Autoridades suecas e dinamarquesas detectaram explosões submarinas na última segunda-feira. De acordo com Björn Lund, professor de sismologia da Rede Nacional Sísmica Sueca, em entrevista a uma emissora, não havia dúvidas de que se tratavam de explosões: “você pode ver muito claramente como as ondas saltam do fundo do mar para a superfície”.
Até o momento, as causas para o vazamento nos gasodutos ainda não foram esclarecidas e autoridades de países como Alemanha, Suécia e Polônia levantam a hipótese de um possível ataque.
No entanto, os motivos que causaram os vazamentos podem levar tempo até serem identificados. Segundo o Ministro da Defesa dinamarquês, Morten Bødskov, a investigação pode demorar de uma a duas semanas para ser iniciada, devido à quantidade de gás nos tubos, que estão a uma profundidade de cerca de 80 metros.
No final da noite de terça-feira a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, se pronunciou através do Twitter se referindo ao ocorrido como um “ato de sabotagem” e declarou: “É da maior importância investigar os incidentes agora e obter total clareza sobre o que aconteceu e por quê. Qualquer ruptura deliberada da infraestrutura energética europeia ativa é inaceitável e levará a uma resposta o mais forte possível”.
Roderich Kiesewetter, especialista da Defesa do CDU, partido União Democrata-Cristã na Alemanha, acredita que o incidente se trata de um ataque por parte da Rússia. De acordo com Kiesewetter, a Rússia já havia mostrado no passado que os oleodutos seriam usados como ferramenta e a energia como uma arma contra a Alemanha. “Portanto, tal ato de sabotagem também se encaixaria na abordagem estatal-terrorista e híbrida da Rússia”, afirma o político.
Danos simultâneos em diversos tubos dos gasodutos seriam improváveis, para Ulrich Lissek, porta-voz do Nord Stream 2. Ele comenta que os dutos são instalados de forma que apenas um acidente não seria suficiente para causar danos a mais de um tubo, simultaneamente.
O ocorrido aumenta a pressão em torno da crise energética que a Europa vive atualmente. Apesar dos vazamentos encontrados não impactarem diretamente a Europa, uma vez que não havia mais distribuição de gás para o continente, a situação levanta a preocupação com relação à vulnerabilidade destes sistemas como forma de abastecimento de energia. No entanto, o preço do gás europeu aumentou cerca de onze por cento na última terça-feira.
Crise energética na Europa
O preço do kWh nos países Europeus tem subido exponencialmente. Atualmente, na Alemanha, o preço do kWh pode chegar até 51,58 centavos de euro, valor que pode variar de acordo com cada região. Para uma residência que consome até 3.500 kWh por ano, os gastos com eletricidade podem chegar até 1800 euros anualmente.
O conflito entre a Rússia e a Ucrânia e a escassez do gás para o abastecimento de eletricidade têm sido fatores que influenciam o aumento no preço da energia no país. Desde o fim de agosto, a Rússia não envia gás para a Alemanha, o que coloca a reserva de gás do país em risco. Sem o gás russo, os alemães aguardam um inverno frio fora e dentro de casa.
Para tentar conter o desperdício de energia e evitar que o país acabe com suas reservas antes do fim do inverno, o governo alemão determinou novas regras para o racionamento de energia, sendo implantadas a partir do primeiro de setembro.
Entre elas, estão o limite máximo de 19 graus de aquecimento em ambientes de trabalho, prédios comerciais, prédios públicos, supermercados ou até mesmo hotéis e cinemas.
Edifícios e monumentos públicos devem desligar sua iluminação externa depois das 22 horas, o mesmo se aplica a vitrines ou edifícios que são iluminados por razões puramente estéticas. Apenas a iluminação por razões de segurança poderá permanecer.
Prédios como hospitais, creches, escolas e asilos estão isentos do cumprimento de regras com relação à temperatura e iluminação. A partir do primeiro de outubro o governo deve anunciar novas medidas de racionamento.
Como forma de driblar a dependência do gás vindo da Rússia, o governo alemão tem buscado ajuda de outros países. Como alternativa, a Alemanha negociou com os Emirados Árabes para receber, ainda este ano, uma entrega inicial de 137.000 metros cúbicos de gás liquefeito, que está programada para chegar a Brunsbüttel, perto de Hamburgo, em dezembro de 2022.
Segundo o acordo feito pelo Chanceler alemão Olaf Scholz, a empresa estatal Emirati ADNOC também deverá fazer entregas mensais de até 250.000 toneladas de diesel para a Alemanha a partir de 2023.
Energias renováveis como alternativa
A crise de energia aumentou o interesse no setor de energias renováveis, em especial no setor solar. A indústria fotovoltaica registrou um aumento de mais de 30% no primeiro trimestre de 2022. De acordo com a Associação Federal, a tendência vai continuar.
Após o forte aumento do ano passado na construção de sistemas fotovoltaicos na Alemanha para cerca de 6 GW de potência, a indústria registou agora um acréscimo de 32% no primeiro trimestre, segundo a Associação Alemã da Indústria Solar (BSW) em Munique.
Paralelamente, o setor de armazenamento também está em plena expansão. Em 2021 foi registrado um aumento de 60% no setor, cerca de 141.000 sistemas fotovoltaicos com armazenamentos recentemente construídos.
No primeiro semestre de 2022, cerca de 14% a mais de eletricidade foi gerada a partir de energias renováveis do que nos primeiros seis meses do ano anterior. De acordo com estimativas do Grupo de Trabalho sobre Estatísticas de Energia Renovável (AGEE-Stat), a participação das renováveis no consumo bruto de eletricidade foi de cerca de 49% neste ano. Em 2021, o total era de 41% durante todo o ano.
Seria a energia solar uma das soluções para a crise de energia que a Europa e países como a Alemanha passam? A solar, além de gerar eletricidade barata, também permite parte do fornecimento de água quente. Em estações onde o tempo de sol é menor, o sistema de armazenamento pode garantir a continuidade do fornecimento de energia.
Apesar do grande papel que o setor fotovoltaico tem desenvolvido na crise de energia, a Associação Alemã da Indústria Solar afirma que ainda são necessárias melhorias das condições do autoabastecimento solar descentralizado e fornecimento direto de energia, como a redução de burocracia e reajustes nos financiamentos.