O Brasil registrou o terceiro recorde consecutivo no corte de energia renovável, conforme dados do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) analisados pela Volt Robotics.
Em outubro, um total de 5,9 mil GWh de energia eólica e solar deixaram de ser gerados, resultando em um prejuízo somado de R$ 1,1 bilhão para os geradores. No caso da fonte solar o corte foi de 1,3 mil GWh, com perdas de R$ 192 milhões.
O prejuízo total acumulado dos cortes de geração de janeiro a outubro de 2025 – considerando o valor efetivo dos contratos no ambiente regulado – chega a R$5,4 bilhões.
Desde que os dados passaram a ser disponibilizados em 2021, o custo do curtailment soma R$ 8,1 bilhões. Essa situação é vista como uma crise que põe em risco a transição energética brasileira.
“Este nível de desperdício, é insustentável física e economicamente”, avaliou o diretor geral da Volt Robotics, Donato Filho, durante entrevista coletiva realizada na manhã desta quarta-feira.
O recorde histórico de curtailment em outubro totalizou 7.997 MWmed. Na perspectiva acumulada, entre janeiro e outubro de 2025, 20,4% de toda a geração eólica e solar possível foi descartada.
Este índice é 283% superior (mais que o triplo) ao registrado em todo o ano de 2024 e equivale a 10,1% do consumo total do Brasil no mês em questão.
Impacto na geração solar
As usinas solares foram severamente afetadas pelo problema. Embora os cortes tenham se concentrado principalmente na fonte eólica, a solar representou uma parcela significativa do total.
Dos 7.997 MWmed cortados em outubro, 1.710 MWmed corresponderam a usinas solares, o que equivale a 21,4% do volume total de curtailment.
Em comparação, a geração da maior usina hidrelétrica brasileira – a parte nacional de Itaipu – somou 4.587 MWmed em outubro. Os cortes de geração renovável, portanto, foram 74% maiores que a geração de Itaipu no período analisado.
As restrições se concentraram no Rio Grande do Norte, Ceará e Minas Gerais, estado mais afetado com um volume de corte de 30,8%.
Em nível de usinas individuais, foram observadas distorções nos impactos, com alguns conjuntos sofrendo cortes que chegavam a 237 MWmed, o que representou 55% do potencial de geração de algumas unidades em outubro.
Cortes ocorrem durante o dia
O perfil horário dos cortes médios de geração assemelha-se ao da geração solar, com os valores mais elevados ocorrendo durante o dia, especificamente entre 9h e 16h. Em alguns momentos, os descartes chegaram a até 38.000 MWmed. A predominância ocorre durante as manhãs, quando a geração solar é mais intensa.
A principal causa do desperdício em outubro foi a falta de consumo, classificada pelo ONS como Razão Energética (ENE). No mês passado, 50% da energia renovável cortada ocorreu por esse motivo. Esta predominância do excesso de energia nas manhãs é uma das “duas maldições diárias” que levam à situação insustentável, assinalou Donato Filho.
O problema existe, segundo o diretor geral da Volt Robotics, porque o sistema de geração cresceu rapidamente, com uma expansão muito acelerada da oferta de energia renovável, sobretudo solar.
No entanto, o planejamento, a operação e a regulação do setor não acompanharam esse avanço, resultando em uma oferta relevante de energia pela manhã que não pode ser aproveitada por falta de rede de transmissão ou falta de consumo.
Baterias como parte da solução
Durante a coletiva, Donato Filho, avaliou positivamente os dispositivos da Medida Provisória 1.304, que tratam do curtailment. Segundo ele, o texto da MP representa o primeiro passo concreto rumo à mitigação efetiva dos cortes, criando mecanismos de compensação financeira e regras mais transparentes para apuração dos eventos de restrição.
Donato destacou que a medida reconhece a natureza externa e involuntária dos cortes, determinando que os empreendimentos afetados por razões de confiabilidade ou restrições elétricas sejam ressarcidos via ESS (Encargo de Serviço do Sistema), custeado de forma equilibrada pelos consumidores. Já os cortes por sobreoferta — quando há geração acima da demanda — permanecem sob responsabilidade dos próprios geradores.
De 2026 a 2027, o diretor da Volt Robotics avalia que o setor ainda vai sofrer bastante com o curtailment. Acredita que um alívio inicial, até por questões estruturais, possa acontecer entre 2028 e 2029. Mas, para resolver o problema, a estimativa se estende por cerca de 10 anos.
Além do ressarcimento, Donato destacou outro ponto-chave da MP, o que trata da inclusão dos sistemas de armazenamento de energia como ferramenta complementar de mitigação.
Ele explicou que baterias e outras soluções tecnológicas poderão ajudar a absorver o excedente de energia renovável nos horários de menor consumo e devolvê-lo à rede nos picos de demanda, reduzindo a necessidade de cortes.
O especialista também fez uma leitura prospectiva sobre o tema. No curto prazo, prevê que os ressarcimentos ajudem a “estancar o sofrimento financeiro” dos geradores.
No médio prazo, aposta que a expansão das obras de transmissão e a integração de sistemas de armazenamento diminuam os volumes de curtailment.
Já no longo prazo, acredita que o país caminhe para uma gestão dinâmica da rede, com uso intensivo de tecnologias digitais e maior coordenação entre ONS, ANEEL e geradores.
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