Mercado solar chinês enfrenta momento delicado com pressão de estoques

Produção acima da demanda leva Pequim a adotar medidas regulatórias para preservar a sustentabilidade da indústria.
Mercado solar chinês enfrenta momento delicado com pressão de estoques
Foto: Canva

A indústria solar chinesa vive um dilema que ameaça se espalhar por outros setores estratégicos da economia do país: o excesso de capacidade produtiva.

Wladimir Janousek, da JCS Consultoria, explica que a superoferta de equipamentos, em especial de módulos solares, provocou uma concorrência predatória no mercado interno, com fabricantes de diferentes portes operando no vermelho.

A queda na demanda global, segundo ele, só agravou o quadro, em meio a restrições comerciais impostas pelos Estados Unidos. Houve ainda aumento de impostos no Brasil, outro mercado-chave para os exportadores chineses.

De acordo com Janousek, essa dinâmica resultou em um colapso dos preços em toda a cadeia produtiva.

“Do polissilício às células fotovoltaicas, as reduções são gigantescas, com os módulos solares hoje valendo cerca de 60% menos do que no pico registrado em 2020”, observou.

Ele destaca que, em vez de competir por inovação e robustez tecnológica, muitas empresas passaram a lançar produtos cada vez mais simples e baratos, apostando que sobreviveriam apenas pela redução de custos.

Decisões emergenciais

O cenário levou o governo chinês a adotar medidas mais duras. O Ministério da Indústria e Tecnologia anunciou, junto com a associação local da indústria solar, propostas de regulação para evitar que a chamada “competição na involução” se consolide.

A ideia é estimular boas práticas e foco em qualidade, de modo a impedir a degradação da indústria, vital tanto para a economia interna quanto para as exportações.

A gravidade do problema fica evidente nos números: líderes do setor acumularam prejuízos bilionários em dólares no primeiro semestre de 2025, revertendo lucros obtidos em anos anteriores. A instalação recorde de 212,2 gigawatts de capacidade fotovoltaica no período, embora expressiva, não foi suficiente para absorver a enxurrada de módulos produzidos. Com isso, os preços caíram ao menor nível desde 2011, segundo dados oficiais.

Contaminação

“Essa luz amarela já não se limita ao setor solar”, alertou Janousek. Ele cita que segmentos como veículos elétricos e baterias começam a enfrentar dilemas semelhantes, com produção superior a um milhão de unidades além da capacidade de absorção do mercado.

O risco, afirma o consultor, é que a mesma combinação de excesso de oferta, queda na demanda e barreiras comerciais crie uma espiral de desvalorização que comprometa a sustentabilidade da indústria chinesa em várias frentes.

Tecnologia verde em risco

A tensão com os EUA reforça esse quadro. Dados de mercado apontam que Washington elevou tarifas sobre produtos chineses em até 30% e impôs sobretaxas de até 3.400% sobre células solares oriundas do Sudeste Asiático, onde fabricantes buscavam driblar barreiras anteriores.

Para algumas companhias, isso significou queda de até 85% nas exportações em apenas um semestre.

Consultado, um executivo de um grande fabricante chinês com grandes negócios no Brasil, informou que a empresa não autoriza manifestações sobre a questão do contencioso tarifário com os EUA.

O governo chinês, avalia Wladimir Janousek, tenta reagir para impedir que a guerra comercial e a desaceleração do consumo global transformem sua maior aposta — as tecnologias verdes — em fonte de instabilidade. Na opinião do consultor, o desfecho dessa crise vai definir não apenas o futuro da indústria solar, mas também o equilíbrio da transição energética mundial.

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Antonio Carlos Sil
Antonio Carlos Sil é jornalista formado pela FMU/FIAM. Atuou como repórter pela Brasil Energia, além de serviços prestados para Agência Estado, Exame e Canal Energia. Trabalhou em assessorias de comunicação da CPFL Energia, CESP e AES Tietê. Cobre setor elétrico desde 2000. Possui experiência na cobertura de eventos, como leilões de energia, convenções, palestras, feiras, congressos e seminários.

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