Um dos quatro eixos que sustentaram a campanha vitoriosa de Joe Biden e Kamala Harris para a Casa Branca foi o das mudanças climáticas, com a valorização das fontes renováveis de energia e o retorno dos Estados Unidos ao Acordo de Paris.
Após tomar posse como presidente na tarde de quarta-feira (20), um dos primeiros atos de Biden como governante foi cumprir esta promessa.
Biden também anunciou que pretende capacitar trabalhadores e empresas americanas para promover ainda mais a energia limpa no país. Para isso, o governo deverá investir mais de US$ 2 trilhões nos próximos quatro anos nos setores de construção, infraestrutura e transporte. Estes investimentos têm um objetivo ousado: zerar as emissões de carbono na geração de energia nos EUA até 2050.
Adalberto Maluf, diretor de Marketing da BYD, avalia que a concretização desta medida fará com que os Estados Unidos seja a primeira grande nação global a ter a economia toda de ciclo de emissão de carbono neutro, o que deve impactar o mercado das fontes renováveis.
“Assim como o Acordo Verde da Europa, que é seguido pela França, Alemanha e o Reino Unido e tem políticas mais detalhadas da transição energética, o plano da revolução energética limpa e a justiça social feita pelo governo Biden, que envolve mais de US$ 1,7 trilhão de recursos públicos, visa transformar os EUA em 100% de energia limpa em 2050. Isso deve gerar mais de 10 milhões de empregos somente na energia limpa”, disse Maluf.
Mas como esta movimentação nos EUA deve afetar o mercado brasileiro?
Profissionais do setor solar no Brasil afirmam que a meta ambiciosa de Biden trará impactos diretos no Brasil. Bernardo Marangon, especialista no setor elétrico, destaca que a adoção de políticas de incentivo às energias renováveis pelo governo Biden deixará o Brasil sozinho na contramão dos outros países.
“Atualmente, estamos na iminência de uma alteração da REN 482, referente ao mercado de GD (geração distribuída), e a MP 998 parece estar avançando para se transformar em lei. Ambas iniciativas retiram incentivo às fontes renováveis. O resultado disto é uma menor competitividade do Brasil em relação aos outros países, fazendo com que investimentos de empresas globais sejam direcionadas para outros países. Neste contexto, certamente sairemos perdendo”, ressaltou o especialista.
Outro ponto relevante para o mercado brasileiro, destacado por Adalberto Maluf, é o impacto na cadeia produtiva. “A medida do governo americano fará com que o mercado das renováveis cresça cada vez mais, o que pode causar inclusive falta de matéria-prima pelo mundo”, avalia.
“Isso coloca o Brasil numa situação muito delicada, uma vez que nós não incentivamos com políticas industriais a criação das indústrias para os insumos estratégicos dessas grandes indústrias do futuro, o que vai fazer com que nós sejamos dependentes da tecnologia e das produções exteriores”, acrescenta Maluf.
O executivo ainda comenta que com a China, a Europa e os EUA ampliando os mercados de energia solar em velocidade muito grande pode ser que falte material e módulos fotovoltaicos de alta tecnologia para o mercado brasileiro.
Porém, Maluf destaca que as políticas públicas de Biden devem estimular o governo brasileiro e, consequentemente, a indústria nacional. “Biden pode servir de inspiração para o Brasil. Para a segurança energética e segurança do parque produtivo do Brasil. É importante que desenvolvamos as tecnologias e os insumos estratégicos porque o setor elétrico não é simplesmente uma parte da economia. O setor elétrico é a base da consolidação e da competitividade da economia global”.
“Além disso, o governo americano, assim como o europeu, pretende financiar a nível global a produção de energia limpa e renovável, e o Brasil tem muito a ganhar se vier a se inserir nestas cadeias produtivas”.
O executivo Leandro Martins, presidente da Ecori, também está acompanhando as movimentações do governo dos EUA e está confiante que a médio e longo prazo o impacto será positivo.
“A curto prazo esse posicionamento poderá gerar uma forte demanda do mercado e impactar mais ainda a cadeia de suprimentos do nosso setor fotovoltaico. Porém, no médio e longo prazo a indústria se adaptará e os benefícios ao planeta certamente serão de grande importância. Também poderemos ver um movimento internacional seguindo os mesmos passos”, afirma.
