O executivo Bernardo Marangon, ex-Prime Energy (Grupo Shell), é o novo sócio do Canal Solar. Com uma trajetória consolidada no setor de energia, ele traz sua expertise para fortalecer a produção de conteúdo estratégico e ampliar a atuação da empresa em consultoria.
Em uma conversa exclusiva, Marangon analisa o futuro do mercado energético, o papel da comunicação na transição para um modelo sustentável e os desafios que o Brasil precisa enfrentar para acelerar a expansão das renováveis.
Bernardo, sua trajetória no setor energético é consolidada e inclui passagem pela Prime Energy, uma empresa do Grupo Shell. O que te atraiu no Canal Solar e o que essa mudança representa na sua carreira?
Minha relação com o Canal Solar não é de hoje. Desde 2019, venho contribuindo como professor e participando de diversas lives e aulas, então já conheço bem a empresa e as pessoas que fazem parte dela, incluindo o Bruno Kikumoto, sócio da companhia. E quando se pensa em uma sociedade, o primeiro ponto a considerar é o alinhamento de valores – algo que sempre vi com clareza no Canal Solar.
Além disso, acredito que o futuro dos negócios está diretamente ligado à mídia e à influência. O setor elétrico, por sua complexidade, ainda carece de veículos que consigam traduzir informações técnicas de forma clara e acessível, promovendo conhecimento de maneira profunda e estratégica.
O Canal Solar se destaca justamente por isso: une jornalismo de qualidade à capacitação profissional, por meio de seus cursos. Esse modelo não apenas agrega valor ao mercado, mas tem um enorme potencial de crescimento.
Outro fator que pesou nessa decisão foi a consultoria, uma área em que já atuava no Grupo Prime, através da Exata Energia. No Canal Solar, minha missão será fortalecer essa frente, integrando minha expertise em análise de investimentos, estruturação de negócios e operações de M&A.
O mercado já reconhece a excelência técnica da consultoria do Canal Solar, e agora teremos a oportunidade de aliar esse conhecimento técnico a uma visão estratégica e financeira ainda mais robusta. Isso, sem dúvida, será um grande diferencial competitivo.
O Canal Solar atua em três frentes: comunicação, consultoria e educação. Em um setor cada vez mais dinâmico e competitivo, como essas áreas podem impulsionar a transição energética no Brasil?
Como mencionei anteriormente, o setor elétrico está se tornando cada vez mais complexo e distribuído, com um número crescente de empresas atuando nesse mercado. Diante desse cenário, comunicação e educação desempenham um papel essencial para tornar o desenvolvimento do setor mais estruturado e sofisticado.
Nosso objetivo é garantir que as empresas tenham acesso à informação qualificada, evitando decisões equivocadas e aumentando suas chances de sucesso. Já no campo das estratégias mais aprofundadas, oferecemos consultoria técnica e financeira, proporcionando suporte especializado para quem busca uma visão mais detalhada e assertiva do mercado.
Além disso, algo que sempre esteve presente na minha trajetória é a busca por oportunidades. Quero contribuir ativamente para que o mercado enxergue novos caminhos e modelos de negócio, ajudando a destravar o potencial da transição energética no Brasil. Afinal, essa transformação exige criatividade, sofisticação e profissionalismo. E é exatamente essa abordagem que queremos fortalecer dentro da nossa área de consultoria.
A comunicação tem sido um fator determinante para a evolução de mercados complexos, como o de energia. O quanto a informação de qualidade pode impactar investidores e consumidores no setor de renováveis?
A informação sempre teve um valor significativo, mas, ao longo do tempo, seu papel se transformou. No passado, o diferencial estava na velocidade com que ela chegava às pessoas – quem tinha acesso primeiro a uma informação relevante tinha uma vantagem.
Um exemplo clássico disso é o caso dos Rothschild na Batalha de Waterloo, dizem que eles receberam antecipadamente a notícia da derrota de Napoleão e, com essa informação, investiram nos títulos ingleses, lucrando consideravelmente.
Hoje, a informação chega de forma mais rápida e acessível, mas, com isso, surge um grande desafio: a qualidade dessa informação. Em um ambiente saturado de dados e fontes, é cada vez mais difícil discernir o que é confiável. O grande diferencial agora está na capacidade de contar com fontes de informação que sejam realmente confiáveis, como uma instituição ou canal de referência.
Se você lê uma notícia em qualquer plataforma digital – seja no Instagram, TikTok ou outro meio – é difícil ter certeza se aquilo é verídico. E é aí que entra o papel das plataformas sérias, como o Canal Solar, que, por ser uma referência consolidada, oferece informações apuradas e fundamentadas. A qualidade da informação se tornou essencial para que investidores e consumidores possam tomar decisões informadas e seguras.
