Sua usina solar pode estar perdendo energia, e você nem sabe disso

Pequenas falhas que passam despercebidas podem gerar grandes prejuízos
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Foto: Proauto/Divulgação

Imagine uma usina solar operando normalmente, sem alarmes ou paradas visíveis, mas com a produção abaixo do esperado. Nenhum equipamento parece danificado. Nenhuma string foi desconectada. Mesmo assim, a energia gerada não corresponde ao potencial da planta.

Esse cenário é mais comum do que parece e muitas vezes, o motivo está oculto onde poucos olham: no isolamento elétrico.

Esse tipo de falha geralmente não emite sinais evidentes. Não gera ruído, não desarma disjuntores e não queima componentes de forma imediata. Mas está ali: reduzindo a eficiência do sistema, comprometendo a segurança e encurtando a vida útil dos equipamentos.

Quando o problema está no que não se vê

As falhas de isolamento em sistemas fotovoltaicos são silenciosas, porém perigosas. Podem surgir de forma gradual, influenciadas por condições comuns do ambiente externo:

  • Poeira acumulada nos cabos;
  • Umidade constante em estruturas metálicas;
  • Calor extremo ao longo dos meses;
  • Pequenos danos mecânicos na estrutura do cabo – causados por animais, instalação ou manutenção inadequada.

Esses fatores degradam as proteções isolantes dos condutores. Quando isso ocorre, a energia começa a “escapar” por caminhos indevidos, gerando correntes de fuga. Sem um sistema de monitoramento adequado, essa perda pode durar dias, semanas ou até meses sem que ninguém perceba.

Quanto maior a usina, mais difícil identificar

Nas usinas de grande porte, o desafio se intensifica. O volume de cabos, conexões e módulos aumenta significativamente a capacidade total da planta, o que reduz naturalmente a resistência de isolamento medida no sistema como um todo. Nessas condições, detectar uma falha real de isolamento torna-se muito mais difícil.

Inspeções visuais, testes pontuais ou até mesmo as proteções automáticas dos inversores não conseguem identificar degradações lentas e progressivas. Resultado: a falha se agrava sem ser notada até que ocorrem quedas de rendimento, paradas intermitentes ou riscos de choque elétrico.

Foto: Proauto/Divulgação

O procedimento mais comum e seus riscos

Hoje, o método mais usado para localizar uma falha de isolamento em campo é manual. Quando o inversor sinaliza um erro, o operador geralmente desliga o equipamento e inicia um processo de tentativa e erro: desconecta todas as strings e reconecta uma a uma, até encontrar a que apresenta problema.

Apesar de parecer simples, esse procedimento traz vários riscos:

  • Exposição a choque elétrico, já que os cabos seguem energizados pela luz solar, mesmo com o inversor desligado;
  • Risco de arco elétrico, especialmente em corrente contínua, com potencial para queimaduras ou danos a conectores;
  • Erros de diagnóstico, caso a falha seja intermitente;
  • E, claro, perda de tempo e produção, com o sistema parcialmente ou totalmente parado durante o processo.

Além disso, esse tipo de intervenção exige presença técnica no local e uma operação cuidadosa, o que nem sempre é viável ou seguro em usinas remotas ou de grande porte.

Por que não dá para confiar apenas no que vem com o inversor?

É verdade que muitos inversores fotovoltaicos incluem algum tipo de proteção contra falhas à terra, como o GFDI (Ground-Fault Detector Interrupter). Na prática, porém, esses dispositivos atuam de forma limitada: fazem uma verificação rápida ao energizar o sistema e, se não encontrarem uma falha crítica naquele instante, consideram o circuito seguro.

O problema é que o isolamento elétrico pode se deteriorar durante a operação, por efeito do calor, umidade ou descargas atmosféricas. Nesses casos, as proteções internas dos inversores não são suficientes. Além disso, é raro que esses sistemas armazenem histórico de falhas ou permitam análise de tendências, o que inviabiliza uma manutenção preditiva eficaz.

