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Como saber se o DPS precisa ser substituído?

Entenda como identificar o momento em que o DPS precisa ser trocado

Autor: 26 de novembro de 2020julho 27th, 2021Artigos técnicos
8 minutos de leitura
Como saber se o DPS precisa ser substituído?

Durante o webinário “Stringbox: normas e boas práticas”, realizado em 10 de novembro, foi aborda, entre outros temas, a importância do DPS (dispositivo protetor de surto) nas instalações fotovoltaicas. O webinário apresentado teve um foco muito grande na importância da stringbox externa e um dos aspectos abordados foi a facilidade que ela oferece para a manutenção do protetor de surto, em oposição ao DPS interno encontrado em alguns inversores. Uma conclusão importante é que a presença do DPS interno no inversor fotovoltaico é benéfica, mas podemos nos beneficiar de mais segurança quando existe um DPS externo, desde que ele seja coordenado com o interno. A apresentação, bem como o artigo “Stringbox com DPS é necessária ou não? O que diz a NBR 16690?” ressaltou a necessidade de manutenção do DPS quando o dispositivo chega ao final da vida útil. Uma dúvida, que ainda acomete muitos profissionais do mercado, acabou sendo levantada: como saber se chegou o momento de substituir o DPS?

Tipos de DPS

Antes de responder à dúvida, vamos relembrar que existem três tipos ou classes de protetores de surto que podemos empregar nas instalações fotovoltaicas e elétricas em geral: I, II e III. Os protetores de surto são classificados de acordo com os métodos de ensaio de desempenho, conforme a norma NBR IEC 61643-1 – Dispositivos de proteção contra surtos em baixa tensão. Os dispositivos de classe I são recomendados para locais de alta exposição a surtos eletromagnéticos diretos, como linhas de entrada de locais protegidos por SPDA (sistema de proteção de descargas atmosféricas). Os dispositivos de classes II e III são adequados para impulsos de menor duração e são recomendados para locais com menor exposição, normalmente no interior de instalações ou locais que vão receber indiretamente os efeitos das descargas atmosféricas. Os protetores de surto de classe I são normalmente do tipo “comutador de tensão”, conforme definição da NBR IEC 61643-1. Esses dispositivos apresentam alta impedância (circuito aberto) quando nenhum surto está presente e são comutados rapidamente para o estado de baixa impedância (circuito fechado) em resposta a um surto. Nesta categoria enquadram-se os protetores baseados em centelhadores e outros dispositivos de comutação “curto-circuitantes”, que têm um comportamento do tipo aberto ou fechado. Os protetores de classes II e III são do tipo “limitador de tensão”, também conforme a terminologia encontrada na norma. Esses dispositivos apresentam alta impedância (circuito aberto) quando nenhum surto está presente, mas reduzem continuamente a impedância com o aumento do surto eletromagnético. Esses dispositivos podem ser baseados em varistores (classe II) ou diodos zener (classe III), que fazem o fechamento gradual do circuito de desvio para a terra conforme a intensidade do surto presente em seus terminais.

Figura 1: Elementos internos dos protetores de surto das classes I, II e III.

Figura 1: Elementos internos dos protetores de surto das classes I, II e III.

O DPS de classes II e III são usados como complementos de proteção em locais já atendidos por um DPS de classe I. Nas instalações em geral é muito comum o uso somente do DPS de classe II em locais de baixa exposição, com distâncias de no máximo 10 metros do equipamento a ser protegido. O DPS de classe III é usado sempre próximo ao equipamento a ser protegido. É o que oferece o menor grau de proteção, sendo usado em situações de baixíssima exposição ou em coordenação com dispositivos das demais classes.

Varistor: o elemento atuante do DPS classe II

O DPS classe II é adotado na totalidade dos sistemas fotovoltaicos, tanto na string-box CC como no quadro de conexão CA. Ele tem a função de proteger principalmente o inversor, que é um componente caro e sensível do sistema fotovoltaico. O DPS pode ser também encontrado dentro do próprio inversor – neste caso, pode ser coordenado com um DPS externo, o que aumenta a proteção e torna mais fácil a manutenção, como comentamos no início do artigo.

Figura 2: DPS de classe II localizado no interior de um inversor fotovoltaico (Solis 125K 5G), fazendo a proteção da entrada de corrente contínua. Fonte: Solis

Figura 2: DPS de classe II localizado no interior de um inversor fotovoltaico (Solis 125K 5G), fazendo a proteção da entrada de corrente contínua. Fonte: Solis

O elemento atuante do DPS classe II é o varistor, que é um componente eletrônico que apresenta uma impedância variável em função do nível de tensão encontrado em seus terminais. O varistor se apresenta praticamente como um circuito aberto quando a tensão sobre ele é pequena, mas gradualmente converte-se para um circuito fechado conforme a tensão se eleva. Esse comportamento faz com que ele seja um dispositivo limitador de tensão, capaz de limitar sobretensões e desviar correntes elétricas transitórias presentes nas instalações elétricas.