Portanto, a comunicação de qualidade se torna ainda mais relevante, não pela velocidade, mas pela profundidade e veracidade da informação oferecida, permitindo decisões mais assertivas em um setor tão dinâmico como o de energias renováveis.
Você vem de um ambiente altamente estratégico e competitivo. Como a experiência no mercado livre de energia e sua passagem pela Prime Energy moldam sua visão para o futuro do setor?
Essa pergunta está, na verdade, muito relacionada a um princípio fundamental que me atraiu tanto para a Prime Energy quanto para o Canal Solar: a convicção de que o conhecimento é poder.
O conhecimento é a base para a construção de um negócio bem-sucedido. Quando se trabalha apenas com intuição, sem uma estrutura sólida e uma base de conhecimento, é difícil manter um empreendimento sustentável ao longo do tempo.
Em um mercado estratégico e competitivo como o nosso, o que realmente diferencia as empresas é a qualidade das decisões que tomam. Se você fundamenta suas escolhas em informações concretas e em um entendimento profundo do setor, é muito mais provável que seu negócio prospere e se mantenha relevante no longo prazo.
Por isso, o que me motiva no Canal Solar é justamente a possibilidade de compartilhar esse conhecimento com nossos clientes, leitores e alunos. Acredito que, ao oferecer informações de alta qualidade, conseguimos construir uma autoridade no setor, tornando-nos um parceiro confiável para quem busca sucesso no mercado.
Nosso papel é ajudar o setor elétrico a crescer de maneira sustentável, garantindo que tanto nós quanto nossos clientes sigam prosperando, sempre de forma estratégica e estruturada. Esse é o princípio que molda não só o setor elétrico, mas qualquer negócio que almeje ser duradouro e bem-sucedido.
O Brasil tem um dos mercados energéticos mais promissores do mundo, mas ainda enfrenta desafios regulatórios e estruturais. Qual sua leitura sobre o momento atual e quais barreiras precisam ser superadas para acelerar a transição energética?
Acredito que não é só o Brasil que enfrenta esses desafios regulatórios e estruturais, nem é exclusivo do setor elétrico. Vivemos um momento de grande incerteza, com a velocidade da evolução tecnológica e o fluxo de informações cada vez mais rápidos.
Isso exige uma agilidade maior para analisar dados e tomar decisões assertivas. A tecnologia avança sem esperar, alterando rapidamente o status quo, e quem não acompanha essa velocidade acaba ficando para trás.
No que diz respeito à transição energética, o Brasil tem um grande potencial, principalmente com a energia solar e eólica, que apresentam custos competitivos e enorme capacidade de crescimento.
No entanto, um dos principais desafios dessas fontes renováveis é a intermitência, algo que as fontes tradicionais, como a energia hídrica e térmica, não enfrentam da mesma forma. A hidrelétrica, por exemplo, tem um reservatório que permite controlar a geração, e a térmica depende de combustível, o que garante maior previsibilidade.
Já as fontes renováveis, como solar e eólica, são mais imprevisíveis, o que exige soluções para garantir uma oferta estável de energia. A grande barreira que precisamos superar é o armazenamento de energia. Precisamos encontrar formas otimizadas de armazenamento, de modo que as fontes intermitentes possam ser aproveitadas ao máximo.
Outro grande desafio é a integração da matriz elétrica com a matriz energética, que inclui outras formas de demanda, como o transporte e processos industriais, que ainda dependem de fontes poluentes.
Acredito que a tecnologia mais promissora para criar essa conexão é o hidrogênio, mas, no Brasil, temos alternativas como o etanol e os biocombustíveis, que também podem contribuir significativamente para essa transição.
Na minha visão, o maior desafio está na matriz energética, não tanto na elétrica. Se conseguirmos resolver a questão do armazenamento, a matriz elétrica, com o uso de fontes renováveis, tem o potencial de contribuir para uma matriz energética mais limpa e sustentável como um todo.
O Canal Solar vem expandindo sua cobertura para outras fontes renováveis além da solar. O mercado está pronto para essa diversificação? Quais fontes têm maior potencial de crescimento nos próximos anos?
Sim, acredito que o Canal Solar está pronto para ampliar sua cobertura e abordar outras fontes renováveis. Uma das minhas metas é justamente ajudar a trazer mais atenção para essas fontes, além da solar. O Brasil, por exemplo, já tem uma longa trajetória com a energia hídrica, que continua sendo fundamental no nosso setor energético.
Estou atualmente participando de um evento sobre pequenas centrais hidrelétricas, que possuem uma característica semelhante à solar, sendo compostas por empresas menores e muitas vezes com fornecedores nacionais, o que é um grande diferencial. O Brasil tem sido uma referência mundial no desenvolvimento de usinas hidrelétricas, especialmente as de pequeno porte.
