Nos últimos anos, o mercado de GD (geração distribuída) tem se mostrado um dos setores mais resilientes da economia brasileira, mesmo diante de desafios como a alta da taxa Selic e a valorização do dólar.
Enquanto muitos segmentos sentem o impacto direto do cenário macroeconômico, a queda expressiva no preço dos equipamentos fotovoltaicos e a evolução das condições de financiamento têm mantido a energia solar como uma opção atrativa para consumidores residenciais e empresariais.
Para entender melhor esse panorama e as perspectivas do segmento, o Canal Solar entrevistou Carolina Reis, CEO do Meu Financiamento Solar, uma das maiores plataformas de aquisição de crédito para energia solar no Brasil.
Durante a conversa, a executiva explicou como a combinação entre inovação tecnológica e novas modalidades de crédito vem impulsionando a expansão da GD no país, mesmo em um cenário de juros elevados.
Carolina também compartilhou dicas valiosas para quem deseja investir em energia solar sem comprometer o orçamento e comenta sobre o interesse contínuo das instituições financeiras no financiamento de projetos solares.
Confira a entrevista completa abaixo:
A taxa de juros no Brasil está em um dos patamares mais altos dos últimos anos. Como isso tem impactado o financiamento de projetos solares no segmento de GD?
A escalada da taxa Selic dos últimos períodos e o aumento mais recente do dólar no Brasil é sempre um sinal de alerta para a saúde da macroeconomia brasileira. Esse cenário adverso afeta, sem dúvidas, muitos setores da economia, haja visto a elevação dos preços dos alimentos neste ano.
Porém, no caso do setor de geração distribuída, há um cenário bastante singular, que o torna quase que “blindado” dessas oscilações macroeconômicas no Brasil. O mercado brasileiro de GD é abastecido, majoritariamente, por equipamentos importados de países asiáticos, especialmente da China.
Como a China e as demais nações fabricantes de equipamentos vivem um alto processo de avanço tecnológico, de escala industrial e de eficiência produtiva, além da própria competição saudável pelos mercados globais, o preço final para os consumidores brasileiros que instalam painéis solares em suas casas, condomínios e empresas tem caído drasticamente na última década.
Além de ficarem mais baratos, os equipamentos fotovoltaicos estão ainda mais eficientes, o que traz muita atratividade e reduz ainda mais o tempo de retorno de investimento do consumidor.
Junte nesta conta o alto nível de radiação no Brasil e os constantes aumentos na tarifa de energia e, assim, observamos um mercado nacional de GD avançando independente das mudanças da taxa básica de juros e do câmbio.
Para ter uma ideia, a queda no preço dos painéis solares superou as expectativas dos especialistas nos últimos três anos. O preço do painel solar caiu, em média, 60% de 2022 para 2025, com preços dos fabricantes chineses saindo de USD 0,23/Wp para USD 0,08 Wp.
Nem o aumento da Selic e a elevação do dólar conseguiram diminuir o retorno do investimento em painéis solares, pelo contrário, a queda de preço foi tão grande que agora investir em um sistema de energia solar fotovoltaica para uma casa ou comércio pode ser o melhor destino do dinheiro do proprietário.
Com a perspectiva de novas altas nos juros, o que podemos esperar para o mercado solar em 2025?
Como explicado acima, o mercado de GD deve continuar avançando de forma robusta no Brasil, já que a queda no preço dos equipamentos elevou a taxa simplificada de retorno de investimento em painéis solares para 35% a 45% ao ano.
O retorno do investimento em painéis solares em 2022 era na casa de 20% ao ano e, dessa maneira, o retorno do investimento praticamente dobrou nos últimos três anos.
Portanto, o crescimento do mercado de GD deverá seguir uma curva ascendente em 2025, impulsionado pelas novas soluções de crédito oferecidas pelos integradores aos clientes finais. O financiamento é atualmente a melhor opção para adquirir um sistema fotovoltaico para quem não quer tirar dinheiro do bolso.
