O Copom (Comitê de Política Monetária) manteve a taxa Selic, juros básicos da economia, em 13,75% ao ano. A decisão já era esperada pelos analistas financeiros. Segundo o comitê, a queda da inflação contribuiu para interromper o ciclo de alta dos juros após um ano e meio de reajustes seguidos.
Em comunicado, o Copom informou que continuará monitorando a economia e poderá voltar a subir a taxa Selic caso a inflação não caia como esperado.
“O comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, destacou o texto.
E como a taxa Selic impacta o mercado de geração distribuída solar?
Atualmente, cerca de 57% das vendas de sistemas fotovoltaicos no país para o segmento de GD são efetuadas por meio de linhas de financiamento. Por este motivo, profissionais do segmento avaliam a manutenção da taxa em 13,75% como algo positivo e analisam como o mercado deve reagir.
Carlos Bouhid, fundador da Suney, esclarece como a taxa Selic interfere nos financiamentos para energia solar. “Primeiro, porque o custo de captação de várias financeiras está atrelado ao CDI e isso, consequentemente, é repassado ao consumidor final. Segundo, porque outros investimentos de renda fixa e de menor risco se tornam mais atrativos, reduzindo o risco de alguns investidores por esse tipo de ativo”, analisa.
Microgeração representa mais de 99,2% dos sistemas de GD solar no Brasil
Jackson Chirollo, CEO da Edmond, relembra que o setor fotovoltaico passou por uma moderada redução de demanda no início deste porque muitos brasileiros tiveram que renegociar taxas de juros de financiamentos já aprovados e, em alguns casos, tiveram desistências e postergações para execução dos projetos.
Por outro lado, Antonio Nuno Verças, CEO da Sol Agora, ressalta que, além da taxa Selic, é preciso olhar para o spread, que é a diferença entre o preço de compra e venda de uma ação.
“Entendemos que é mais relevante olhar para o spread e para a possibilidade de oferecer prazos um pouco mais longos e parcelas fixas do que olhar apenas as taxas, pois consideramos a aquisição de geradores de energia solar um investimento de longo prazo”, analisa.
“Tendo a capacidade de poder oferecer prazos um pouco mais longos para este tipo de financiamento, podemos diluir a parcela para encaixar na capacidade de pagamento do cliente. Mesmo com a taxa um pouco mais alta, esticando o prazo, às vezes a parcela consegue ser idêntica à fatura ou até um pouco mais baixa. Então, ter prazos mais longos é bastante importante, às vezes até mais importante que a própria taxa”, acrescenta Verças.
O CEO da Sol Agora ainda destaca que quando se avalia o investimento na aquisição de geradores fotovoltaicos, deve ser considerada a possibilidade de oferecer financiamentos com taxas fixas, pré-fixadas, que garantem ao cliente final que a parcela não vai oscilar.
“Isso assegura uma estabilidade ao longo do financiamento, ou seja, a pessoa sabe que vai pagar aquela parcela ao longo dos quatro, cinco ou seis anos, qualquer que seja o contrato, e que não terá surpresas, independentemente das variações em inflação ou taxas de juros de mercado (Selic) garantindo assim a boa previsibilidade do retorno do investimento da aquisição dos geradores”, comenta.
Verças ainda enfatiza que o financiamento de um equipamento de geração distribuída deve ser olhado como um investimento, que significará a liberdade da conta de luz em um curto espaço de tempo.
“Quanto a questão da taxa de juros final, deve ser pensada sob o viés do spread real e não da taxa de juros final. Porque se a pessoa vai deixar o dinheiro no banco, ela também terá uma remuneração mais alta do que tinha quando as taxas de juro do mercado de referência, a Selic, eram mais baixas”, conclui.
Já Bouhid destaca que a pauta ESG está em alta nas empresas e isso tem contribuído para a busca por energias renováveis, sobretudo a solar. “Os ativos com um apelo ESG continuam bem-vistos pelo mercado e acredito que mais instituições comecem a olhar para o setor, o que pode gerar maior competição e uma pressão para que as taxas não subam tanto”, completa.