Com a aprovação do marco legal do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (Lei nº 14.948/24), o Brasil deu um passo importante rumo à consolidação da indústria de hidrogênio verde, considerada estratégica para a transição energética global.
No entanto, desafios estruturais e regulatórios ainda ameaçam a viabilidade dos projetos já anunciados no país. Entre os principais entraves está a limitação da infraestrutura de transmissão de energia elétrica, ponto central da nova proposta defendida pela ABIHV (Associação Brasileira da Indústria de Hidrogênio Verde).
A entidade propõe a realização de um leilão exclusivo de transmissão, previsto para 2026, com a contratação de 4 GW adicionais de capacidade, destinados exclusivamente ao atendimento da futura demanda da cadeia de hidrogênio verde.
A entrada em operação desses ativos, segundo a ABIHV, deveria ocorrer até 2029. Caso contrário, o Brasil corre o risco de perder até R$ 80 bilhões em investimentos e cerca de 30 mil empregos entre 2025 e 2030.
“O acesso à rede de transmissão é hoje um gargalo que pode comprometer a implantação da indústria de hidrogênio verde no país”, destaca a associação em relatório recente.
A preocupação não se limita à conexão das novas cargas — como data centers e plantas industriais de hidrogênio —, mas também aos recorrentes cortes de geração renovável, especialmente no Nordeste, que provocam insegurança jurídica e afastam investidores.
A dependência da energia elétrica renovável é um fator determinante para a competitividade do hidrogênio verde. Estima-se que entre 70% e 75% do custo de produção esteja relacionado ao consumo de eletricidade.
Nesse contexto, o Brasil apresenta vantagens comparativas significativas, com uma matriz elétrica majoritariamente renovável e grande potencial de expansão eólica e solar. No entanto, essas vantagens podem ser anuladas se a energia limpa não conseguir chegar até os centros de produção industrial por falta de infraestrutura de transmissão adequada.
Investimentos já anunciados somam mais de R$ 65 bilhões
De acordo com mapeamento realizado com associados da ABIHV, já foram anunciados R$ 65,67 bilhões em investimentos para projetos de produção de hidrogênio verde, amônia, metanol e fertilizantes nitrogenados. Os principais empreendimentos estão localizados nos estados do Ceará, Pernambuco e Minas Gerais, com participação de empresas como Fortescue, Casa dos Ventos, European Energy, Atlas Agro, Voltalia e Qair.
Apesar da robustez dos planos de investimento, a ausência de um arcabouço regulatório completo e a incerteza quanto ao acesso à infraestrutura elétrica colocam os projetos em compasso de espera. A ABIHV reforça que o planejamento de transmissão precisa considerar com antecedência a instalação de grandes polos industriais.
Para viabilizar a indústria de hidrogênio verde no Brasil, além da estrutura de transmissão, o setor depende da regulamentação da nova lei, da criação de instrumentos de financiamento, do estímulo à demanda nacional e da organização da cadeia de exportação de seus subprodutos.
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