O Meu Financiamento Solar utiliza, por exemplo, um modelo de concessão de crédito baseado em preço por risco, ou seja, quanto melhor for o perfil de crédito do cliente melhor será a taxa de financiamento utilizada.
De acordo com nossos balanços, a parcela do financiamento, na maioria dos casos, fica mais barata que a economia gerada na conta de luz do cliente, mesmo neste cenário de dólar alto e Selic elevada.
Dessa maneira, o sistema de energia solar acaba gerando economia suficiente para pagar as parcelas do financiamento e, em alguns casos, não só isso, mas também gera um ganho para o investidor
Se os juros continuarem altos por um longo período, quais podem ser as principais consequências para o setor fotovoltaico?
Obviamente, esperamos que a economia brasileira retorne a patamares melhores para a população. Mas, no caso da GD, como já explicado, a queda de preço dos equipamentos, as soluções de crédito e o avanço da eficiência e da tecnologia manterão a atratividade para os consumidores que desejam instalar painéis solares, mesmo em um cenário mais adverso na macroeconomia.
Em momentos como esse, que tipo de crédito ou condições de pagamento podem ser mais vantajosas para quem quer investir em energia solar neste momento?
Como disse, ao simular de tamanho do sistema em termos de potência, custo de instalação, equipamentos, quantidade de parcelas do carnê e economia na conta de luz do cliente, o Meu Financiamento Solar constatou que, na maioria dos casos, a parcela do financiamento fica mais barata que a economia gerada na conta de luz mensal do cliente.
E, no pior cenário, a parcela ultrapassa um pouco o que o consumidor já paga mensalmente na conta de luz, o que também deixa mais próximo da realidade do cliente.
A maior quantidade de projetos solares financiados em 2024 em nossa plataforma foi de sistemas entre 5,5 kW e 8,2 kW, utilizados majoritariamente em residências, que representaram 31% dos projetos financiados em 2024 pela plataforma.
Nestes casos, a economia para o consumidor varia entre R$ 500,00 e R$ 800,00 por mês. Isso mostra um cenário bastante interessante para o consumidor tomar a decisão de investir em painéis solares.
Para o consumidor final, quais são as principais dicas para viabilizar o financiamento de um sistema solar sem comprometer o orçamento?
A primeira dica é fazer cotações com integradores reconhecidos no mercado, que possuem histórico de instalações e boas avaliações dos clientes. Outro ponto é entender bem como será dimensionado o sistema a ser instalado.
O projeto deve contemplar o histórico e o perfil de consumo do imóvel, o nível de radiação solar do local, a quantidade de painéis solares e a estrutura do telhado ou da cobertura. Tudo isso deve, no final, apresentar vantagens econômicas com redução na conta de luz e tempo de retorno entre três a cinco anos.
Também é preciso avaliar o modelo de financiamento apresentado, de modo que facilite o pagamento e deixe o valor da prestação mensal parecido com o gasto da conta de luz do cliente.
Como o mercado pode trabalhar para minimizar os impactos dos juros altos e continuar incentivando a adoção da energia solar?
Os integradores devem manter boas parcerias com distribuidores e operadoras de crédito e sempre avaliar preços e condições, para oferecer ao cliente final a melhor proposta de projeto de energia solar.
No caso do Meu Financiamento Solar, de todos os créditos liberados no último ano, as residências lideram de longe as contratações, com 83% do total. Outros consumidores que utilizaram a plataforma em 2024 foram estabelecimentos comerciais e condomínios residenciais.
A quantidade de parcelas escolhida pelo cliente final variou entre 48 vezes, que representaram 47% das contratações, e 96 vezes, com 40%. O restante, 13%, escolheu um carnê com volume menor de prestações.
Existe algum perfil de cliente que está sendo mais impactado pela alta dos juros? Pequenos consumidores, empresas, agronegócio?