“Esperamos que inspire nossos políticos, visando a preservação de empregos na geração distribuída, a não taxarem um mercado que não significa nem 0.5% da nossa matriz energética. Acredito que essa pressão internacional, que já existia antes da posse democrata nos EUA, tenderá a aumentar agora para a preservação e melhora da nossa imagem perante o mundo”, acrescenta Martins.
Para o advogado Emanuel Pessoa, especialista em Política Econômica Internacional e Negociação de Contratos, o posicionamento é importante por dois aspectos e impactará positivamente o mercado fotovoltaico internacional, inclusive o Brasil.
“Primeiro, ele deve orientar diversos investimentos no setor enérgico para a energia renovável, o que deve, no médio prazo, baratear os custos de produção, bem como impulsionar investimentos em empresas ambientalmente responsáveis. Em segundo lugar, isso indica uma maior disposição dos Estados Unidos em cooperar com uma agenda ambiental internacional”, ressalta o especialista.
Ainda segundo Pessoa, medidas em favor do meio ambiente, como as adotadas por Biden devem impulsionar o aumento de investimentos na solução fotovoltaica no país. “No âmbito do Brasil, isto pode implicar em barateamento da energia, diminuindo os custos para o setor produtivo e para os consumidores, bem como um aumento nos investimentos em empresas que adotam boas práticas ambientais, com um crescimento dos Green Bonds, que são formas de financiamento barato para empresas que se comprometem com metas ambientais e pagam juros mais altos se as descumprirem”, acrescenta.
Energia solar no mundo
Segundo levantamento da Wood Mackenzie, empresa especializada em consultoria e pesquisa em energia, o custo da energia apresentou queda de 90% nas últimas duas décadas. A estimativa é que caia mais 15% a 25% na próxima década. Com isso, a Wood Mackenzie estima que em 2030 a energia solar se torne a fonte de energia mais barata nos EUA, Canadá, China e outros 14 países.
“Enquanto o mundo se esforça para se recuperar da crise econômica causada pela pandemia de Covid-19 e, simultaneamente, atender às metas climáticas e ambientais do Acordo de Paris, a energia solar está em uma posição única para avançar os esforços em direção a carbono, futuro sustentável”, destacou Ravi Manghani, diretor de pesquisa do Wood Mackenzie.
9 respostas
No futuro próximo haverá geradores que retira a energia da partícula do átomo (elétron), gerador que funciona de dia e de noite suprindo a demanda de uma casa. Energia solar está com o tempo contado.
Ótima reportagem
Não vejo assim se temos demanda e capacidade temos entrar brigando.
Ou então vc é pessimista negativo.
Tipicamente noticia de blogueira… Oferta e Procura só ensinam na vida e faculdades de exatas.
Meu desejo é que a energia solar se transforme em uma realidade Brasileira. Poderíamos retomar a preservação dos locais onde há usinas hidroelétrica e aproveitar nosso potencial solar. Aqui no Nordeste especificamente na região de Irecê a energia solar já e uma realidade nas regiões rurais. Enfim, desejo que o Brasil invista neste modelo sustentável.
Maior absurdo ainda é a ANEEL tentar taxar quem utiliza a energia solar. Só falta criar uma taxa para o vento que move a energia eólica ou o ar que respiramos…
Gostei muito Érica, sua postura faz de vc essa pessoa inteligente, sábia e de conteúdos jornalisticos excelentes..
Brasileiros aposta na energia solar compram painéis e baterias e inversores de eletricidade estalam com seus próprios recursos não dependendo dos governos aí vem a ANEL juntamente com os governo querendo impor impostos sobre a energia solar que e uma fonte de graça isto é ridiculo
Sim ótima opção quanto mais melhor ,e o material qual será o objetivo em relação ao Brasil já que nossa energia vem de hidroelétricas
36 a 72 delas) e no material do qual estas são feitos, sendo o silício o mais comum deles, porém em diferentes formas, como o monocristalino, policristalino, silício-amorfo, entre outros.