Além disso, temos o biogás, que está ganhando espaço em diversos setores, desde grandes projetos até iniciativas no agro e até mesmo a utilização de resíduos de aterros sanitários. O biometano, derivado do biogás, tem um enorme potencial, especialmente em um país com uma grande produção agrícola como o Brasil.
Embora o Canal Solar tenha esse nome que remete diretamente à energia solar, é importante destacar que o “solar” aqui não se limita apenas ao sol, mas ao princípio de energia limpa. O sol, de fato, é a fonte primária de energia no nosso planeta, pois ele influencia diretamente as outras fontes renováveis.
Ele desencadeia a evaporação da água, que alimenta as hidrelétricas, e também faz a fotossíntese nas plantas, que alimentam o ciclo da vida. Portanto, todas as fontes de energia renováveis têm alguma relação com o sol, e o Canal Solar tem uma vocação natural de cobrir todas essas fontes.
Quanto ao potencial de crescimento, acredito que a energia solar continua sendo a principal tecnologia disponível hoje. No entanto, ela precisa ser acompanhada de soluções que ajudem a mitigar a intermitência, como as baterias e outras soluções complementares à matriz brasileira.
A energia hídrica, por exemplo, tem a capacidade de funcionar como uma “bateria natural”, com usinas que podem regular o fluxo de água conforme a necessidade de energia. Também existem tecnologias como as hidrelétricas reversíveis, que aproveitam o excesso de energia solar em certos horários para bombear água e gerar energia quando a produção solar é menor.
Então, sem dúvida, a solar será o motor principal, mas ela precisará dessas outras tecnologias e fontes para garantir a sustentabilidade e a continuidade do crescimento do setor.
Muitos especialistas apontam o armazenamento de energia e o hidrogênio verde como protagonistas da próxima década. Você concorda? Onde estão as reais oportunidades para o Brasil nesse contexto?
Sim, concordo que tanto o armazenamento quanto o hidrogênio verde têm grande potencial de protagonismo na próxima década. Já mencionei anteriormente o papel crucial do armazenamento, que, na minha visão, começará a ganhar uma relevância significativa entre 2025 e 2030.
Para que possamos avançar na transição energética, a solar é a fonte que impulsiona esse processo, mas sem uma solução robusta de armazenamento, será impossível garantir um sistema elétrico equilibrado e eficiente. O Brasil e o mundo vão demandar cada vez mais o armazenamento como uma ferramenta essencial para lidar com a intermitência das fontes renováveis, principalmente a solar.
Por outro lado, o hidrogênio verde, embora fundamental, ainda deve levar um tempo maior para se viabilizar em grande escala. Acredito que só por volta de 2030, ou até 2035, veremos uma realidade mais próxima de sua aplicação em larga escala.
O hidrogênio verde desempenha um papel importante, principalmente como uma ponte entre a matriz elétrica e a matriz energética, e também como um substituto em setores que ainda dependem de fontes poluentes. Ele será crucial para “limpar” a matriz energética global, mas o seu impacto será progressivo.
Portanto, para o Brasil, as reais oportunidades estão no desenvolvimento e implementação de soluções de armazenamento de energia, que podem ser o motor para uma expansão mais acelerada da energia solar e outras fontes renováveis.
O hidrogênio, por sua vez, será uma peça-chave mais à frente, especialmente em setores como transporte e indústria. A transição energética será impulsionada por uma combinação dessas tecnologias, mas o armazenamento e a energia solar devem ser os protagonistas nos próximos anos.
Você sempre trabalhou com dados e análises estratégicas. Na sua visão, o que os investidores ainda não perceberam sobre o mercado de energia renovável?
Embora minha experiência com dados e análises estratégicas seja mais recente, acredito que a vivência e o conhecimento profundo do mercado são essenciais para identificar tendências futuras.
O que os investidores ainda não perceberam sobre o mercado de energia renovável, na minha visão, é a velocidade com que as tendências estão mudando. Muitas vezes, eles observam o mercado e o encaram como algo já consolidado, esperando entrar no momento em que as oportunidades estão no fim – quando, na verdade, o segredo está em antecipar-se às tendências e se posicionar antes da “onda”.
Um exemplo claro disso é o armazenamento de energia. Ainda há muitos investidores que não enxergam essa área como uma disrupção iminente no mercado de energia renovável. O armazenamento, em particular, será a próxima grande mudança e trará consigo novos modelos de negócios e empresas inovadoras.
Acredito que o ecossistema da energia solar tem tudo para aproveitar essa oportunidade, mas precisa abandonar uma visão mais conservadora e se abrir para o novo. Empresas que souberem se adaptar rapidamente às mudanças e identificar essas oportunidades serão as que irão prosperar no futuro.