Como disse, o cenário adverso da macroeconomia afeta quase todos os setores brasileiros. Obviamente, o aumento da taxa Selic tem reduzido a competitividade dos setores produtivos e impactado o orçamento familiar. Neste dois casos, a instalação de sistemas solares pode, inclusive, ser uma importante alternativa de redução de gastos e ganhos de competitividade.
A alta dos juros pode afetar a competitividade da energia solar em relação a outras fontes de energia no Brasil?
Não acredito, pois a fonte solar tem sido historicamente a mais atrativa frente a outras tecnologias, tanto no mercado brasileiro quanto no ambiente internacional.
No caso da GD, especificamente, a tecnologia fotovoltaica domina quase todas as instalações no Brasil, já que é modular, flexível, mais barata, mais fácil de implementar e possui baixa necessidade de manutenção.
Você acredita que há espaço no Brasil para novos modelos de crédito, como linhas de financiamento atreladas à inflação, dólar ou até criptomoedas?
Claro que o mercado brasileiro de financiamentos para projetos de GD é altamente competitivo, o que estimula inovações constantes, para trazer as melhores opções aos clientes finais. Especialmente, o Meu Financiamento Solar é a maior plataforma de aquisição de créditos para energia solar do Brasil, com aprovação 100% digital, rápida e segura.
Solução do Banco BV, nasceu de forma independente em 2020 com o intuito de tornar o uso de sistemas fotovoltaicos mais acessível, e, em 2024, atingiu mais de 45 mil propostas aprovadas.
A linha de crédito do banco BV para sistemas fotovoltaicos, viabilizada por meio da plataforma Meu Financiamento Solar, foi eleita por sete vezes consecutivas a solução financeira mais citada por integradores e empreendedores que atuam com projetos e instalação de painéis solares em telhados no Brasil, conforme pesquisas anuais da Greener.
Em um cenário de juros elevados, os bancos e instituições financeiras têm demonstrado interesse em continuar financiando projetos solares?
No nosso caso, mantemos nossa confiança no mercado brasileiro de GD e nossos esforços estão direcionados para sempre trazer as melhores e mais inovadoras ofertas de financiamento para o consumidor.
O grande volume de liberação de créditos no último ano na nossa plataforma reflete o crescente interesse do consumidor em tecnologias sustentáveis e que trazem economia real no bolso.
Para ter uma ideia, o Meu Financiamento Solar recebe mensalmente cerca de 450 pedidos de cadastros de empreendedores que buscam incluir a linha de financiamento da empresa no portfólio de serviços aos clientes finais.
De acordo com nossa estimativa, cerca de 70% desses pedidos de parceria são provenientes de novos entrantes no mercado de integradores.
O alto volume de cadastros na plataforma Meu Financiamento Solar, que chegam de todos os estados brasileiros, é reflexo das crescentes oportunidades de negócio para os empreendedores de energia solar, sobretudo com as facilidades de financiamento que têm viabilizado boa parte das instalações fotovoltaicas nos imóveis.
A empresa tem estudado alternativas como parcelamentos diferenciados, taxas fixas ou flexíveis, para minimizar os impactos da Selic alta?
Temos em nosso DNA a inovação permanente para o mercado de financiamentos de projetos de GD. E, estamos sempre atentos às mudanças de perfil e de consumo de energia elétrica no Brasil, no sentido de trazer soluções alinhadas com o desejo e as novas demandas dos consumidores.
Para quem está planejando financiar um sistema solar agora, o que você recomenda: esperar uma possível queda nos juros ou agir agora antes que subam ainda mais?
Na verdade, o crescimento da energia solar é sinal claro da popularização da tecnologia no território nacional verificada na última década.
Com as quedas constantes no preço dos equipamentos, a tecnologia se espalha por todo o Brasil e atinge a consumidores de diferentes perfis.
Portanto, trata-se do melhor momento para se investir em sistemas solares em residências, empresas, condomínios e propriedades rurais.
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