Foto: Proauto/Divulgação

O que muda com o uso de IMDs dedicados?

Para resolver essas situações, muitos especialistas adotam os Dispositivos de Monitoramento de Isolamento (IMDs). A principal vantagem desses equipamentos é a monitoria contínua e em tempo real da integridade elétrica, inclusive em redes IT (não aterradas) bastante comuns em usinas solares.

Quando há uma queda progressiva na resistência de isolamento, mesmo ainda dentro dos limites, o IMD registra, alerta e permite ação preventiva, evitando impactos na produção ou riscos à segurança.

Os modelos mais avançados oferecem:

  • Monitoramento remoto;
  • Integração ao sistema de supervisão da usina via Modbus RTU;
  • Registro histórico e análise de tendência de falhas.

Isso agiliza o diagnóstico, facilita a manutenção e torna o sistema mais confiável principalmente em usinas de grande porte com monitoramento centralizado. Ademais, muitos IMDs atendem à norma NBR 16690, que trata da proteção em sistemas fotovoltaicos garantindo conformidade técnica e regulatória para projetistas e operadores.

IMDs + localização de falhas: monitorar e agir com precisão

Em usinas maiores, monitorar o isolamento já não é suficiente. É essencial identificar com precisão onde está a falha. Para isso, existem sistemas de localização automática que funcionam em conjunto com os IMDs.

Esses sistemas permitem que, ao detectar uma queda na resistência de isolamento, seja possível localizar exatamente qual string, ramal ou segmento da instalação apresenta o defeito, mesmo com o sistema ainda em operação.

O processo é simples e seguro:

  • O IMD identifica a anomalia e aciona o sistema de localização;
  • Sinais de teste são injetados no circuito;
  • Sensores distribuídos captam a resposta e indicam o ponto exato da falha;
  • As informações são exibidas localmente ou no sistema de supervisão da usina, permitindo intervenção rápida e direcionada.
Exemplo de topologia de monitoramento de um sistema de baixa tensão em uma usina fotovoltaica

Essa abordagem reduz significativamente:

  • O tempo de diagnóstico;
  • A exposição da equipe a riscos elétricos;
  • Perdas por paradas desnecessárias.

É uma solução escalável, aplicável a plantas centralizadas, distribuídas, flutuantes ou de difícil acesso, contribuindo para uma operação segura, eficiente e contínua. No entanto, no momento de especificar o local ou ramal onde será instalado o equipamento, cabe uma análise das características técnicas do equipamento para o correto funcionamento.

Valores máximos de monitoramento em tensão alternada e tensão contínua são importantes estarem bem alinhadas com a característica do componente IMD proposto.

Mais prevenção, menos surpresas

A experiência no setor solar mostra que prevenir custa muito menos do que corrigir. Monitorar o isolamento e as correntes de fuga em tempo real não é apenas uma exigência técnica é uma estratégia de gestão inteligente.

Essa prática permite:

  • Antecipar falhas;
  • Planejar a manutenção com eficiência;
  • Reduzir tempos de inatividade;
  • Aumentar o retorno sobre o investimento e a vida útil dos ativos.

Com o crescimento acelerado da energia solar no Brasil, tecnologias como os IMDs e sistemas de localização passam a compor o novo padrão de qualidade para quem deseja operar uma usina com segurança, eficiência e previsibilidade.

As opiniões e informações expressas são de exclusiva responsabilidade do autor e não obrigatoriamente representam a posição oficial do Canal Solar.

Foto de Francisco Corujo
Francisco Corujo
Engenheiro Eletricista com especialização em sistemas de potência e atua como Sales and Application Engineer na Bender Brasil. Com 10 anos de experiência em setores como petróleo, petroquímica, geração de energia e indústria, seu foco está em soluções para monitoramento de isolamento, proteção elétrica e qualidade de energia. Atua em parceria com a Proauto para promover tecnologias seguras e eficientes no setor elétrico.

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