Então, para mim, o grande desafio para os investidores é perceber a latência dessa revolução no armazenamento e como ela pode transformar o mercado como um todo.
Existe uma mudança no perfil dos profissionais do setor. Hoje, não basta apenas ter conhecimento técnico—é preciso entender mercado, inovação e até mesmo comunicação. Como você vê essa nova geração que está entrando no setor energético?
Ericka, você tocou em um ponto essencial. Eu não diria que houve uma mudança radical no perfil do profissional, mas sim uma adaptação à forma como a economia e o mercado estão se organizando atualmente.
Hoje, vemos uma predominância de pequenas empresas, muito mais do que grandes corporações, e isso demanda profissionais com um perfil mais abrangente.
Esses profissionais precisam ter uma sólida base técnica para coordenar equipes especializadas, mas também devem ter uma visão financeira para identificar as oportunidades no mercado, além de uma noção jurídica para coordenar os aspectos legais quando necessário.
Em suma, o profissional do futuro no setor energético precisa ser mais generalista, capaz de gerenciar diferentes áreas e coordenar especialistas para executar com eficiência.
Além disso, a capacidade de aprender rapidamente novas tecnologias e se adaptar às novas formas de trabalho é crucial. Vejo hoje, por exemplo, a inteligência artificial ganhando cada vez mais espaço, e quem não a adotar provavelmente ficará para trás.
O profissional precisa estar antenado às novas tendências, como as redes sociais, para se manter atualizado e também ser mais ativo nesse meio, o que é uma tendência crescente em todos os setores.
Portanto, o profissional do setor energético precisa ser dinâmico, flexível e estar alinhado com as inovações do mercado, tornando-se um ponto de referência para as equipes e projetos em que estiver envolvido.
Investidores estão cada vez mais atentos às oportunidades no setor de energia. Quais são os maiores erros que eles cometem ao entrar nesse mercado?
Olha, Ericka, o principal erro que vejo, especialmente entre novos investidores ou aqueles de empresas menores querendo entrar no setor, é a falta de preparação e a tentativa de fazer tudo por conta própria.
O mercado de energia, especialmente o solar, é muito complexo e exige uma análise detalhada e conhecimento profundo. Quando os investidores não buscam assessoria qualificada ou tentam entrar sem se capacitar, o risco de cometer erros se torna muito maior.
O maior erro, na minha visão, é a falta de diligência. Investir em energia renovável não é como investir em qualquer outro setor—é um negócio de longo prazo, com inúmeras regras, regulamentações e variáveis envolvidas. Ignorar isso pode levar a prejuízos consideráveis. O conhecimento é, sem dúvida, a chave para evitar esses erros.
O custo de obter essa informação é muito pequeno em comparação com o prejuízo que um erro de investimento pode gerar. Por isso, quem quer entrar nesse mercado precisa valorizar o conhecimento especializado e garantir que esteja bem assessorados. O investimento errado, por falta de preparação, pode ser muito mais caro do que o custo de se capacitar antes de agir.
Se pudesse deixar um insight estratégico para empresas e profissionais que querem crescer no mercado de energia, qual seria?
Olha, o principal insight que eu deixo é: invista em conhecimento e capacitação. Hoje, a informação está mais acessível do que nunca, com cursos e conteúdos que aceleram o aprendizado. Quando comecei, não era assim. Eu tinha que correr atrás das informações e aprender sozinho. Agora, o processo de aprendizado pode ser muito mais ágil, então aproveitem essa oportunidade.
Outro ponto importante é se cercar de bons profissionais. Não adianta tentar fazer tudo sozinho, principalmente em um setor como o de energia, que é complexo e exige muito conhecimento técnico e regulatório. Montar uma boa equipe é crucial. Isso diminui as chances de erros e aumenta as chances de sucesso, porque você estará cercado de pessoas que sabem o que estão fazendo.
Eu também diria que o conhecimento não é caro. Muitas vezes, as pessoas pensam que investir em consultoria, cursos ou treinamento é um gasto, quando, na verdade, é um investimento que pode evitar prejuízos muito maiores lá na frente.
Além disso, uma parte mais pessoal que eu vejo como fundamental é a questão da consistência. O mercado de energia é de longo prazo, e o sucesso não vem de um dia para o outro. Por isso, é importante estar presente todos os dias, fazendo o que precisa ser feito, sem esperar por recompensas imediatas. O sucesso vem quando você é constante e acredita no seu potencial, mesmo sem ver resultados imediatos.
Por fim, eu diria que o segredo é ter paciência e ser resiliente. A carreira e o mercado são uma maratona, e quem persevera chega longe. Então, meu conselho é: invista em conhecimento, seja constante e tenha confiança em si mesmo.
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