Figura 3: imagem de um varistor de óxido metálico, componente eletrônico que funciona como um grampeador de tensão. Fonte: Wikipedia

Figura 3: imagem de um varistor de óxido metálico, componente eletrônico que funciona como um grampeador de tensão. Fonte: Wikipedia

Verificação do estado do DPS

Agora que sabemos o que há dentro do DPS de classe II, vamos responder à pergunta inicial do artigo: como saber se o DPS precisa ser substituído? É difícil saber quando e como o DPS vai atuar e com que velocidade ele vai se desgastar, pois isso depende da frequência e da intensidade dos surtos causados por descargas atmosféricas ou outras causas (como manobras da rede de distribuição de energia elétrica) no local onde o dispositivo é empregado. Após sucessivas atuações o varistor vai se desgastando e precisa ser reposto, quando sua impedância e sua capacidade de limitação de tensão já são reduzidas. Um DPS à base de varistor pode conduzir entre 10 e 20 vezes sua corrente nominal e uma ou duas vezes sua corrente máxima [2]. Nos protetores comerciais o varistor é localizado em um módulo removível, que pode ser substituído, como mostra a figura abaixo. Uma janela de sinalização de estado indica a situação do dispositivo. Um sinal verde significa que o dispositivo ainda se encontra dentro da validade, ao passo que uma sinalização vermelha indica que o DPS já não oferece qualquer proteção e precisa ter o seu varistor substituído.

Figura 4: Módulo com varistor removível e janela de sinalização de estado de um DPS de classe II para aplicação fotovoltaica. Fonte: DEHN/Proauto

Figura 4: Módulo com varistor removível e janela de sinalização de estado de um DPS de classe II para aplicação fotovoltaica. Fonte: DEHN/Proauto

A figura abaixo ilustra o funcionamento do dispositivo de sinalização de estado do DPS. Mais do que sinalizar o estado, o mecanismo mostrado na figura tem a função de isolar o varistor da instalação elétrica quando este atinge o final da sua vida útil, impedindo que ele se sobreaqueça e origine um incêndio. O princípio de funcionamento do sistema é a abertura de um contato por meio do derretimento de um ponto de solda. Quando o varistor tem sua impedância diminuída, uma corrente começa a circular pelo dispositivo mesmo na ausência de surtos de tensão. Quando a intensidade da corrente atinge um nível crítico o contato se abre pela pressão de uma mola, isolando o dispositivo e provocando simultaneamente a mudança da posição da bandeira de sinalização (elemento verde na figura abaixo).

Figura 5: Sistema de abertura do varistor e de sinalização do estado do DPS. Fonte: DENH/Proauto

Figura 5: Sistema de abertura do varistor e de sinalização do estado do DPS. Fonte: DENH/Proauto

Um detalhe chama a atenção na figura acima: a presença de um fusível de extinção segura de arco elétrico junto ao varistor. Este elemento não é encontrado em todos os protetores de surto disponíveis no mercado, mas sua presença é desejável para evitar a formação de arco elétrico no momento da abertura do contato. Esse recurso consiste em uma proteção adicional para as instalações que empregam DPS de classe II.

Aprenda mais

Você pode se interessar também por estes artigos publicados no Canal Solar:

Referências

  • [1] NBR IEC 61643-1 – Dispositivos de proteção contra surtos em baixa tensão – Parte I
  • [2] Especificação de DPS – Boletim Obo Bettermann – Eng. Sérgio Roberto Santos
  • [3] Dispositivos de Proteção contra Surtos (DPS) – O Setor Elétrico – Outubro, 2012 – Eng. Sérgio Roberto Santos
Marcelo Villalva

Marcelo Villalva

Especialista em sistemas fotovoltaicos. Docente e pesquisador da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da UNICAMP. Coordenador do LESF - Laboratório de Energia e Sistemas Fotovoltaicos da UNICAMP. Autor do livro "Energia Solar Fotovoltaica - Conceitos e Aplicações".

Um comentário

  • Marco Antônio Garcia de Aguiar disse:

    Muito obrigado, por este artigo, ele o é e muito elucidativo e, também evidência a importância de seu uso e, sua capacidade de proteções de circuitos e de seus usuários e, também se torna muito vantajoso por todas as suas características técnicas e, sempre observadas suas proteções nas prospecções de projetos elétricos.

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