Brasil constrói mais termelétricas do que usinas solares

País deverá registrar a entrada de 4,2 GW de potência térmica nos próximos anos
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Apesar do crescimento da energia solar na matriz elétrica brasileira, o país segue apresentando previsões controversas e que caminham na direção contrária ao que pensam as principais nações do mundo, que são unânimes na defesa da descarbonização do planeta por meio de investimentos em fontes renováveis. 

No Brasil, segundo dados apurados pelo Canal Solar junto a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), existe, para os próximos anos, uma previsão de entrada de mais de 4,2 GW de potência instalada gerada a partir da construção de usinas térmicas. 

Trata-se de um montante quase duas vezes maior do que os 2,6 GW de potência solar previstos para serem incrementados futuramente na matriz elétrica brasileira. O volume termelétrico citado só não é maior do que os estimados para a energia eólica, com 4,9 GW. 

Atualmente, 58 dos 306 empreendimentos de geração de energia centralizada em construção iniciada no Brasil são de termelétricas, o que representa cerca de 20% do total, destacam os dados da ANEEL.

Bernardo Marangon, especialista em mercados de energia elétrica e diretor da Exata Energia, explica que a quantidade de potência térmica a ser instalada no país, num horizonte próximo, possui relação direta com a realização de leilões de energia realizados no passado, num momento em que a solar estava se tornando uma realidade no país. 

“A energia térmica é uma tecnologia que já está a bastante tempo funcionando no Brasil. E, os grandes leilões que tivemos, com grandes volumes envolvidos, aconteceram num período em que a energia solar ainda estava começando. Por isso, é que temos essa diferença”, disse ele.

Projetos outorgados

De acordo com as informações da ANEEL, a fonte solar possui um destaque maior em relação às usinas térmicas quando o assunto envolve empreendimentos outorgados. Atualmente, 538 dos 858 (62,7%) projetos de geração de energia centralizada em construção não iniciada no país são fotovoltaicos. 

“Os empreendimentos outorgados mostram bem o que pode vir a ser o futuro. Estamos vivendo hoje, uma transição de como viabilizar esses projetos de geração, o que pode dificultar um pouco o crescimento da fonte solar. No entanto, eu diria que o mercado está amadurecendo”, ressaltou Marangon. 

Para o diretor da Exata Energia, é fundamental que o Brasil tenha nos próximos anos uma matriz elétrica mais bem distribuída, tendo em vista que, nos dias atuais, mais de 60% dela é composta por usinas hídricas. 

“É importante termos todas as fontes mais bem distribuídas na nossa matriz, ainda mais agora que estamos percebendo que as hidrelétricas, em função das mudanças climáticas, não estão conseguindo mais ter a vazão necessária para garantir segurança de abastecimento”, destacou.

Planejamento

Em junho deste ano,  o diretor-geral da ANEEL, André Pepitone, disse que a autorização para o uso de toda disponibilidade de usinas termelétricas no país, neste ano, para evitar o desabastecimento de energia, em meio a crise hídrica, terá um custo adicional de cerca de R$ 9 bilhões aos consumidores brasileiros. 

Trata-se de um valor que poderia ter sido evitado se o país tivesse se planejado melhor, destaca Marangon. “No planejando não foi considerado os efeitos das mudanças climáticas nas vazões das usinas hídricas. Esperava-se que houvesse uma recuperação dos reservatórios, de acordo com o histórico de longo prazo de vazões. Porém, nos últimos dez anos nós não temos atingido a média de longo prazo nas principais bacias”, explicou. 

Imagem de Henrique Hein
Henrique Hein
Atuou no Correio Popular e na Rádio Trianon. Possui experiência em produção de podcast, programas de rádio, entrevistas e elaboração de reportagens. Acompanha o setor solar desde 2020.

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