para o final de 2023
“A perspectiva para o mercado é boa”, diz Nuno Verças. Foto: Freepik

O mercado fotovoltaico tem enfrentado um ano desafiador no Brasil. Profissionais ouvidos pelo Canal Solar apontaram que o primeiro semestre de 2023 viveu altos e baixos.

As condições macroeconômicas, incluindo a alta dos juros de financiamento – atrelados à taxa Selic, que bateu os 13,75% ao ano – e aprovações de crédito mais rigorosas, dificultaram muitos projetos.

Por outro lado, o tempo de payback (retorno de investimento) dos sistemas fotovoltaicos no país caiu mesmo depois da entrada das novas regras da GD (geração distribuída).

O principal fator que contribuiu para esse resultado, de acordo com estudo da Greener, foi a redução do preço dos equipamentos, que caiu 17% no primeiro semestre de 2023 na comparação com igual período do ano passado.

No caso base dos sistemas residenciais (4 kWp), houve uma redução de 15% de payback nas condições do cenário GD 2 (depois da Lei 14.300). Um sistema residencial, em média, no estado de São Paulo, por exemplo, que antes tinha um payback de 4,7 anos, caiu para 4 anos no cenário GD 2 em 2023.

Portanto, ao longo do ano, o mercado vivenciou diferentes cenários, que impactaram positivamente e negativamente os consumidores de energia solar.

Mas, e para o restante do ano, quais são as previsões?

Nuno Verças, CEO da Aldo Solar, comentou que esse ano todo mundo sofreu do mesmo erro, que foi ter acelerado as vendas no final do ano passado com medo do “fantasma inexistente” da Lei 14.300.

“A verdade é que muita gente se prejudicou. Contudo, a perspectiva para o mercado é boa. Na Aldo, o volume de vendas tem melhorado de forma substancial – quase 60% a mais que os números de abril, que foi o nosso pior mês em 2023”, comparou.

O cenário otimista citado por ele leva em consideração o fato de o mercado nacional estar mais adaptado às regras da Lei 14.300 e também o fato de a legislação apresentar vantagens significativas em relação às leis da grande maioria dos países.

“Hoje, os créditos recebidos pelos consumidores brasileiros das distribuidoras são melhores do que os recebidos por quaisquer consumidores de países da Europa. Os países que têm bons índices por lá oferecem até 12% de crédito, enquanto que no Brasil o consumidor possui mais de 70% de crédito na sua conta. Ou seja, a lei é favorável para que o brasileiro possa ter o seu equipamento”, complementou.

“A minha principal preocupação, atualmente, é o risco de potencial insegurança jurídica vinda de movimentos políticos que pretendem limitar o âmbito da própria 14.300, permitindo às concessionárias de energia negarem projetos de on-grid. Isto para mim seria, claramente, uma ofensa aos consumidores brasileiros negando-lhes acesso à sua própria geração de energia”, afirmou Verças.

Ademais, o CEO da Aldo disse que o alto índice de insolação no país e a larga margem de crescimento que ainda existe para usinas de micro e minigeração apenas fortalecem a tese de que o mercado nacional seguirá próspero por muitas décadas.

“No Brasil, apenas 2% das residências possuem energia fotovoltaica. Na grande maioria dos países da Europa esse índice é pelo menos três vezes maior. Na Austrália, mais de 26% das casas já possuem um sistema de energia solar. Ou seja, se nos últimos três anos tivemos um grande crescimento da fonte e mesmo assim temos apenas 2% das casas com solar, imagina o quanto que ainda não temos de espaço para crescer”, finalizou.

Recuperação do setor será gradativa

Na visão de Eduardo Villas Boas, CEO da Esfera Solar, o pior cenário já ficou para trás e a recuperação será gradativa, exigindo de todos uma gestão mais qualificada e ágil.

“O mercado de pequenas e médias usinas (até 5 MW) para locação e/ou venda de energia foi um que se mostrou promissor, porém não foi o suficiente para cobrir a queda do mercado da microgeração, que se mostrou bem acentuada. Para contornar essa situação é essencial que o integrador busque soluções no setor para vender um produto com maior valor agregado. Para isso, ele precisa se especializar cada vez mais”, destacou.

Com relação à distribuição de equipamentos fotovoltaicos, Villas Boas comentou que o desafio foi ‘desovar’ os estoques antigos com o menor impacto possível em seu fluxo de caixa, e mudar o modelo de negócio trabalhando com estoques reduzidos, se comparados com os níveis de 2022.

“Evidente que com o amadurecimento do mercado, com o aumento de venda de carros elétricos e com a queda de preços dos sistemas híbridos, temos pela frente um cenário de crescimento na venda de soluções de storage e carregadores”, relatou.

Bruno Catta Preta, diretor de Relações Institucionais da Genyx, também está otimista em relação aos avanços do setor fotovoltaico brasileiro, apesar de vez ou outra o segmento esbarrar em alguns entraves, como a necessidade de investimentos em infraestrutura do sistema elétrico para suportar o crescimento da demanda por energia solar.

“Atualmente, possuímos um setor muito mais maduro e profissionais cada vez mais qualificados, além de termos consumidores finais mais bem informados e cientes dos reais benefícios da solar”, acrescentou.

Outro ponto ressaltado pelo executivo é que com o início da queda dos juros no país e as reduções de custos da matéria prima dos painéis solares, como o polissilício, o volume de negócios deve aumentar até o final do ano.

“O Brasil é muito promissor no mercado de energias renováveis e a solar é a bola da vez mundial. Prova da expectativa de um protagonismo brasileiro em um futuro próximo é a COP-30 de 2025, que será realizada no estado do Pará”, enfatizou.

“O evento certamente atrairá olhares internacionais e esperamos receber grandes investimentos de outros países para acelerar ainda mais o crescimento do mercado fotovoltaico brasileiro”, finalizou Catta Preta.

Confira a reportagem completa na 19ª  edição da Revista Canal Solar. 

Imagem de Mateus Badra
Mateus Badra
Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como produtor, repórter e apresentador na TV Bandeirantes e no Metro Jornal. Acompanha o setor elétrico brasileiro desde 2020.

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